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02/10/2010 - 21h32

"Defendíamos a democracia", diz amigo de jovem morto em rebelião no Equador

CLAUDIA JARDIM
ENVIADA ESPECIAL DA BBC BRASIL A QUITO

Com cápsulas de balas de alto calibre na mão e restos de bombas de gás lacrimogêneo, o estudante Carlos Torres acompanhava neste sábado o enterro do estudante Juan Pablo Bolaños, 24, morto durante a rebelião policial no Equador, na quinta feira.

"Não consigo entender que numa greve os policiais estejam armados com balas de alto calibre", contou Torres à BBC Brasil, acompanhado de um grupo de estudantes.

Bolaños foi uma das oito vítimas fatais do tiroteio ocorrido do lado de fora do Hospital Militar em Quito, quando efetivos militares tentavam resgatar à força o presidente equatoriano Rafael Correa.

O mandatário esteve cercado durante horas por policiais que se rebelaram contra o governo, gerando uma das piores crises políticas dos últimos anos.

Torres e Bolaños se conheceram na Universidade Central do Equador, na faculdade de Economia, onde estudavam. Na quinta-feira, quando os protestos da polícia se converteram em atos de violência as aulas foram suspensas.

"EVITAR GOLPE"

"Decidimos ir à manifestação para defender a democracia e evitar o golpe de Estado", relata Torres, que é presidente da Federação de Estudantes Universitários do Equador.

Os estudantes se uniram aos demais simpatizantes que cercaram o palácio de governo, na quinta-feira, em apoio ao presidente equatoriano. O protesto pró-Correa terminou no Hospital Militar, liderado pelo chanceler equatoriano Ricardo Patino, quem convocou os manifestantes a ir "resgatar o presidente".

"A manifestação era pacífica, mas, antes mesmo de chegar ao Hospital Militar, fomos reprimidos pela polícia de forma selvagem", relata o dirigente estudantil.

A violência policial teria se incrementado quando efetivos militares se aproximaram do hospital para romper o cerco ao presidente. "Quando os militares chegaram, todo mundo comemorou, porque pensamos que teríamos como nos defender", afirmou João Torres, amigo de infância de Bolaños. "Eram uns 400 policiais, pensamos que eles se renderiam e fomos atrás dos militares para entrar no hospital", complementa Carlos Torres.

"Nesse momento a polícia começou a disparar. Foi um tiroteio sem fim", relata João Torres.

João correu para se proteger e não soube mais do amigo.

Juan Carlos Bolanos foi atingido na cabeça. "Ainda não consigo acreditar no que aconteceu. Prefiro pensar que vamos jogar bola no próximo domingo", relata emocionado o jovem, que estuda para ser oficial do Exército.

CORREA

O presidente equatoriano Rafael Correa foi ao velório do estudante. Mais cedo, durante seu programa semanal, Correa pediu um minuto de silêncio em homenagem aos civis e militares mortos durante a rebelião policial.

Visivelmente consternado, Correa cumprimentou familiares e amigos de Bolanos e deixou o velório no momento do enterro.

"Desculpa, mas não posso acompanhá-los (ao local do enterro)", disse o presidente que caminhava com dificuldades apoiado em muletas, devido à operação no joelho realizada há menos de um mês.

Em resposta, um grupo de familiares e amigos do estudante gritaram "Viva Correa!".

Para o presidente da Federação de Estudantes, Carlos Torres, a manifestação contra a lei de Servidores Públicos, pivô do protesto dos policiais, "era uma desculpa", disse. "O que queriam era derrubar o presidente e depois quem sabe, instalar uma ditadura no país."

"É doloroso que Juan Pablo tenha dado sua vida. Mas não pensaremos duas vezes em sair às ruas se os policiais se rebelarem outra vez", disse. "Não vamos permitir que tomem o poder à força, vamos defender a democracia", afirmou.

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