Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/09/2012 - 11h21

Modelo matemático ajuda a prever embates no Afeganistão

Publicidade

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Dois estudos, um deles usando dados vazados pelo WikiLeaks, demonstraram que é possível prever o desenrolar de conflitos armados, indicando que mesmo em uma atividade tão caótica quanto a guerra é possível encontrar padrões subjacentes.

Os resultados contrariam uma clássica definição do famoso militar prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831) que escreveu um livro fundamental, "Da Guerra". Para Clausewitz, "a guerra é a província da incerteza, três quartos daquelas coisas sobre as quais a ação na guerra deve ser calculada estão escondidos mais ou menos em uma nuvem de grande incerteza".

A equipe de Guido Sanguinetti, da Universidade de Edimburgo, Reino Unido, usou cerca de 77 mil registros de combates e outros incidentes, como atentados a bomba, compilados pelo Exército dos EUA no Afeganistão entre 2004 e 2009 e vazados pelo WikiLeaks.

Sgt. Alison Baskerville/Mod Army
Atirador com cão no Afeganistão
Atirador com cão no Afeganistão

Eles usaram um complexo modelo estatístico localizando os incidentes no tempo e no espaço e com base nos dados prévios puderam prever, e acertar, onde haveria maior atividade dos insurgentes em 2010.

Os incidentes foram raros em algumas províncias; outras, como Helmand, eram particularmente violentas. O aumento na atividade dos insurgentes lembrava um anel circulando o país. O estudo foi publicado em edição recente da revista científica americana "PNAS".

"Nós fizemos um enfoque puramente estatístico. Nossa pesquisa foi basicamente definida pela curiosidade e tivemos sorte. Aconteceu de estarmos trabalhando com estatísticas espaço-temporais quando os dados do WikiLeaks foram divulgados, e queríamos saber se nossos métodos poderiam extrair informação dos dados"; disse Sanguinetti à Folha.

Quanto a aplicações práticas dos resultados, ele diz que é difícil dizer, pois eles não são especialistas em contra-insurgência. Mas eles acham que, como os dados coletados em conflitos tendem a aumentar, a modelagem estatística avançada tenderá a ter o seu papel prático.

O outro estudo foi publicado antes na revista científica "Science" e analisou 3.143 atos terroristas cometidos entre 1968 e 2008 por 381 diferentes organizações, que resultaram em mortes de pessoas. Também foram incluídas as atividades armadas no Iraque e Afeganistão e ataques suicidas com bombas.

A equipe do físico Neil Johnson, da Universidade de Miami, EUA, concluiu que, quando dois grupos armados se enfrentam, a escalada de ataques segue um padrão que pode ser detectado com uma fórmula matemática baseada no intervalo de tempo entre os dois primeiros incidentes.

Assim como em toda atividade humana, é a prática que leva à perfeição; os ataques aumentam com o tempo, mas as forças da contra-insurgência reagem, em um processo de adaptação e contra-adaptação que lembra a "corrida armamentista" na natureza entre parasitas e hospedeiros, a chamada "hipótese da Rainha Vermelha".

A rainha é personagem de uma das obras de Lewis Carroll, "Alice Através do Espelho". Segundo ela, "você precisa correr muito para ficar no mesmo lugar". É o que acontece com parasita e hospedeiro, insurgente e contra-insurgente.

"Nosso artigo na 'Science' identificou padrões curiosos na escalação e de-escalação de eventos em conflitos", disse Johnson à Folha. "Nós achamos que isso é um resultado direto da luta entre os dois lados, que lembra a corrida da Rainha Vermelha", afirma o pesquisador.

Segundo Johnson, o artigo de Sanguinetti e colegas basicamente "redescobriu os mesmos padrões que nós identificamos no conflito no Afeganistão, mas eles usam uma lente de medida desnecessariamente complicada".

"Resumindo: quando se sabe que padrões existem em conflitos, em particular padrões de escalação, graças ao nosso artigo na 'Science', e se você conhece o padrão, pode dizer que há algum elemento de previsibilidade, pelo menos em termos de tendência", afirma o físico.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página