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08/10/2010 - 17h27

Bolsas de pesquisa mais fartas não atraem candidatos para pós-doutorado

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SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A formação de 10 mil doutores por ano é vista como uma das principais vitórias do investimento em ciência no Brasil. Mas esse feito pode naufragar sem a fase seguinte: a do pós-doutorado.

Para especialistas, os pós-doutores (ou pós-docs, como são conhecidos) são os grandes responsáveis por alavancar a produção científica nos países desenvolvidos. O Brasil, no entanto, ainda não reúne dados oficiais sobre quantos pós-doutores (com ou sem bolsa de agências que financiam pesquisa) circulam por aqui.

O que se sabe é que Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) têm juntas 3.237 bolsistas no pós-doutorado espalhados pelo país (veja mapa).

Mas a matemática é difícil de fechar. No Brasil, 66% dos doutores titulados em 2006 nos melhores programas de pós-graduação estavam empregados em 2008. Mas tanto esses quanto os 34% que não estavam formalmente trabalhando no período podem estar fazendo pesquisa no pós-doutorado.

As políticas de incentivo à formação máxima do pesquisador, como aumento de bolsas de pós-doc e do seu valor mensal, são recentes.

Na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), a quantidade de bolsas nessa categoria dobrou entre 2006 e 2010 e o valor mensal é considerado atrativo: R$ 5.028. Capes e CNPq lançaram juntas um programa nacional para incentivar esse nível de formação na pós-graduação em 2007.

"Os departamentos das melhores universidades do mundo exigem experiência como pós-doc e contam isso como item importante nos concursos", analisa Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.

Como alguns concursos públicos no Brasil não pedem que o candidato tenha experiência de pesquisa no pós-doutorado, os candidatos podem acabar seguindo direto do doutorado para o mercado de trabalho.

Para o pró-reitor de pós-graduação da USP, Vahan Agopyan, aumentar o número de pesquisadores no pós-doutorado é importante para ter uma ciência competitiva. "O pesquisador deixa de ser estudante e se torna um profissional no pós-doutorado", afirma Agopyan.

Essa sensação de "profissionalismo" na pesquisa é descrita pela fonoaudióloga Keila Knobel. Ela deixou seu consultório no início do ano para fazer pesquisa no pós-doutorado na Unicamp.

Bolsista da Fapesp, ela se dedica exclusivamente às suas atividades de pesquisa. "Hoje sou vista como cientista profissional. Tenho liberdade para escolher meus temas de pesquisa e os congressos dos quais quero participar", conclui Knobel.

AMAPÁ NÃO TEM NENHUM BOLSISTA PÓS-DOUTORADO

Que as regiões Norte e Nordeste contam, em números absolutos, com menos recursos para fazer ciência não é novidade. Mas a distribuição de bolsas para pesquisa no nível máximo, de pós-doutorado, revela uma desigualdade ainda maior.

O estado do Amapá, na região Norte, é o único que não conta com nenhum bolsista de pesquisa no pós-doutorado apoiado pela Capes ou pelo CNPq. São Paulo, no outro extremo (rico) do país, concentra o apoio mais intenso dessas mesmas instituições para o pós-doc: são, no total, 884 bolsas.

A institucionalização da atividade científica no Amapá é recente. Em janeiro, o governo daquele Estado anunciou a criação da Fapeap (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amapá), equivalente à paulista Fapesp.

Também chamada de Fundação Tumucumaque, a Fapeap teve aporte inicial de cerca de R$ 300 mil para iniciar as atividades. Na quinta-feira, a Folha tentou contato com o governo do Amapá para saber no que esse dinheiro está sendo aplicado, mas não foi atendida.

Editoria de Arte/Folhapress
 

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