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19/10/2012 - 18h05

Gestos e posturas dão pistas para diagnosticar e tratar depressão

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MARCO VARELLA
ENVIADO ESPECIAL A VIENA

A observação detalhada do comportamento não verbal de pessoas depressivas possibilita melhores diagnósticos e prognósticos clínicos. Esse foi o resultado obtido pela psicóloga e etóloga brasileira Juliana Fiquer, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Instituto de Psiquiatria da USP.

O estudo foi apresentado na 21ª Conferência Bienal de Etologia Humana em Viena, na Áustria. A pesquisadora está trazendo a observação de gestos e posturas, um método de estudos consagrado na etologia animal e humana, para dentro da clínica psiquiátrica.

"A clínica psiquiátrica moderna apoia-se na descrição verbal do paciente sobre seus sintomas para realização de diagnósticos e formulação de tratamentos. Similarmente, a psicologia clínica baseia-se na fala dos pacientes, como forma de ter acesso a processos emocionais que prejudicam o indivíduo", disse Juliana à Folha.

A ideia não é substituir, mas sim complementar as estratégias diagnósticas. "Sabe-se que muitos dos processos psíquicos subjacentes a quadros psicopatológicos estão associados a mecanismos ou vivências emocionais inconscientes, difíceis de serem percebidos e narrados pelas pessoas", ressalta Juliana.

Daí a importância de se considerar o que o movimento e a posição do corpo têm a dizer. "A comunicação não verbal é uma via privilegiada de transmissão de intenções sociais e sentimentos, com baixa possibilidade de controle consciente."

O ESTUDO

Juliana mostrou a importância de considerar o aspecto não verbal do comportamento no diagnóstico de psicopatologias com um estudo de observação.

Ela filmou consultas clínicas de 40 pacientes com sintomas depressivos, que também responderam a um questionário sobre o grau desses sintomas.

A filmagem e a resposta ao questionário foram feitas antes e depois de os pacientes serem submetidos a um tratamento de estimulação magnética transcraniana --procedimento em que um pequeno aparelho gerando um campo magnético é aproximado de regiões específicas da cabeça.

Isso ativa ou desativa os circuitos elétricos de grupos neuronais de interesse.

Ela construiu um etograma --um inventário explicativo-- descrevendo em detalhes tipos de gestos, olhares e movimentos de cabeça.

Assim, ela pôde quantificar tipos de comportamentos não verbal e testar se a frequência deles previa a severidade do caso e a melhora ao longo do tratamento.

No geral, a maior presença de sinais de engajamento social antes do tratamento indicou baixos níveis de depressão, melhora clínica futura e períodos depressivos curtos.

"Comportamentos não verbais como, por exemplo, o levantar de sobrancelhas, movimentos afirmativos com a cabeça apresentados pelos pacientes durante entrevistas clínicas iniciais, indicam quadros menos graves da doença."

"Em contrapartida, o silêncio persistente dos pacientes, que pode ser tomado como um sinal de isolamento e desinteresse social, associa-se com quadros mais graves de depressão, com pior prognóstico", diz a pesquisadora.

IMPLICAÇÕES

Juliana ressalta que "o interessante é que o estudo em comunicação não verbal remete à retomada de uma ideia da medicina antiga --a importância do olhar do clínico sobre o paciente".

"Quando os pacientes melhoram, há um aumento de contato ocular e de outros comportamentos sugestivos de proximidade interpessoal, além de diminuição de características faciais relacionadas a sentimentos negativos, tais como boca curvada para baixo e testa franzida."

Com seu estudo, ela mostrou que a comunicação não verbal de pacientes deprimidos "é uma dimensão importante para avaliação diagnostica e prognóstica da depressão, assim como para mensuração de melhora clínica durante a realização de tratamentos antidepressivos".

Ela conclui destacando que "a possibilidade de profissionais da saúde estarem atentos e treinados para também interpretar a forma como o paciente se expressa por meio de indicadores não verbais oferece uma ferramenta adicional em contextos clínicos que pode potencializar o trabalho psiquiátrico e psicoterapêutico, resultando em tratamentos mais eficientes".

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