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06/12/2010 - 18h08

Cirurgia separa siamesas que viveram 10 meses grudadas pelo abdome

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CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Por dez meses, as gêmeas siamesas Kauany e Keroly estiveram ligadas pelo fígado, estômago, intestino grosso e sistemas genital e urinário.

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Também dividiam os mesmos órgãos genitais. Na última segunda, deixaram de fazer parte uma da outra.

As meninas foram separadas em uma complexa cirurgia que durou 12 horas e envolveu 20 profissionais-entre cirurgiões, anestesistas e enfermeiros- do ICr (Instituto da Criança) do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Venceram o segundo round da luta pela vida: 40% dos bebês que nascem grudados não resistem à separação. O primeiro, já havia sido ganho no útero: só 50% dos siameses nascem vivos.

A Folha acompanhou o drama das gêmeas nos últimos dez dias, desde que chegaram ao HC com os pais, Selma e Jorge Miranda da Penha. Viajaram 2.000 km do sítio onde moram, no Vale do São Domingos (a 491 km de Cuiabá, no MT) até SP.

A mãe descobriu que esperava siamesas no quinto mês de gestação. "O médico disse que via apenas um corpo, três pernas e duas cabeças.

Na hora, pensei que fosse defeito do ultrassom", lembra Selma, 32, também mãe de um casal de gêmeos de cinco anos e de um garoto de 11.

Gêmeos com esse tipo de anomalia são chamados isquiópagos (unidos pelos ísquios, ossos que apoiam o corpo) triplos (três pernas).

Joel Silva/Folhapress
As siamesas Keroly e Kauany, de 10 meses, antes da cirurgia
As siamesas Keroly e Kauany, de 10 meses, antes da cirurgia

PRÓTESES

Na cirurgia de separação, a terceira perna, malformada, foi amputada. A pele serviu de enxerto para fechar o local da cirurgia. Cada uma ficou com um membro.

No futuro, Kauany e Keroly deverão usar próteses (pernas mecânicas). Também serão necessárias cirurgias reparadoras para o intestino (hoje, usam bolsa de colostomia), o reto e a vagina. Ainda não há prazo.

Segundo Selma, quando a anomalia foi diagnosticada, seu obstetra chegou a sugerir a interrupção da gravidez.

Católica, a mãe recusou a possibilidade. "Já tinha um amor imenso por elas." As meninas nasceram em Cuiabá, por meio de cesárea, no oitavo mês de gestação.

Começava ali um outro drama: separar ou não separar as filhas? Em ambas alternativas, havia risco de morte. "Foi uma decisão muito difícil. Mas que tipo de vida elas teriam se continuassem grudadas?", dizia a mãe, chorando, ao entregá-las na porta do centro cirúrgico. A cena emocionou a todos.

Mães de outras crianças internadas abraçaram Selma e entregaram orações. Na terça, um susto. Keroly apresentava febre de 40ºC.

"As 72 horas após a cirurgia são cruciais", explicava o cirurgião Uenis Tannuri, chefe do serviço de cirurgia pediátrica do ICr e responsável pela operação das meninas.

Na quarta à tarde, a febre tinha cedido. Na quinta, ambas já estavam bem e respiravam sem ajuda de aparelhos. Amanhã, devem ser transferidas da UTI pediátrica para a enfermaria. Ainda não há previsão de alta.

Estima-se que a prevalência de siameses seja de um a cada grupo de 100 mil nascidos vivos. Por essas projeções, nasceriam por ano no país 27 gêmeos nessa condição -a maioria morre. Segundo Tannuri, que é professor da USP, quando as crianças dividem órgãos vitais, como o coração, não é possível separá-las, e a morte é praticamente certa.

Kauany e Keroly têm corações independentes, mas havia uma ligação entre as cavidades pericárdicas-espaço que fica entre o músculo e o revestimento cardíaco.

Selma sabe das dificuldades que terá pela frente, mas mantém o otimismo. "A gente precisa aceitar as coisas como elas são. E ter muito, muito amor para dar."

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