ALEX SABINO
DIEGO GARCIA
DE SÃO PAULO

Banido por 90 dias pela Fifa, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tem feito contatos com dirigentes de federações estaduais para assegurar não existir qualquer prova contra ele e que tem "100% de certeza" de que vai voltar ao cargo na Confederação Brasileira de Futebol. Os próprios dirigentes revelaram as conversas à Folha.

Isso pode ser infração às regras da suspensão preventiva de Del Nero. O código disciplinar da Fifa, no artigo 22, diz que o banimento do dirigente é referente "a qualquer atividade relacionada ao futebol (administrativa, esportiva ou qualquer outra)".

"Conforme indicado no comunicado à imprensa no dia 15 de dezembro, o senhor Del Nero foi provisoriamente banido de todas as atividades no futebol, tanto em nível nacional quanto internacional, por um período de 90 dias. Conforme está citado no Código Disciplinar da Fifa (artigo 22), as atividades de futebol incluem atividades administrativas, esportivas ou qualquer outra", afirmou a entidade em nota à Folha.

"De um modo geral, qualquer violação do banimento de participar de qualquer atividade relacionada ao futebol deverá ser tratada pelo Comitê Disciplinar da Fifa (ver artigo 64 do Código Disciplinar da Fifa)", completa a federação.

O artigo citado pela Fifa, o 64, diz que se houver descumprimento pode haver cobrança de multa ao clube, federação ou dirigente.

O artigo 108 do mesmo código diz que "qualquer pessoa ou entidade pode reportar uma conduta que considere incompatível com as regulamentações da Fifa aos órgão judiciais. Tais observações devem ser feitas por escrito".

Os presidentes das federações de Roraima, Sergipe, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia confirmaram contatos com Del Nero.

"Ele passa muita tranquilidade. Diz que não existe nenhuma prova contra ele e que vai voltar à presidência. Eu não tenho motivo para não acreditar nele. Quando conversamos, ele estava muito certo disso", afirma Milton Dantas, mandatário da Federação Sergipana da Futebol.

Del Nero foi indiciado nos EUA por suspeita de fraude em contratos relacionados a competições sul-americanas. Seu antecessor na CBF, José Maria Marin, foi condenado nos Estados Unidos por fraude financeira, lavagem de dinheiro e por formar organização criminosa.

Ele aguarda sentença em um presídio no bairro do Brooklyn, em Nova York.

Em audiência nos EUA, delatores de corrupção na Fifa afirmaram que Marco Polo Del Nero recebeu propinas quando era vice-presidente da CBF, entre 2012 e 2015.

Crédito: Stephen Yang/Reuters Former head of Brazilian Football Confederation (CBF) Jose Maria Marin, (C), defendant in the FIFA corruption trial, arrives at United States Federal Court in Brooklyn, New York, U.S., December 22, 2017. REUTERS/Stephen Yang ORG XMIT: NYS002
Jose Maria Marin chega ao tribunal para seu julgamento em Nova York

O empresário J. Hawilla apresentou gravações onde negociava com Kleber Leite, dono da agência Klefer, o pagamento de propinas para os ex-presidentes da CBF, José Maria Marin e Ricardo Teixeira e para o atual mandatário, afastado pela Fifa, Del Nero.

O cartola deverá entregar sua defesa à Fifa neste mês. A suspensão pode ser prorrogada. Há também a possibilidade de ele ser banido do futebol em definitivo.

"Eu acho que a gente precisa deixar o Del Nero trabalhar. Ele me disse que não há nada no processo que o incrimine. Tenho certeza de que vai voltar", concorda o presidente da Federação Maranhense, Antônio Américo Lobato Gonçalves.

Os cartolas estiveram em São Paulo nesta terça (9) para reunião do Sindicato Nacional das Associações de Futebol Profissional e suas Entidades Estaduais de Administração e Ligas.

"Não tive acesso ao processo. Foi uma decisão política da Fifa e o Marco Polo me passou tranquilidade há alguns dias. Disse que a Fifa está tentando dar satisfação para a Justiça dos Estados Unidos. Ele tem certeza de que vai voltar [ao cargo]", confirma o presidente da Federação Norte-Riograndense de Futebol, José Vanildo da Silva.

"Ele [Del Nero] me garantiu que tudo será esclarecido. Conversamos no final do ano passado e ele me falou com firmeza que não há nada que o incrimine. Estamos aguardando que este assunto se resolva", completa o presidente da Federação Cearense, Mauro Carmélio.

Os presidentes das federações da Bahia (Ednaldo Rodrigues Gomes) e de Roraima (José Gama Xaud) também disseram ter falado com o cartola afastado pela Fifa e confirmaram que ele tem dado repetidas garantias de que vai retornar, pois nada será provado na Fifa ou na Justiça norte-americana.

Mas há dirigentes mais pessimistas. Outros presidentes que conversaram com a Folha e preferiram não se identificar mostraram descrença quanto ao retorno de Del Nero. Para eles, a Fifa não vai permitir esta volta.
Segundo a assessoria de imprensa da CBF, nenhuma vez Marco Polo Del Nero esteve na sede da entidade, no Rio de Janeiro, desde o banimento.

SUCESSÃO

Enquanto a indefinição sobre o futuro da Confederação continua, há quem venha articulando eventuais nomes para a sucessão de Marco Polo Del Nero.

Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista, Ednaldo Rodrigues, da Bahia, e Francisco Novelletto Neto, do Rio Grande do Sul, são apontados como candidatos para concorrer ao cargo por cartolas ouvidos pela reportagem.

O presidente da entidade de São Paulo é tratado como favorito ao pleito, que também deve ter o coronel Antonio Carlos Nunes na briga, atual presidente em exercício, por ser o vice mais velho.

Coronel Nunes foi abordado pela Folha nesta terça e respondeu, ao ser questionado se Del Nero vai voltar à CBF: "Eu que não sei. Só estou ocupando a presidência."

Na eleição da CBF, que pode ocorrer entre abril de 2018 e abril de 2019, os 27 presidentes de federações e os 40 clubes da Séries A e B vão votar.

Pela nova regra, o voto de cada uma das 27 federações terá peso três. Os times da Série A terão peso dois em cada voto. Os da Série B ficaram com peso um.

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