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Tragédia no
Vôo 402

Sindicato denuncia irregularidades na aviação civil


Culto ecumênico lembra uma semana do desastre. Sigilo
de celulares de passageiros pode ser quebrado

Brasil Online 6/11/96 22h02
De São Paulo

O Sindicato Nacional dos Aeronautas entregou nesta quarta-feira (6) à comissão que investiga o acidente do Fokker 100 da TAM um dossiê de 454 páginas com mais de 200 denúncias sobre irregularidades na aviação civil que comprometem a segurança de vôo no país. As principais reclamações referem-se ao excesso da jornada de trabalho, escalas de serviço sem a concessão das folgas previstas, desobediência ao limite da duração de vôo e do número de pousos permitidos.

"A Vasp é a recordista, mas todas as empresas constam do dossiê", informou o presidente do sindicato, comandante Luiz Fernando Collares, depois de entregar a documentação ao tenente-coronel Aloísio Marques da Cunha, presidente da Comissão Investigadora, do Departamento de Aviação Civil (DAC). O objetivo do sindicato, que reúne pessoal de vôo, foi mostrar que a maioria dos problemas vem sendo regularmente denunciada às autoridades nos últimos quatro anos.

A TAM é acusada, várias vezes, de descumprir as escalas de folga, ultrapassar as horas de vôo e o número de pousos diários, e de utilizar tripulações em quantidade insuficiente ou não habilitadas a voar. Em ofício encaminhado ao diretor-geral do DAC, o Sindicato dos Aeronautas comunicou que um Fokker 100 da empresa desceu no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, no dia 4 de abril do ano passado, sob o comando de tripulantes sem habilitação para esse tipo de aparelho.

Um dos diretores do sindicato, o comissário Osvaldo Rotbande, nome de guerra Akerman, que participou da reunião com oficiais do DAC, afirmou que a TAM costuma também voar com combustível no limite da quantidade necessária para o vôo. "Há seis meses, denunciamos que, num dos vôos da companhia, o avião não teria condição de arremeter para buscar outra pista, se houvesse problema no aeroporto de destino", lembrou Akerman.

Pilotos de Fokker 100 da TAM vão se reunir, por sugestão do sindicato, para discutir medidas preventivas que devem ser adotadas independentemente da conclusão do inquérito sobre o acidente da última quinta-feira. Uma das alternativas, segundo Collares, seria a desativação imediata do reverso - sistema auxiliar de freios utilizado na operação de pouso. A medida, que não atingiria jatos de outros modelos, poderá impor restrições à operação do Fokker, de acordo com o peso da carga e com o tamanho da pista. Neste caso, o avião deixará de pousar, provisoriamente, no Santos Dumont.

Culto ecumênico lembra
uma semana do acidente

Um culto ecumênico promovido pelo Serviço de Ecumenismo da Arquidiocese de São Paulo e três missas - uma na Escola Estadual Doutor Ângelo Mendes de Almeida, outra na Igreja de Moema organizada pelos aeronautas e a terceira na Rua Luís Orsini de Castro - marcaram nesta quarta-feira a passagem do sétimo dia do acidente com o Fokker 100 da TAM, no qual morreram 98 pessoas. Ao ato ecumênico, na Igreja da Consolação, no centro da cidade, compareceram Etelvina, Noemy e Maria Cláudia Rolim, respectivamente mãe, mulher e filha do comandante Rolim Adolfo Amaro, presidente da TAM. A empresa esteve representada pelo seu vice-presidente, Luiz Eduardo Falco. Todos evitaram entrevistas.

Na missa realizada pela manhã no pátio da escola, localizada a 200 metros do foco central do acidente, foram homenageados o piloto do Fokker 100, comandante José Antônio Moreno, e o professor de física e matemática Marco Antônio Oliveira, duas das 98 vítimas do desastre aéreo. Os alunos da escola estadual deram tratamento de heróis ao piloto - que teria evitado a queda do avião sobre o prédio onde 800 crianças e adolescentes estudavam - e ao professor, tratado pelos alunos como Marcão.

"Queremos que nesse país marcado pela impunidade, todos sejam ressarcidos para que as feridas sejam extirpadas o máximo possível", disse em seu sermão o padre Tarcísio Marques Mesquita, da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto, na zona leste da cidade. A indicação do padre para a celebração da missa foi feita por uma tia de Mariângela Gardinalli Moreno, viúva do comandante do Fokker 100. Mariângela também participou da celebração.

Ao final da missa, os alunos que lotaram o pátio cantaram o Hino Nacional, plantaram uma árvore, soltaram uma pomba branca e balões com sementes e presentearam os parentes da vítimas com flores e poemas. "Estamos muito reconfortados com toda essa solidariedade. Esperamos que tudo caminhe bem e que haja justiça de fato a partir de agora, quando começaremos a negociar com a TAM a indenização pela reconstrução da casa de meus pais, destruída pelo avião", disse Sandra Maria Oliveira da Mata, irmã do professor Marco Antônio.

Sigilo de celulares
de passageiros pode ser quebrado

O delegado Romeu Tuma Júnior, titular da Delegacia Seccional Sul de São Paulo, ainda investiga a possibilidade de que a interferência de um telefone celular tenha derrubado o Fokker-100, na última quinta-feira na cidade. Por isso, ele deve pedir à Justiça a quebra do sigilo de todos os celulares dos passageiros do vôo 402.

Tuma tomou essa decisão nesta quarta-feira, após interrogar o técnico em eletrônica Spércio Carlos Montmar, da Líder Táxi Aéreo. Ele estava trabalhando no aeroporto de Congonhas no momento da decolagem do Fokker-100, e também viu o reverso da turbina abrir e fechar quatro vezes antes da queda.

O delegado também ouviu nesta quarta o piloto Ronaldo de Carvalho. Ele estava se preparando para decolar no heliporto de Congonhas quando houve o acidente. Carvalho estava com o rádio do helicóptero sintonizado na faixa de comunicação com a torre do aeroporto. Ele afirmou que não houve diálogo entre o comandante do 402 e a torre após a decolagem.

Com informações de Agência Folha e AJB


Informações na Internet

  • TAM - Site oficial da empresa