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07/02/2003 - 09h39

Governo Bush se afasta da América Latina, dizem analistas

ANGELA PIMENTA
da BBC, em Nova York

A América Latina nunca esteve tão distante do radar da Casa Branca. Enquanto o Iraque, a Coréia do Norte, a "guerra ao terrorismo" e uma econômica doméstica claudicante continuarem a preocupar o governo americano, a América Latina continuará fora de foco.

Esse foi o diagnóstico central do seminário "A Política dos Estados Unidos em Direção à América Latina", promovido ontem pela Sociedade das Américas, uma instituição não-governamental sediada em Nova York.

Para os especialistas, até que esses problemas sejam equacionados, George W. Bush, que antes de assumir o governo prometia fazer da América Latina o centro de sua política internacional, pouco se empenhará pessoalmente até mesmo para lidar com a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, vista como a prioridade de Bush para as Américas.

O seminário em Nova York reuniu cientistas políticos, representantes do governo Bush e ex-assessores do governo Clinton para examinar, entre outras, questões como as relações entre os Estados Unidos de Bush e o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva, a crise na Venezuela e a violência na Colômbia.

Sem espaço

Apesar da análise feita em Nova York, os especialistas não acreditam que exista má vontande em relação à região.

"Ao contrário do que os latino-americanos possam pensar, não se trata de uma questão de falta de disposição diplomática dos americanos", disse Robert Pastor, vice-presidente do departamento de relações internacionais da Universidade Americana de Washington.

"Todo o esforço de guerra atual, mais o plano de cortes de impostos do governo Bush e o monumental déficit americano afetam a nossa capacidade de ter uma política externa para a América Latina."

De acordo com os palestrantes, a grande novidade da região nos últimos tempos foi a eleição do petista Lula e o início de uma amizade diplomática entre ele e Bush.

"Pela primeira vez na história -e isso é fabuloso-, os Estados Unidos se mantiveram neutros em relação à eleição presidencial brasileira", disse Nelson Cunnigham, ex-conselheiro do governo Clinton para a América Latina.

"Lula merece boa parte desse crédito, por ter dissipado prontamente as dúvidas da direita americana de que ele formaria um eixo do mal com Hugo Chávez e Fidel Castro."

Atritos

Apesar do otimismo, a oposição de Lula a uma solução armada para o Iraque, e a discussão da Alca, cujas negociações devem começar ainda neste mês, devem gerar os primeiros atritos entre Brasília e Washington.

"Devido à grande politização em torno da Alca e à agressividade com que o Brasil vem tentando assumir um papel dominante em relação ao Mercosul, é possível prever tensões nesse setor", disse Cunnigham.

De sua parte, os Estados Unidos tentarão estimular países do Caribe, com quem têm um esboço já detalhado de um acordo comercial, além de dar tratamento preferencial a países que já tenham rebaixado suas tarifas para produtos americanos, como o México, seu parceiro no Nafta, o pacto de livre-comércio da América do Norte, e o Chile, com quem mantêm um acordo de comércio bilateral.

"Existe uma fila de países latino-americanos dispostos a fechar acordos bilaterais vantajosos com os Estados Unidos", disse Michael Zarin, assessor de planejamento político do Departamento de Estado do governo Bush.

"Nossa intenção é incluir o maior número possível de participantes em acordos multilaterais, mostrando-lhes que o livre-comércio é uma ferramenta crucial para o desenvolvimento do continente."

Para os americanos, o melhor garoto-propaganda para vender um pacote comercial para os latinos seria o próprio George W. Bush. "Uma visita de quatro dias de Bush ao Brasil, Argentina e Chile iria fazer maravilhas", disse Cunnigham. "A diplomacia pessoal é importante, e Bush sabe disso."

Fidel e Miami

Entretanto, nem Cuba e tampouco a Venezuela têm a menor chance de serem contemplados com gestos amistosos de Bush, como uma visita cordial.

"Graças a anticastristas como o sub-secretário de Estado americano, Otto Reich, a diplomacia americana em relação à Cuba hoje está tão empacada quanto a própria ilha de Cuba sob Fidel", disse Robert Pastor.

"Mas por outro lado, apesar do embargo americano contra Cuba continuar oficialmente intocado, o comércio entre os dois países tem crescido e a tendência a longo prazo é de uma reaproximação contínua."

No caso da Venezuela, o governo Bush não consegue disfarçar que seria favorável a uma "troca de regime" em Caracas, tendo inclusive apoiado oficialmente o golpe de Estado fracassado contra Chávez em 2002.

Foi a contragosto que os Estados Unidos concordaram recentemente em integrar o Grupo de Amigos da Venezuela, um conjunto de países formados sob a liderança do Brasil para tentar um acordo entre a oposição e o governo Chávez.

Washington prefere que a questão seja monitorada pela Organização dos Estados Americanos (OEA). "O paradoxo da Venezuela é que Chávez foi eleito democraticamente, mas está usando instituições democráticas para destruir a democracia", disse Susan Purcell, vice-presidente da Sociedade das Américas.

Por outro lado, a Colômbia, cujo novo presidente, Alvaro Uribe, se alinha com o governo Bush, foi considerada como um motivo de otimismo para o continente, com boas chances de obter mais estabilidade política.

O país deve receber mais ajuda financeira e militar americana para combater a guerrilha e o narcotráfico. "Depois do 11 de setembro, o governo Bush conseguiu que o Congresso americano entendesse que terroristas e traficantes são inimigos comuns e que, portanto, devem ser enfrentados da mesma maneira", concluiu Susan Purcell.

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