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06/07/2007 - 19h13

Musharraf pode sair vitorioso de cerco a mesquita

AAMER AHMED KHAN
da BBC, de Islamabad

A decisão do presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, de dar sinal verde para que as forças de segurança do país desmantelassem um seminário islâmico radical na capital, Islamabad, está mudando a forma como o presidente é visto e pode beneficiá-lo politicamente.

Musharraf vinha enfrentando forte pressão da oposição por causa de suas concessões aos estudantes ligados à Mesquita Vermelha e, há duas semanas, parecia estar lutando pela sua sobrevivência política.

Além disso, os aliados do Paquistão no exterior pareciam estar ficando cada vez mais impacientes com sua aparente inabilidade de lidar de forma decisiva com extremistas islâmicos.

Mas o cerco à Mesquita Vermelha nos últimos dias pode estar virando o jogo para Musharraf. O sucesso contra os radicais daria sustentação à mensagem que quer passar -de que ele ainda é a melhor aposta do Ocidente contra o extremismo islâmico e de que pode atuar de forma decisiva quando necessário.

Não importa o nível de verdade nesta afirmação, esta é uma realidade política que Musharraf, há oito anos no poder, está desesperado para criar.

Constrangimento

A Mesquita Vermelha e o seminário ligado a ela têm se mostrado influentes em Islamabad desde o início de 2007.

Exigindo a aplicação rígida da sharia (lei islâmica), os clérigos da mesquita criaram esquadrões morais que atuavam na capital para "evitar a marginalidade e promover a virtude" --um conceito institucionalizado pela primeira vez pelo movimento radical islâmico Taleban no Afeganistão.

Formados por homens armados e mulheres estudantes, os esquadrões percorriam a cidade ameaçando donos de lojas de música e seqüestrando mulheres sob a alegação de que elas operavam bordéis.

Mas a cada vez que eles tomavam a lei em suas mãos, o governo optava por negociações, argumentando que o uso da força poderia levar a derramamento de sangue.

O presidente disse várias vezes que, se o governo tentasse usar a força, os clérigos iriam acionar os suicidas que poderiam matar dezenas.

"As mesmas pessoas, incluindo a imprensa, que exigem uma ação do governo vão então se virar e acusar o governo de matar seu próprio povo", disse Musharraf em uma de suas aparições públicas no começo do ano.

Inicialmente muitos concordaram com o presidente, mas o argumento começou a perder peso na medida em que os clérigos da Mesquita Vermelha ficaram mais ousados.

"O ponto de virada claramente foi o seqüestro de uma garota chinesa que trabalhava em uma casa de massagem", disse um importante diplomata em Islamabad.

Aliança

Em sua história, o Paquistão é conhecido por perseguir vários ramos da pauta de sua política exterior com o uso de milícias particulares.

Milhares de militantes islâmicos baseados no Paquistão lutaram contra os soviéticos no Afeganistão.

Além disso, a disputa do Paquistão com a Índia pelo território da Caxemira foi quase exclusivamente lutada por meio de militantes islâmicos.

Esta é uma grande razão que levou grupos de oposição a Musharraf a acusar o presidente de ser tolerante com radicais islâmicos.

A situação na Mesquita Vermelha se transformou no combustível primário com o qual eles esperavam incendiar sentimentos contra Musharraf, no país e fora dele.

Assim, quando a brigada da Mesquita Vermelha começou a desmoronar contra o cerco das forças de segurança, o presidente Musharraf deve ter respirado fundo várias vezes, sentindo o perfume do sucesso político.

 

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