Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/07/2007 - 23h00

Debate sobre Iraque faz Senado dos EUA virar a noite

Bruno Garcez
da BBC Brasil, de Washington

O Senado dos Estados Unidos vai virar a noite realizando uma sessão contínua de debates sobre a proposta da oposição democrata de estabelecer um prazo para a retirada de soldados americanos do Iraque.

Por conta da longa jornada noite adentro, que terá início nesta terça-feira à noite e está prevista para continuar até a manhã de quarta-feira, os senadores contarão até mesmo com camas portáteis. E existe ainda a possibilidade de que políticos que resolverem não comparecer sejam convocados em suas casas.

Na quarta-feira, após a noite insone de discussões, os democratas pretendem ainda pela manhã votar o projeto de lei proposto pelos senadores democratas Carl Levin, do Estado de Michigan, e Jack Reed, de Rhode Island, que determina o início da retirada das tropas americanas em 120 dias e a conclusão do processo até abril de 2008.

A manobra dos democratas tem um efeito mais simbólico do que prático. Os políticos do partido dificilmente conseguirão os 60 votos de que necessitam para que a proposta seja votada rapidamente, sem que haja uma longa etapa de discussões e de emendas antes da votação.

Discussões

Pelas regras do Senado americano, a votação de um projeto de lei é antecedida por uma série de discussões e de discursos. Para impedir que os debates se prolonguem por um longo período e que se passe rapidamente para a fase de votação, é preciso que 60 senadores votem pelo fim da fase de debates --o chamado voto de encerramento.

Os democratas não têm votos suficientes para promover esse voto de conclusão. Por isso, mesmo contando com a maioria simples no Senado --um total de 50 votos mais um, o necessário para a aprovação de um projeto--, eles ainda estarão sujeitos a possíveis estratégias de bloqueio da votação por parte dos republicanos.

A tática de postergar votos através de emendas, discursos e debates --muitos até não-relacionados aos temas que serão votados-- é conhecida no jargão político americano como "fillibusters"

Até o momento, os republicanos vêm conseguindo com relativo sucesso impedir que propostas de retirada de soldados avancem. E, segundo o líder dos democratas no Senado, Harry Reid, eles vêm usando "fillibusters" para bloquear a proposta de retirada de tropas.

Constrangimento

Mas a vigília noturna dos democratas visa fazer com que os republicanos provem do próprio veneno, como conta o professor Charles Stevenson, da School of International Studies, da John Hopkins University.

"O 'fillibuster' democrata visa constranger os defensores do governo. Há uma série de propostas ligadas à guerra no Iraque atualmente no Senado. Se os republicanos bloquearem o projeto de saída de tropas, bloquearão também o projeto de lei de financiamento das tropas americanas no Iraque", conta Stevenson.

Segundo Stevenson, os senadores republicanos, alguns dos quais já deram sinais de descontentamento com a atual política do presidente George W. Bush para o Iraque, enfrentariam o desgaste de ter de seguir bloqueando o projeto, para que ele não vá a votação.

Mesmo que os democratas consigam burlar as táticas dos republicanos e consigam aprovar o projeto de retirada de militares, ele está fadado a ser vetado pelo presidente Bush. A única forma de bloquear um possível veto presidencial seria obter um total de 67 votos, número quase inalcançável para os democratas.

Recorde

Há casos lendários do uso do "fillibuster" na história política do país. Um senador já chegou a ler trechos de uma lista telefônica para impedir uma votação, e outro, o democrata Strom Thurmond, da Carolina do Sul, tornou-se um recordista na arte do "fillibuster"', ao conseguir bloquear o Ato de Direitos Civis de 1957, por 24 horas e 18 minutos.

Reza a lenda que tamanha foi a determinação de Thurmond, que ele chegou a ir a uma sauna antes da sessão no Senado, a fim de que pudesse ingerir líquidos, sem que sentisse vontade de urinar.

O férreo esforço do político do sul dos Estados Unidos não foi recompensado. O Ato de Direitos Civis acabou sendo aprovado.

Hollywood

A tática também já chegou até às telas de Hollywood, com o filme "Mr. Smith Goes to Washington", de Frank Capra. O personagem central do longa-metragem é um político idealista do interior americano, que é levado a se candidatar ao Senado por políticos inescrupulosos que visam manipulá-lo.

Ele percebe as táticas corruptas de seus colegas e se vale de um "fillibuster" --um discurso que entra noite adentro e no qual expõe as táticas sujas de outros senadores para incriminá-lo injustamente e promover seu impeachment.

O professor Charles Stevenson acha improvável que os democratas consigam promover no imaginário americano o mesmo efeito que o político idealista vivido por James Stewart alcança ao final do clássico.

"O objetivo é ver quem, junto à opinião pública e à mídia, será visto ao final como o mocinho ou o bandido, republicanos ou democratas. Mas o problema é que a popularidade do Congresso é tão baixa quanto a de Bush. Então é difícil dizer quem chegará na frente na corrida rumo ao fundo do poço."

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página