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26/09/2007 - 19h55

Entenda a influência dos monges em Mianmar

da BBC Brasil

Os monges são muito respeitados em Mianmar porque entre 80% e 90% da população do país é budista e mesmo os que não seguem a "carreira" de monge normalmente entram para as ordens durante períodos curtos, o que dá aos mosteiros um papel importante na sociedade.

Existe um mosteiro em cada vilarejo do país, e os monges exercem o papel de líderes espirituais da comunidade, de acordo com o jornalista Myint Swe, do serviço mianmarense da BBC.

Eles dão orientação religiosa e desempenham funções importantes em casamentos e funerais. Como recompensa por esses serviços, recebem doações da população.

Os monges são proibidos de lidar com dinheiro, então dependem totalmente das doações. A toda noite de lua cheia, eles também recebem doações de artigos como os hábitos que vestem.

Se um monge recusa uma doação, está negando ao doador a possibilidade de ganhar um "crédito" espiritual: "a mais séria punição que pode ser recebida de um monge budista", segundo Myint Swe.

É por isso que o anúncio, pelos monges que têm participado de protestos em Mianmar, de que vão recusar todas as doações dos militares que governam o país --cuja maioria também é budista-- teve um efeito tão poderoso, afirma o jornalista.

"O governo quer a imagem de que é piedoso e ajuda os monges", disse Myint Swe.

"Férias" no mosteiro

Existem entre 400 mil e 500 mil monges em Mianmar, um país com 53 milhões de habitantes, mas muitos birmaneses passam temporadas de algumas semanas nos mosteiros ao longo de suas vidas para ganhar "créditos" espirituais.

Myint Swe disse que ele próprio entrou para mosteiros três vezes em sua vida adulta, permanecendo nas ordens por algumas semanas em cada ocasião.

"O budismo é muito individualista --você tem de trabalhar para a sua própria libertação", diz o historiador mianmarense Aung Kin.

Um mosteiro não apenas oferece orientação espiritual, mas também cumpre um papel prático na sociedade mianmarense.

Entrar para um mosteiro quando criança é uma forma barata de se obter uma educação escolar em Mianmar.

Embora as escolas sejam gratuitas no país, gastos adicionais --com uniformes, por exemplo-- podem representar um obstáculo para as famílias pobres.

E alguns pais preferem enviar seus filhos aos mosteiros durante as férias escolares enquanto estão trabalhando, diz Myint Swe.

Muitos dos que optam pelo budismo como carreira fazem isso por razões financeiras e dividem as doações com membros da família, diz Aung Kin.

No entanto, para se tornar monges, os noviços têm de passar por exames religiosos e respeitar mais de 220 restrições.

Existe uma longa tradição de militância política entre os monges birmaneses. Historicamente, eles vêm liderando protestos contra autoridades impopulares, desde os tempos do domínio britânico na década de 1930 até a última campanha democrática em 1988.

Este papel político tem sua origem nos tempos da monarquia birmanesa, que ficou no poder até o final do século 19. Nesse período, os monges atuavam como intermediários entre o monarca e o público, e faziam lobby junto ao monarca contra medidas impopulares, como impostos altos, explica Aung Kin.

Segundo o historiador, os monges assumiram uma postura de confronto durante o período colonial, em protesto contra a recusa dos estrangeiros de retirar os sapatos nos templos.

Aung Kin, no entanto, diz que apenas 10% dos monges birmaneses são politizados, e muitos dos mosteiros podem não estar a par da agitação que toma conta do país no momento.

Se todos se mobilizassem, no entanto, os monges poderiam representar um grande desafio aos militares, e sua influência moral na sociedade pode incentivar muitos a aderir aos protestos.

 

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