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12/11/2004 - 15h43

Impedidos de viajar, palestinos de Gaza fazem "funeral simbólico"

ALAN JOHNSTON
da BBC Brasil

Israel não permitiu que os palestinos viajassem da faixa de Gaza para Ramallah, na Cisjordânia, onde foi enterrado o líder Iasser Arafat.

Em função disso, a Cidade de Gaza fez um "funeral simbólico", que teve a participação de milhares de pessoas, inclusive membros dos grupos militantes palestinos Hamas (organização extremista islâmica) e Jihad Islâmico (grupo extremista palestino).

Muitas das pessoas que participaram dessa cerimônia simbólica gostariam de ter ido a Ramallah, mas ninguém pensava seriamente que Israel permitiria isso.

O fim da cerimônia em Gaza teve uma aparência militar, com a participação de vários integrantes de organizações paramilitares. Mas havia mais civis prestando suas homenagens a Arafat.

Bandeiras

A marcha de pessoas terminou no complexo presidencial, o lugar onde Arafat trabalhou e morou por muitos anos, imediatamente depois do acordo de Oslo.

O complexo foi destruído pela Força Aérea israelense em meados de 2002.

Uma grande tenda foi armada em frente ao complexo e milhares de pessoas marcharam até lá, incluindo alguns grupos de homens com máscaras e revólveres.

Mas foi uma cena ordeira, com tiros para o ar, cerimoniais. Podia se ver bandeiras dos grupos Hamas e Brigadas dos Mártires de Al Aqsa (grupo político de Arafat).

Os rituais para a despedida de Arafat tinham começado ainda na quinta-feira em Gaza.

Pouco depois da notícia da morte dele, alto-falantes começaram a transmitir a leitura de trechos do Alcorão.

Lojas, escolas e escritórios ficaram fechados. Bandeiras negras foram desfraldadas e pôsteres de Arafat foram afixados nas paredes.

Centenas de pneus foram incendiados. Pouco depois, uma nuvem densa de fumaça pairava sobre os prédios e minaretes. Mostrava qual o sentimento na cidade de Gaza, naquelas primeiras horas.

"Pai"

As pessoas não estavam chocadas com a notícia da morte de Arafat. Ele estivera muito doente por duas semanas.

Em Gaza, eles sabiam que o fim dele estava chegando. Mas as notícias de Paris provocaram uma tristeza muito genuína e generalizada.

"Ele era nosso líder", disse um homem. "E estamos todos tristes, porque ele era um combatente. Pedimos a Deus que o abençoe, e temos esperança, com a ajuda de Deus, que nossa vitória virá."

Havia um sentimento entre as pessoas que ele personificara toda a causa delas.

"Sinto-me como um filho que perdeu seu pai e seus sonhos. O presidente Arafat não era apenas um líder, ele era um símbolo de nossa luta e nossa liberdade. Ele estava lá quando nós nascemos", disse outro homem, poucos minutos depois que a notícia chegou a Gaza.

Diferenças

A notícia da morte também criou preocupações sobre incertezas futuras entre os palestinos.

"Tenho esperança de que com a partida de Iasser Arafat, o povo palestino, com todas as suas diferentes facções, vai agora se unir e seguir o mesmo caminho e a fé de Iasser Arafat", disse um homem nas ruas, refletindo essas preocupações.

Pelo menos por enquanto, há conversas em todo o espectro político da importância da união.

Hamas e Jihad Islâmico tiveram profundas diferenças com Arafat por muitos anos.

Mas nas horas seguintes à morte dele, mesmo representantes dessas duas organizações falavam de sua tristeza. Eles o reconheceram como uma "figura colossal" da história palestina.

Certamente, em vida, Iasser Arafat tinha muitos críticos entre os palestinos. O governo que ele chefiava é visto como corrupto e ineficiente.

Mesmo quando ele estava muito doente no hospital, em Paris, era possível encontrar uma minoria que falava de sua profunda desilusão com o desempenho do líder desde que ele voltara para administrar os territórios palestinos.

Mas nesses últimos dias pelo menos, ninguém falou mal de Iasser Arafat nas ruas de Gaza.

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