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12/11/2004 - 19h26

Enterro de Arafat acaba com nove feridos a tiros

EDSON PORTO
da BBC Brasil

O enterro do líder palestino Iasser Arafat, na cidade de Ramallah, a maior e mais rica dos territórios ocupados, foi marcado por um grande caos, cenas de desespero e muitos tiros.

Segundo a imprensa local, nove pessoas acabaram feridas por tiros e cerca de cem foram atendidas por médicos por causa de problemas como desmaios ou ferimentos provocados durante a confusão.

O tumulto foi tamanho que todos o procedimentos e cerimônias que estavam previstos foram cancelados, e o corpo do líder palestino ficou apenas cerca de um hora no seu quartel-general antes de ser enterrado.

"A intenção era levar o corpo até um salão central do prédio principal (do quartel-general), onde autoridades e religiosos iriam prestar a sua última homenagem, mas foi impossível chegar até lá por causa da multidão", disse Kamel Husseini, assessor da Autoridade Nacional Palestina (ANP) que estava envolvido no controle do enterro.

Grito

O corpo chegou a Ramallah por volta das 14h30 do horário local (10h30 em Brasília), e pouco mais de uma hora depois já havia sido enterrado.

Já quando os motores do helicóptero que transportou Arafat do Cairo a Ramallah foram ouvidos nos céus da cidade, as milhares de pessoas que esperavam no local começaram a gritar.

A multidão que estava concentrada em Mukata, o quartel-general de Arafat, onde ele agora está enterrado, gritou seu nome em uníssono antes mesmo de as aeronaves pousarem.

O quartel-general de Arafat é formado por um complexo de prédios, boa parte deles destruídos por Israel, cercados por um alto muro de três metros, ampliado por uma cerca de arame farpado.

Pátio

Dentro do complexo, há um pátio enorme, no qual já existiram prédios que faziam parte dos escritórios da ANP, mas que foram totalmente destruídos durante incursões de Israel na cidade.

Antes da morte de Arafat, o local estava cheio de entulho e de galões de óleo cheios de cimento. O objetivo era evitar o pouso de helicópteros israelenses em caso de ataque.

Foi nesse pátio, limpo por escavadeiras e caminhões desde quarta-feira, que o túmulo de Arafat foi preparado e que milhares de pessoas se reuniram para esperar a sua chegada.

A multidão estava isolada do local em que as aeronaves pousaram por um cordão de policiais.

Mas, assim que o helicóptero de Arafat tocou o chão, a população começou a empurrar os policiais e a furar a barreira para chegar próximo do corpo do presidente palestino.

A partir daí, o enterro se tornou um caos absoluto. Os policias começaram a disparar suas metralhadoras para o ar e a bater nas pessoas com longos cassetetes feitos de madeira. Nem isso parou os palestinos.

A multidão cercou o helicóptero e teve que ser dispersada a golpes de cassetete e a coronhadas para que a porta da aeronave fosse aberta e o caixão retirado.

Tiros

Na confusão, muitas pessoas começam a segurar o caixão, levado por policias, que foi ziguezagueando em meio à massa rumo ao prédio central da Mukata, até ser colocado em um jipe militar.

Sem conseguir atravessar a multidão, mesmo depois de colocar o caixão no jipe e de muitos policias baterem na população com cacetetes, as autoridades que estavam cuidando do funeral decidiram enterrar Arafat antes do previsto.

Durante todo o tempo, militantes de vários grupos palestinos, como os homens da Brigada de Mártires de Al Aqsa, e os policiais que acompanhavam o enterro ficaram disparando tiros para cima.

Em pelo menos um caso, algumas pessoas fizeram fila para disparar tiros com a arma de um militante.

Em meio à multidão, ele segurava sua metralhadora apontada para o alto enquanto cada pessoa da fila disparava o gatilho.

Apatia

A movimentação por causa do enterro de Arafat nesta sexta-feira contrasta com a relativa apatia inicial das pessoas logo após o anúncio da morte do líder palestino.

Na manhã em que a morte de Arafat foi anunciada, apenas pequenos grupos de palestinos se concentraram em frente à Mukata. Em alguns momentos, o número de jornalistas era bem maior do que o de manifestantes.

Na quinta-feira, ainda na parte da manhã, quando uma mulher que estava sentada em frente ao quartel-general começou a chorar, vários fotógrafos e cinegrafistas chegaram a fazer um empurra-empurra para conseguir o melhor ângulo.

Também durante a quinta-feira, a estreita rua de mão única que fica em frente ao QG e que se chama Chirac em homenagem ao presidente francês, Jacques Chirac, foi visitada de maneira intermitente por pequenos grupos de manifestantes. O maior grupo não passou de mil pessoas.

Um dos momentos mais tensos do dia ocorreu quando seis membros da Brigada de Mártires de Al Aqsa desfilaram em frente ao QG para as câmeras, com suas metralhadoras, capuzes pretos e pistolas em punho. De novo, a mídia disputou duramente a melhor imagem.

Para o contador Kamel Ali, uma série de motivos explica a apatia inicial da população. "As pessoas ficaram muito confusas com as informações desencontradas sobre a saúde de Arafat", disse o palestino.

"O Ramadã (o mês sagrado dos palestinos que acaba nesta sexta-feira) também contribuiu para distrair a população. Mas, agora que ele morreu e seu corpo está em Ramallah, as manifestações começaram", acrescentou Ali.

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