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19/01/2005 - 08h12

Política dos EUA na América Latina deve seguir a mesma

DENIZE BACOCCINA
da BBC Brasil, em Washington

Tanto republicanos como democratas concordam que a política dos Estados Unidos em relação à América Latina não deve mudar neste segundo mandato do presidente George W. Bush.

A diferença é que, enquanto republicanos defendem a política atual e dizem que as relações do país com a região "são muito boas", democratas afirmam que a América Latina "não é nem será prioridade" para o governo americano.

"A América Latina não tem uma grande prioridade para o governo. Não tinha nos últimos quatro anos e não vai ter nos próximos quatro", afirmou o cientista político Riordan Roett, diretor do programa do Hemisfério Ocidental da Universidade Johns Hopkins, em Washington.

"A parte principal do tempo do presidente Bush vai ser dedicado ao Oriente Médio e à Europa", disse ele.

'Balanço positivo'

Na sabatina de confirmação no cargo pelo Senado, na terça-feira, a secretária de Estado nomeada Condoleezza Rice citou a América Latina como uma região onde existe o desafio duplo de incentivar mudanças democráticas ao mesmo tempo em que é preciso atuar contra a pobreza e a desesperança.

Ela também citou o Brasil como um parceiro importante na região, mas somente depois de ter sido questionada especificamente sobre a política do governo para a região pelo senador democrata Christopher Dodd.

O consultor do Departamento de Estado William Perry discorda que o presidente Bush dedicou pouca atenção à América Latina no primeiro mandato.

"Pode-se comparar com o ideal e ficar um pouco decepcionado, mas em comparação com o governo Clinton, por exemplo, este deu muito mais atenção à América Latina", afirma.

Perry lembra que Bush fez três viagens à região, conseguiu que o Congresso aprovasse a TPA (Trade Promotion Authority, que dá ao Executivo poder para negociar acordos comerciais), fez um acordo bilateral com o Chile e está negociando acordos semelhantes com os países da América Central (já negociado pelo Executivo e aguardando votação no Congresso) e países andinos e apoiou o acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2002.

"Apesar de tudo, o balanço desta administração, considerando os fatores e as preocupações noutras partes do mundo, para mim pelo menos tem sido igual ou superior a outros governos anteriores", afirmou.

O ex-embaixador americano no Brasil Anthony Motley, também republicano, concorda com Perry. "Com exceção da Venezuela, as relações são razoáveis", afirmou.

O cientista político Joel Velasco, vice-presidente da empresa de consultoria Stonebridge Internacional e ex-consultor do ex-vice-presidente democrata Al Gore, acha que a região foi esquecida no primeiro mandato do presidente Bush, mas não acha que isso foi necessariamente uma coisa ruim.

"Acho que o próprio governo do presidente Lula tem apreciado um pouco da distância dos Estados Unidos da América do Sul, porque isso permite ao Brasil assumir um papel mais importante", afirma.

Ele acha que, mesmo que o governo americano se comprometa a atuar mais na região, será difícil colocar isso em prática. "Não existe um apetite muito grande em Washington para engajar a América Latina. Não porque eles não achem que é importante, mas em grande parte porque não existem grandes problemas, comparada com o Oriente Médio, ou grandes oportunidades ou riscos, comparada com a Ásia. Então fica sempre na lista de coisas para fazer do presidente e nunca chega a ser feita", afirma.

Na avaliação do diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, em Nova York, Albert Fishlow, o governo americano vai concentrar os seus esforços na região no México e na América Central, por causa do problema da imigração. Uma nova lei facilitando o acesso de vistos de trabalho a imigrantes é uma das prioridades do presidente Bush, mas ele enfrenta resistência dos próprios republicanos.

Brasil

A relação entre Brasil e Estados Unidos, marcada por divergências no comércio exterior e acusações de protecionismo de ambas as partes nas negociações para a criação da Alca e em relação à guerra no Iraque, devem continuar no nível formal que tiveram no primeiro mandato, na avaliação de analistas democratas.

"A América Latina não existe mais e a Alca já acabou", disse Fishlow. Ele acha que o Brasil deveria basear a sua relação com os Estados Unidos na negociação de um acordo de comércio bilateral, para tentar ampliar as exportações para o Brasil sem ter que depender de um acordo mais geral.

Roett descreve as relações entre os dois países como "cordiais" e não acredita que isso vá mudar no segundo mandato do presidente Bush.

William Perry concorda: "Houve um esforço muito grande pra estabelecer um diálogo com um governo com quem francamente temos diferenças ideológica bastante grandes" afirmou.

Mas Joel Velasco diz que a responsabilidade não é apenas dos Estados Unidos e que o Brasil precisa definir que posição deseja ocupar no cenário internacional. "O que sempre se pergunta em Washington é o que o Brasil quer fazer nos próximos anos", afirma.

Ele acha que a missão liderada pelo Brasil no Haiti é importante para colocar o país numa posição de destaque no cenário internacional, mas as declarações do governo brasileiro de que pode deixar o país levantam dúvidas sobre o comprometimento do Brasil com essas missões.

"Se o Brasil desistir do Haiti isso pode ser visto como um sinal de que o Brasil fala que quer fazer muita coisa, mas não quer se envolver em coisas com grau de risco muito alto. Quer um assento no Conselho de Segurança da ONU, mas é preciso saber se está disposto a pagar o alto preço de pôr em prática políticas que nem todo mundo gosta."

"Estas questões são mais importantes de serem resolvidas do lado do Brasil antes de se preocupar com o que os gringos vão fazer por nós", afirma Velasco.

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