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02/04/2005 - 17h30

Cardeais brasileiros e acadêmico destacam 'carisma' do papa

DIEGO TOLEDO
da BBC Brasil, em São Paulo

A comunidade católica no Brasil se mobilizou para acompanhar as notícias sobre o estado de saúde do papa João Paulo 2º. Em meio à vígilia, alguns dos principais líderes da religião no país destacaram o carisma do pontíficie.

Em São Paulo, o arcebispo d. Cláudio Hummes comandou uma missa pelo papa e descreveu João Paulo 2º como "um homem com muito carisma e interessado pelos brasileiros".

"(Ele) sempre perguntava pelo Brasil, pela situação dos pobres, dos trabalhadores, da reforma agrária", disse o cardeal, considerado um dos possíveis candidatos à sucessão do papa.

Clique aqui para ver fotos da vigília do papa em todo o mundo

Em Salvador, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Geraldo Majella Agnelo, disse que o pontíficie "é uma pessoa tão popular que o seu sofrimento é como se fosse o de um parente nosso".

O arcebispo primaz do Brasil também lembrou os últimos momentos de São Francisco e comparou a morte do santo à decisão do papa de não ir a um hospital.

"O santo quis morrer em meio aos seus frades. Assim, João Paulo 2º nesta hora se sente desejoso de ficar em casa como um ente querido. Ele quer morrer em casa, não numa UTI", disse o presidente da CNBB.

Superstar

O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP, também descreve o papa João Paulo 2º como um "homem extremamente carismático".

Por isso, na opinião do acadêmico, o pontíficie é "dotado de uma liderança espontânea, uma capacidade de liderar e de transitar pelos problemas do mundo já com um ponto de vista muito firme, muito bem formado".

"Esse é um dom natural dele", diz o sociólogo. "Depois que virou cardeal, todas as vezes ele surpreendia exatamente pelo seu caráter extremamente simpático, extremamente espontâneo e de criação de situações inesperadas, sempre favoráveis a ele. Acabava roubando a cena, com naturalidade."

Pierucci lembra que o papa costumava surpreender ao romper o protocolo das visitas, com piadas e gestos que não estavam previstos. "Ele agia como um superstar. Ele sabia que tinha essa capacidade de roubar a atenção das pessoas", afirma.

O professor da USP, no entanto, também diz acreditar que o papa João Paulo 2º freou o movimento progressista que ganhava força na Igreja Católica latino-americana na década de 1970 --em especial, com os teólogos da libertação.

"O papa fez isso com uma maestria fantástica", diz Pierucci. "Ele encontrou na Cúria Romana um aliado forte contra a Igreja latino-americana."

O sociólogo afirma que João Paulo 2º descentralizou as funções de papa para se dedicar à evangelização e, ao fazer isso, fortaleceu a Cúria Romana, sem jamais se opor às medidas políticas da entidade.

"Ele reconfirmou nos cargos pessoas que já estavam lá, e aumentou o poder delas", comenta. "Na nomeação dos bispos latino-americanos, passou a preponderar a opinião da Cúria Romana, que começou a nomear padres mais conservadores."

Sucessão 'problemática'

Antônio Flávio Pierucci afirma que o carisma de João Paulo 2º é um dos fatores que dificultam os prognósticos sobre quem será o sucessor do papa.

"Está muito indefinido, até porque a figura carismática do papa criou esse problema de como é que será possível encontrar alguém capaz de substituir uma figura tão poderosamente fascinante como é a de João Paulo 2º", diz o sociólogo.

"A sucessão vai ser muito mais problemática do que a anterior", acrescenta. "Não se sabe agora: vai ser um italiano? Tem gente que diz 'ah, vai ser alguém do Terceiro Mundo agora', mas quem?"

Quatro cardeais brasileiros devem ter direito a voto no próximo conclave, reunião que determina o nome de um novo papa.

Além de d. Cláudio Hummes e d. Geraldo Majella, o arcebispo do Rio, d. Eusébio Oscar Scheid, e o arcebispo emérito de Brasília, d. José Freire Falcão, podem fazer parte do grupo de cardeais que escolherá o sucessor de João Paulo 2º.

Questionado sobre o processo de sucessão, d. Cláudio Hummes evitou falar de si mesmo como um dos favoritos ao posto. "Todos os cardeais são candidatos", disse.

Fiéis

O Brasil possui outros quatro cardeais, mas todos eles têm mais de 80 anos de idade e, portanto, não podem votar no conclave.

De acordo com números divulgados pelo IBGE em 2000, o Brasil é considerado o país com o maior número de católicos do mundo, com 125 milhões de fiéis, mas apenas 12% se consideram praticantes.

Na última sexta-feira, a CNBB emitiu um comunicado em que pedia "a todo o povo para rezar por João Paulo 2º para que Deus o assista e o conforte".

Desde o mais recente agravamento do estado de saúde do papa, na quinta-feira, diversas missas foram realizadas no país em homenagem ao pontíficie.

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