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Evo Morales pede à oposição pressa para assinar acordo
MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires
Em um clima tenso, com a presença cada vez maior de manifestantes que cercam os Departamentos (Estados) de Santa Cruz e Beni, o presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu que a oposição assine a proposta de acordo do governo, mesmo enquanto ele estiver no exterior.
Morales viajou nesta segunda-feira para Nova York, onde participará da Assembléia Geral da ONU. Ele retorna na quinta-feira à Bolívia, quando deverá se reunir novamente em Cochabamba, no centro do país, com os prefeitos (governadores) da oposição e observadores internacionais.
Antes do embarque, nesta segunda-feira, Morales disse: "Que bom seria se os prefeitos assinassem este documento hoje ou amanhã para se conseguir tranqüilidade e paz em Santa Cruz".
É neste Departamento --o mais rico do país-- onde nos últimos dias têm se concentrado manifestantes que apóiam de Morales, em muitos casos, armados com espingardas, estilingues, pedras, paus e bananas de dinamite.
"Enquanto a oposição não assinar o acordo com o governo não vamos parar com essa caminhada para o centro da capital de Santa Cruz", afirmou, diante das câmeras de televisão, Fidel Surco, presidente do Conselho Nacional para a Mudança.
Polêmicas
O documento apresentado pelo governo à oposição propõe que os prefeitos concordem com a nova Constituição do país, aprovada no fim do ano passado sem a presença da oposição.
O governo quer também a aprovação, até 1º de outubro, da lei que convocará o referendo que vai ratificar ou anular a nova Carta.
Morales já concordou em discutir um dos capítulos mais controversos da crise, o das autonomias dos Estados.
Mas o porta-voz dos governadores da oposição, Mario Cossío, de Tarija, criticou a proposta.
"Queremos apoiar a nova Carta Magna, mas não podemos assinar este acordo sem discutir certos pontos da constituição. Para que tanta pressa?", disse.
O texto inclui questões polêmicas para a oposição, como a reforma agrária.
O vice-presidente e presidente interino enquanto Morales está fora do país, Alvaro García Linera, sugeriu que os protestos só vão parar quando a oposição assinar a proposta do governo.
"Estes setores sociais não estão pedindo aumento salarial, mas defendendo a democracia", disse.
O ex-presidente da Bolívia, Jorge Quiroga, do partido Podemos, opositor de Morales, disse que os observadores internacionais que participam das discussões em Cochabamba deveriam intervir para frear os protestos.
"Parece que cortaram a língua e fecharam os olhos deles (observadores internacionais)".
Por sua vez, o governador de Santa Cruz, Ruben Costas, principal alvo dos protestos, pediu aos "cruzenhos" (habitantes de Santa Cruz) que "não reajam" aos manifestantes.
País dividido
Os seguidores do presidente estão concentrados em localidades como Yapacaní, San Julián e La Guardia, no Estado de Santa Cruz.
Os manifestantes são camponeses, mineiros e políticos que apóiam o governo Morales.
Quatro dos nove Estados da Bolívia são governados pela oposição --além de Santa Cruz e Beni, Tarija e Chuquisaca.
O Estado de Pando, na fronteira com o Acre, também era governado pela oposição, mas seu governador, Leopoldo Fernández, foi preso acusado de não obedecer o estado de sítio decretado ali pelo governo central e de ser o mandante do massacre de 16 pessoas no último dia 11.
Nesta segunda-feira, assumiu o seu substituto interino, o almirante da Marinha Landelino Rafael Bandeira.
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