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16/01/2006 - 00h36

'Chile vai avançar, sem perder a alma', promete Bachelet

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Santiago

Num dia histórico, a primeira presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet, 54, disse que demonstrará que o país pode "avançar, sem perder a alma".

Com a voz às vezes embargada, ela avisou que implementará um novo estilo de governar "com mais diálogo" com os diferentes setores.

Emocionada, Bachelet falou para uma multidão que gritava seu nome, erguia bandeiras do país, dos partidos da Concertación, a frente governista, com fotos do ex-presidente socialista Salvador Allende e o ex-guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara.

Michelle subiu ao palco cercada por quatro mulheres e um homem - sua mãe, Angela Jeria, de 79 anos, e os filhos, Sofia, de 12 anos, Francisca, de 21 anos, e Sebastián, de 27 anos, ao lado da namorada.

Mulher presidente

"Que eu esteja aqui e seja a mulher presidente do país é a prova de que o Chile perdeu seus medos. Quem poderia imaginar uma mulher aqui há vinte, dez ou cinco anos?", afirmou.

"Parecia difícil, foi difícil, mas foi possível porque assim os cidadãos quiseram e a democracia permitiu". A multidão delirava, aos gritos de "Michelle, Michelle".

Ela lembrou que teve uma vida difícil, mas disse: "E quem não teve vida difícil?". A presidente eleita agradeceu, principalmente, aos votos das mulheres, maioria no eleitorado chileno e decisivas para sua vitória frente ao candidato da oposição, o empresário Sebastián Piñera.

"Mas a partir do dia 11 de março, não serei só a primeira presidente do Chile, mas governarei para todos os chilenos".

Vestida de terninho azul petróleo, ela lembrou que tem apenas quatro anos de mandato e que não pode perder tempo. O que explica, de certa forma, o café da manhã que terá, nesta segunda-feira, com o presidente Ricardo Lagos.

"O Chile ganhou de novo", disse ela, em referència à nova vitória da Concertación. Pouco antes, Lagos fez um pronunciamento e lembrou da importância desta base governista - formada por quatro partidos de centro-esquerda - que foi decisiva para que a direita, como recordou o ex-presidente Patricio Alwin, não voltasse ao poder.

E quando a presidente eleita citou o nome do presidente Ricardo Lagos - como homem "de grande honra" - a multidão gritou: "Lagos, Lagos". Ao que ela, sorridente, disse:

"Mais alto para que se possa escutar no Palácio presidencial de La Moneda".

Morte do pai

Durante seu discurso, Bachelet provocou lágrimas ao lembrar do pai, general da Força Aérea do Chile, Alberto Bachelet, morto depois de não suportar a tortura, na prisão, durante o regime autoritário de Augusto Pinochet.

"Eu queria poder abraça-lo agora. Mas sei que de uma forma inexplicável ele está perto de mim". Bachelet disse que do pai herdou o amor, "indiscriminado", pelo Chile e o espírito de ordem.

"A violência entrou na minha vida, destruindo o que eu amava. Fui vítima do ódio, mas consegui convertê-lo em compreensão, tolerância e, porque não dizer, em amor", disse.

"Pode-se amar a justiça e, ao mesmo tempo, ser generosa. Porque o Chile se reencontrou e porque avançamos muito e meu governo será de unidade. Governarei para todos os chilenos".

Ela disse que não é a primeira vez que o Chile surpreende o mundo. Segundo ela, após 17 anos de ditadura, o país caminhou dentro das instituições.

Disse ainda que quer implementar suas prometidas medidas sociais para tentar reduzir a desigualdade no país, uma das piores da América Latina apesar dos sucessivos anos de crescimento econômico.

Sediado em Santiago, o secretário da Cepal, o argentino Jose Luis Machinea, sugeriu que o Chile é um exemplo de que o crescimento não é suficiente para combater a concentração de renda.

Segundo o cientista político Guillermo Holzman, da Universidade do Chile, os 5% mais ricos do país concentram cerca de 80% da renda nacional.

Acompanhando Bachelet, os eleitores cantaram o hino nacional, mas pouco antes de que ela subisse ao palco, acompanharam um grupo de músicos mexicanos, outro de música chilena, e até um representante dos mapuchos, que usou um berrante.

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