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Em meio a crise política, Berlusconi adia visita ao Brasil
ASSIMINA VLAHOU
de Roma para a BBC Brasil
Em meio a uma crise política interna, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, adiou mais uma vez sua visita oficial ao Brasil, que deveria ter começado nesta segunda-feira.
A assessoria de imprensa do governo italiano informou à BBC Brasil que a viagem do primeiro-ministro não foi cancelada, mas adiada, sem explicar, contudo, o motivo do adiamento. Uma nova data será definida.
"Somente após a definição da nova data será explicado o motivo do adiamento", informou um dos assessores do premiê.
Nas últimas semanas, Berlusconi tem enfrentado uma crise política relacionada às eleições regionais marcadas para os próximos dias 28 e 29 de março.
O partido do primeiro-ministro, PDL (Povo da Liberdade), corre o risco de ficar fora do pleito nas duas principais regiões do país: Lazio e Lombardia, cujas capitais são Roma e Milão, devido a problemas na apresentação das listas com os candidatos.
Decreto
Silvio Berlusconi passou os últimos dias da semana passada em reuniões com ministros, aliados e com o presidente da República, Giorgio Napolitano, na tentativa de resolver o problema com a aprovação de um decreto-lei.
O decreto, assinado na sexta-feira, está provocando polêmica.
A oposição critica a medida, alegando que se trata de uma mudança arbitrária.
Oposicionistas, constitucionalistas e até bispos da Conferência Episcopal Italiana afirmam que as regras não podem ser mudadas quando um processo está em andamento.
"Mudar as regras enquanto o jogo está em andamento é incorreto, porque se legitima qualquer intervenção arbitrária", afirmou Domenico Mogavero, responsável pelos assuntos jurídicos da Conferência Episcopal Italiana, em entrevista à radio Vaticana no final de semana.
O problema das listas eleitorais, segundo os partidos de oposição, deve-se ao desentendimento que estaria ocorrendo dentro do próprio partido do premiê e às divergências com o principal aliado de Berlusconi, o presidente da Câmara dos Deputados, Gianfranco Fini.
Além da questão das listas eleitorais, Silvio Berlusconi enfrenta problemas com o suposto envolvimento de funcionários do governo em casos de corrupção e com o processo no tribunal de Milão sobre supostas irregularidades na compra de direitos televisivos pelas empresas de propriedade do primeiro-ministro.
No processo, cuja audiência foi marcada inicialmente para esta segunda-feira e adiada para o próximo dia 12 de abril, Silvio Berlusconi está sendo acusado de fraude fiscal.
Até a noite de sexta-feira, quando o decreto-lei sobre as listas eleitorais foi assinado pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, a assessoria da presidência do Conselho de Ministros da Itália não confirmava nem desmentia a viagem do premiê ao Brasil.
Nem mesmo a embaixada brasileira em Roma, cujos funcionários trabalham na organização da visita, tinha uma resposta.
Retribuição
A viagem de Berlusconi ao Brasil, que seria uma retribuição à visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Itália em 2008, foi adiada outras vezes.
Inicialmente, havia sido marcada para o final de fevereiro, mas por conta do Congresso do PT, que ocorreu naquele período, foi agendada para 6 de março. Depois, em meio à crise política envolvendo as listas eleitorais, passou para 9 de março, sendo eliminada uma das etapas da visita: Rio de Janeiro. Agora, um novo adiamento.
No Brasil, Berlusconi deveria encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, para uma breve agenda política e, sobretudo, comercial. A parte mais consistente do acordo deveria ser assinado com a Finmeccanica, holding italiana que opera no setores de defesa, aeronáutica e espacial.
Na área da defesa, o acordo prevê a coprodução de cinco fragatas, cinco navios de patrulha oceânica e um navio logístico, que devem ser construídos no Brasil, em parceria com empresas brasileiras e transferência de tecnologia italiana. O acordo prevê também a participação italiana no sistema de monitoramento por satélite e radar
A parte mais consistente do acordo comercial entre Itália e Brasil ficaria com a Fincantieri, que deve fornecer 50 ou 60 navios para o pré-sal e partes de plataformas de exploração.
Segundo fontes diplomáticas brasileiras, o tema que mais interessa a opinião pública italiana, contudo, a extradição para a Itália do ex-ativista de esquerda Cesare Battisti, deve ficar de fora do próximo encontro entre Berlusconi e Lula.
Cesare Battisti, ex-militante de um grupo armado de extrema esquerda nos anos 70, condenado à prisão perpétua por envolvimento em quatro homicídios na Itália, está preso no Brasil desde 2007.
O STF (Supremo Tribunal Federal) deu parecer favorável à extradição de Battisti, determinando que a decisão final cabe ao presidente da República, que ainda não deu seu parecer.
A tendência, depois de entendimentos com autoridades italianas, é que o presidente Lula anuncie sua decisão depois da eventual visita do premiê italiano ao Brasil e de uma forma que não questione o funcionamento das instituições italianas nem a democracia no país.
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