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12/03/2010 - 11h11

Os 18 da Forbes

IVAN LESSA
colunista da BBC Brasil

Graças a Deus! Já não era sem tempo! A vida é boa e bela e vale a pena ser vivida! Entre as revistas que assino, a "Forbes" americana é leitura obrigatória. Pego na minha caixa dos correios e subo os dois lances de escada da casa em que moro já folheando.

Ninguém me informa melhor sobre as contabilidades deste mundo em que vivemos do que a "Forbes". Talvez se dela fosse assinante o ex-roqueiro e também ex-auxiliar humanitário, hoje um bem vestido contador litigioso, Bob Geldof, este não estaria hoje pensando em processar o Serviço Mundial da BBC por ter divulgado a notícia de que, nos anos 80, naquele célebre concerto da Band Aid, destinado a arrecadar fundos para os pobres miseráveis da Etiópia, 95% da dinheirama tenha ido acabar nas mãos dos rebeldes responsáveis pela tragédia etíope, isto segundo outra escola contabilista que não a seguida por Geldof. A BBC, com sua habitual lisura, limitou-se a citar outras fontes não ligadas à música pop.

Que "New York Review of Books" que nada! Que "London Review of Books" coisa alguma! Que "Veja", que "Time", que "Spectator"! Só está bem informado neste mundo que já foi de Deus quem acompanhar as idas e vindas, subidas e descidas dos cifrões, que, qual loucas pacas no cio, nada mais fazem do que registrar quem somos, o que queremos e para onde vamos.

A edição anual da "Forbes" com sua lista dos homens mais ricos do mundo é mais esperada e tem mais torcida do que qualquer entrega de Oscar. Vive o mundo com a respiração presa próxima ou --no caso de ter muita sorte-- desfilando no tapete vermelho do Mundo Encantado das Finanças, mais deslumbrante que "Avatar", mais humano e sensível do que "Guerra ao Terror". Estilistas e fãs fiéis de todos os Fashion Shows globais, que não são poucos, atentam para cada detalhe da cerimônia que, além do mais, mantém acesa a chama de Gutenberg, famoso iluminista teutônico que inventou a imprensa tal como a conhecíamos até há pouco antes da --e estou próximo ao busílis-- internet.

Bill Gates, que pontificou durante muitos anos na dianteira da lista da "Forbes", foi finalmente deposto. E por quem? Por um mexicano, para terem uma ideia das voltas que o mundo dá. Mexicano e além do mais com nome de jogador profissional de pôquer ou goleiro de seleção: Carlos Slim, com uma fortuna calculada (não por Bob Geldof e seu batalhão de contadores ineptos) em cerca de US$ 53,5 bilhões.

O importante mesmo, o que nos diz e impõe respeito, fazendo nosso peito estufar de orgulho, é o ocupante do mais que honroso 8º lugar. Trata-se do nosso muito conhecido, o mais ou menos brasileiro Eike (pronuncia-se ái-que) Fuhrken Batista, oriundo de Governador Valadares, Minas Gerais, claro, com a respeitável fortuna, ao menos declarada, de US$ 27 bilhões.

Não cessa aí seu feito notável. Eike Batista, sempre segundo a "Forbes", foi o integrante da lista que mais aumentou sua fortuna entre 2009 e 2010, com um crescimento de US$ 19,5 bilhões. Um espanto! Uma virada sensacional! No ano passado, o prendado empresário e engenheiro metalúrgico, atuante destacado em várias áreas, como os setores de mineração e petróleo, não passava de um modesto, embora digno, 61º. lugar.

Agora, aí está. Ou aí estamos! Quando um brasileiro vence, vencemos todos. Tem mais: nada mais, nada menos do que 18 bilionários brasileiros agraciam a lista de notáveis. Governador Valadares já decretou um dia de feriado municipal. Como o espetacular herói da Forbes tem entre suas várias residências também uma no Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão, para não ficar atrás, decretou 3 dias de feriado. Por que o governo não decreta Feriado Nacional em honra dos 18 da Forbes, confesso-me perplexo, embora, ao contrário do irado Bob Geldof, não me ocorre nem recriminar nem, muito menos, processar ninguém! Mais, já que está na moda: estátua neles! Ou para eles. Se "Os 18 do Forte" são lembrados e reverenciados até hoje, que dizer dos 18 da Forbes?

Como dizem nossas atuais raposas políticas: conosco ninguém podemos! Tomou, mundo?

 

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