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03/05/2010 - 10h31

Cadeiras e assentos. Mas e os bancos?

IVAN LESSA
colunista da BBC Brasil

Logo que eu cheguei ao Reino Unido, em 1968, ainda se falava das eleições gerais de 1966, quando o trabalhista Harold Wilson fora eleito premiê.

Eu vinha de um país pouco acostumado a eleições e sem uma tradição eleitoral digna ou indigna do nome. No decorrer da série de cursos que a BBC se dá ao laborioso trabalho de preparar para seus recém-contratados, um deles, evidentemente, era --e espero que continue a ser-- uma passagem pelas instituições britânicas. A Mãe-Parlamento, conforme aprendi no colégio, e sua formação, constava com merecido destaque da pauta. A gente chega a país novo, onde pretende se ficar, no mínimo, uns tempinhos, e como um pet, conforme dizem os brasileiros de hoje, achamos a maior graça em tudo.

Ausência de voto direto não me era estranha. Indireto ou o que fosse. Votar não era com a gente. Apenas mais um estrangeirismo. Passam-se os anos, como passaram boleros pela voz da Emilinha Borba. Lembro de algumas eleições como se fosse hoje. O inusitado nos marca.

Como olvidar-te, eleições de 1970, quando os conservadores voltaram ao poder, na figura algo bizarra de Edward Heath, rindo com os ombros a sacudir? Impossível esquecer 1974, que ficou e ficará na história como o ano das três eleições. Que esbanjo, Senhor! E veio 1979 e com ele, por mais de década, Dona Margaret Thatcher, que de bolsa em punho aguentou a barra do governo até 1990. E tomem John Major e tomem (muito, mas muito mesmo) Tony Blair.

As campanhas, nesses anos todos, nunca deram para levar um eleitor ao desespero. Feito injeção. Dói um pouquinho, mas logo passa. As de quinta-feira agora não fogem à exceção.

Ao contrário daquela dona de casa que o candidato Gordon Brown chamou de "preconceituosa", não me preocupo com a imigração e a chegada, segundo ela, em massa, de gente do Leste Europeu vindo em busca de emprego que seria legitimamente deles, britânicos. Até mesmo a educação, que ela teria discutido (?) com Brown, não me ocupa espaço na hoje blasé paisagem política interior.

Acompanhei o mínimo possível as campanhas, Fiz como quando tomei a vacina contra a gripe suína. Olhei para outro lado. Uma coisa, ou duas coisinhas, me preocupam. Os assentos, as cadeiras, volta a 1968. Nós aqui, no que chamavam então de Serviço Brasileiro da BBC, aprendíamos que era para dizer cadeira. Que Fulano ou Sicrano ambicionava uma cadeira entre as 650 (eram menos, então) que o Parlamento oferecia.

Noto agora que andam falando em assento. Assento no Parlamento. Vou até ao bom Houaiss, Lá está: cadeira é a segundo acepção da palavra, significando "lugar ou assento ocupado por uma pessoa eminente especialmente no exercício de um cargo ou na condição de autoridade." Recuo para a letra A de assento. Lá está: "superfície sobre a qual se senta; parte específica de uma cadeira, sofá, poltrona etc; lugar que oferece segurança e/ou estabilidade; região glútea, conjunto das nádegas."

Nos jornais brasileiros, estão indo, como costumavam ir, de cadeira. Sei que isso não é importante. Mas, como dizia o sábio Chacrinha, "quem não comunica, se trumbica". Não trumbiquemos, irmãos, não trumbiquemos.

Por fim, os bancos. Nada a ver com economia, para mim, um dos poucos brasileiros que aqui não vota. Estou falando de banco mesmo. Daqueles que você para na rua para sentar. Não tem, não vi candidato algum falar em construir mais. Quer dizer, ninguém tem pulmão fraco, ninguém sofre de enfisema no Reino Unido.

Eu, para chegar e voltar do local de trabalho (sim, a BBC Brasil), tenho de parar umas 5 ou 6 vezes em lugares estratégicos que nada tem a ver com banco, me apoiando como posso aqui e ali. Apenas dois deles a extensão horizontal plástica vermelha, de não mais que 2 metros, que serve para sustentar a região glútea dos pobres coitados que esperam o ônibus.

Banco dentro do metrô também era exagero não ter. Nas estações e nos vagões. Não valem os bancos dos jardins particulares, que mais particulares não podem ser e não há chave para os que precisam de uma parada para pegar fôlego. Praça Trafalgar, de que tanto se orgulham, quatro plintos e banco nenhum.

Em algumas praças públicas, Leicester Square, por exemplo tem. Mas não dá para sair do caminho e procurar uma praça pública só para não botar os bofes para fora. Os ingleses nascem de pé e de pé preferem viver. Comem e bebem de pé, de preferência. Futebol via-se em pé. Foi necessário uma tragédia horrenda para eles transformarem os estádios em aquilo que chamam de "all seaters".

Agora, parem com esses assentos ou essas cadeiras e espalhem no meu caminho, e de outros velhos de peito fraco, alguns bancos decentes, que nada tenham a ver com JP Morgan ou Goldman Sachs e os por eles bonificados. Cuidemos, ó eleitos, daqueles onde baixar a bunda mesmo. Só e apenas.

 

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