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29/11/2007 - 07h26

Bispo encontra fiéis, curiosos e autoridades durante greve de fome

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FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Sobradinho (BA)

Com 72 quilos, cinco a mais do que pesava quando iniciou sua primeira greve de fome dois anos atrás, o bispo dom Luiz Flávio Cappio, 61, passou os primeiros dias do seu segundo jejum contra a transposição das águas do rio São Francisco fazendo campanha corpo-a-corpo em favor da sua tese.

Ontem, em Sobradinho (BA), local escolhido para o protesto, Cappio deixou várias vezes a sacristia da igreja de São Francisco para atender, do lado de fora, os fiéis, autoridades e curiosos que pediam para vê-lo.

À tarde, ele chegou a se sentar ao pé da porta com um grupo de 30 estudantes da 6ª série de uma escola municipal para explicar às crianças sua visão sobre o projeto do governo.

Os alunos, que caminharam três quilômetros para encontrá-lo, saíram satisfeitos. "Foi importante, porque fiquei sabendo que era tudo o contrário do que eu pensava", disse a aluna Rosimeire Ferreira,13.

O religioso, que entra hoje no terceiro dia de jejum, passa a maior parte do tempo sentado dentro de uma sala abafada, coberta por telhas de amianto, sob a mira constante de um ventilador e sempre acompanhado por pelo menos dez seguidores. Muitos deles jejuam por um dia em solidariedade.

Aparentando despreocupação e boa saúde, a todo instante ele concede entrevistas no local ou por telefone celular. De meia em meia hora, bebe em uma caneca de plástico amarelo dois dedos de água do rio São Francisco, filtrada em um pote de barro. Em público, Cappio não aparece sem o hábito e o chinelo de frei franciscano.

À noite, ele ministra uma missa no próprio local, onde também explica, em seu sermão, a razão do seu protesto aos fiéis. Duas vezes por dia, o religioso descansa em um pequeno quarto de oito metros quadrados, com a porta corroída por cupins e apenas uma pequena janela basculante.

Cappio dorme em um colchão colocado diretamente sobre o chão de cimento vermelho. Suas roupas, que ele mesmo lava, secam sobre cordas de náilon presas à parede. Do lado de fora, há muita terra seca, calor e poeira. Faixas de apoio ao bispo e contra a transposição foram instaladas no local.

Apesar do crescente fluxo de visitantes, o clima em Sobradinho ainda não é parecido com o de Cabrobó (PE), onde romarias se formaram para ver o religioso, que permaneceu 11 dias sem comer em 2005.

Cappio, que encerrou o protesto anterior quatro quilos mais magro, reclama hoje que o governo não cumpriu o acordo que determinou o fim do primeiro jejum. Segundo ele, as obras começaram sem as discussões sobre o projeto.

O governo nega a acusação. Diz que a transposição será feita e lamenta pela decisão do bispo. O religioso afirma que manterá o jejum até a morte, se o projeto não for arquivado. Ele não vê descumprimento de dogma da igreja ao colocar sua vida em risco com o protesto.

"A história da igreja foi construída sobre o sangue de pessoas que doaram suas vidas pelas outras", afirmou. "A maior glória de um pastor é dar a vida por seu rebanho", declarou.

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