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25/02/2009 - 10h12

Funai demitiu antropólogos por protestos durante a ditadura

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RUBENS VALENTE
enviado especial da Folha a Brasília

No segundo semestre de 1980, a política indigenista da ditadura militar sofreu um duro ataque do próprio corpo de especialistas do governo. Um grupo de antropólogos e indigenistas lotados na Funai (Fundação Nacional do Índio) rebelou-se contra a política oficial de "integração" dos índios à "sociedade nacional" e entregou uma carta de protesto ao então ministro do Interior, coronel Mário Andreazza.

Além de pedir a substituição dos coronéis do Exército e da Aeronáutica que comandavam a Funai, os indigenistas protestavam contra a demissão de colegas ligados à nascente SBI (Sociedade Brasileira de Indigenistas), ONG que denunciava mazelas do setor, com repercussão internacional.

A reação foi imediata: 68 indigenistas, antropólogos e outros servidores foram demitidos "por justa causa" ou "indisciplina" nos dias seguintes. Essa é a parte pública do episódio.

A abertura dos arquivos da ASI (Assessoria de Segurança e Informações), o braço do SNI (Serviço Nacional de Informações) na Funai, entregues ao Arquivo Nacional de Brasília após três décadas de sigilo, revela que os antropólogos eram acompanhados por arapongas meses antes do início dessa que é considerada a maior crise indigenista da ditadura.

Ontem, a Folha mostrou que os papéis do SNI também comprovam a espionagem dos missionários que fundaram o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ligado à Igreja Católica, durante o governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). Os militares acreditavam que o conselho queria "subverter" o controle do órgão sobre os índios.

O libelo dos indigenistas, usado pelo regime para justificar as decisões, só foi redigido dois meses depois que uma reunião da SBI foi gravada em fita cassete, transcrita e relatada à Funai. A infiltração na reunião da SBI foi também anterior às primeiras demissões.

O arquivo da ASI contém as 19 páginas datilografadas em papel timbrado que resumiram a reunião. No encontro, os dirigentes foram acusados pela perda de territórios indígenas para colonos e posseiros. Os servidores denunciavam que os principais cargos eram ocupados por militares estranhos aos conceitos da tradição do indigenismo brasileiro.

Em vez de apurar as acusações, Andreazza (1918-1988) entregou a carta à ASI da Funai e iniciou as demissões, executadas pelo coronel João Carlos Nobre da Veiga, então presidente do órgão. Veiga havia sido o coordenador do braço do SNI, uma DSI (Divisão de Segurança e Informações) na então companhia estatal Rio Doce Geologia e Mineração.

Outra evidência veio à tona na época da crise. Segundo Cláudio dos Santos Romero, um dos fundadores da SBI, os indigenistas desconfiaram de um espectador de uma reunião que dizia ser "professor em Luiziânia", Goiás. Depois de interpelado, descobriu-se que o homem era capitão do Exército. Romero tirou foto dele e a enviou anonimamente para o coronel do Exército Ivan Zanoni Hauser, um alto funcionário da Funai que estava investigando a SBI. O coronel ficou furioso, disse à Folha.

O indigenista era um crítico da ditadura. No meio da reunião de 1980, pelo relato do araponga, Romero --que presidiu o órgão nos anos 90-- levantou-se para declarar que a "cúpula da Funai é terrível e sutil". Houve também denúncias sobre o comportamento de delegados regionais, que supostamente beneficiavam colonos e posseiros em detrimento dos índios.

Outros documentos mostram que a vigilância se estendeu a indigenistas não relacionados com a SBI. Um "relatório de missão" descreve a ida de policiais federais a uma aldeia em Santa Terezinha (MT), para "investigar as atividades de um indivíduo suspeito de possuir curso superior", mas que trabalhava no posto da Funai "como pedreiro". A PF nada concluiu sobre Lázaro Dirceu Mendes Aguirre, formado em filosofia. Ele, que mora até hoje na região e trabalha com os mesmos índios tapirapés, fazia trabalho voluntário.

Comentários dos leitores
jose ap belizario (61) 22/01/2010 10h43
jose ap belizario (61) 22/01/2010 10h43
todo mundo está se prontificando a ajudar o haiti , todos os países ,agora me dis e o vaticano?até agora naõ vi nenhuma manifestaçaõ desse país que se dis bondoso, cade a ajuda da sia santa que tem fundos para ajudar vitimas de calamidades, sem opinião
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Paulo Saffioti (99) 14/01/2010 02h42
Paulo Saffioti (99) 14/01/2010 02h42
Os atos secretos (corrupção ativa) já não são mais secretos e fazem isso para todos verem que fizeram e nada acontece. Não existe certo e errado, as imagens não falam por si, o que vemos são apenas capitulos de uma novela que não acaba e que a cada dia nos tras novos capitulos onde somos meros espectadores e que o autor determina o desfecho, onde o réu é o juiz de seu próprio julgamento, onde nada dá em nada e tudo não é nada, onde um um terço da população passa fome e que 290 crianças morrem por dia em decorrência das doenças da fome e o presidente faz a maior doação de todos os paises do mundo para o Haiti
Nos episódios do RJ -SP - MG _SC -E RS eu não vi ele nem fazer um pronunciamento. Agora ele ligo até para o Barak? Não estou entendendo. Agum petista pode me explicar? Um terço de nossa população passa fome ou é mal nutrido. 290 crianças morrem por dia em decorrência das doenças da fome. E lele vai ajudar o Thaiti ? Os maiores e mais poderosos paises do mundo onde não existe nem a metade da fome que existe aqui não foram tão generosos. Isso mostra pq ele é tão querido mundo afora. Tira do povo Brasileiro para ajudar os outros. É muito importante ajudar o próximo. Mas sem propaganda. Ajudar dentro de suas condições. SE eu tenho dois eu divido se tenho um fica na minha familia. E ai cobramos os que tem dois ou mais para dividir e que não querem. O que o Brasil anunciou de doação é 3 vezes mais que o país que doou mais. E são paises ricos. Perai né. Propaganda tem limites!
sem opinião
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Paulo Saffioti (99) 14/01/2010 00h09
Paulo Saffioti (99) 14/01/2010 00h09
Vejam pq o mundo adora o Lula
Ajuda ao Haiti:
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu "apoio total" ao país mas não falou de valores.
A ONU autorizou uma verba de US$ 10 milhões de seu fundo de emergências.
A Comissão Europeia desbloqueou uma primeira ajuda de US$ 4,3 milhões
O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, prometeu o envio de ajuda humanitária, com equipamento de emergência e contribuição financeira ainda não definida.
A Espanha anunciou ajuda de US$ 4,3 milhões
A Alemanha ofereceu US$ 2,18 milhões
Bélgica, Suécia e Luxemburgo ofereceram equipamentos de purificação de água, tendas, ajuda médica e de resgate de sobreviventes.
A Conferência Episcopal Italiana (CEI) também anunciou 2 milhões de euros,
O governo italiano anunciou 1 milhão de euros
México anunciou o envio de um grupo de médicos
Venezuela enviou um avião da Força Aérea Bolivariana (FAB) com remédios, alimentos, água e ferramentas. E O PAÍS MAIS RICO DO MUNDO?
O Brasil anunciou ajuda de US$ 15 milhões, além de 28 toneladas de alimentos. Além disso, o presidente Lula , em conversa por telefone com o presidente dos EUA, propôs uma reunião do grupo de países empenhados em ajudar na reconstrução do Haiti. Propus ao Obama que o Brasil está disposto a participar, junto com os EUA e a ONU, na coordenação de uma reunião dos países doadores, para que a gente possa agilizar logo o que seja necessário de recursos para recuperar o Haiti.
LULA: RECUPERA O BRASIL PRIMEIRO!
3 opiniões
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