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31/08/2003
-
02h36
RAFAEL CARIELLO
RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta ao pretender descolar de si o rótulo de esquerdista, se considerada uma pesquisa inédita do Datafolha, feita nos dias 31 de março e 1º de abril. Para a maioria dos eleitores, o governo Lula é de direita.
Dos entrevistados, 38% classificam a gestão de Lula como sendo de direita ou centro-direita --número superior aos 33% que a consideram como de esquerda ou centro-esquerda e aos 12% que a têm como de centro. Não souberam responder 16%. A pergunta não voltou a ser feita em outros levantamentos.
Na última terça-feira, o presidente Lula disse na Venezuela: "Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda".
"O eleitor sabe se localizar no espectro político e identificar as diferentes posições", diz o cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, professor do departamento de economia da USP.
A afirmação é relevante pois boa parte dos cientistas políticos afirma que os conceitos de esquerda e direita não são usados de maneira precisa pelos eleitores.
Guilhon foi o orientador do cientista político André Singer, o atual porta-voz da Presidência da República, em uma tese de doutorado em que Singer defende que os eleitores "captam intuitivamente" as orientações dos partidos e dos candidatos.
"O eleitor identifica a esquerda como uma opção por mudanças e a direita como uma opção pela estabilidade", explica Guilhon.
Esse reconhecimento ideológico, ainda que difuso, foi usado por Singer para explicar o comportamento eleitoral nas campanhas presidenciais de 1989 e 1994. A tese virou livro, pela Edusp, intitulado "Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro".
Singer usou uma pesquisa feita pelo Datafolha em 1989 em que os entrevistados indicaram o posicionamento num cartão com sete números, sendo o número um o máximo à esquerda e o sete o máximo à direita. A mesma técnica foi usada na pesquisa deste ano.
No último levantamento, também foi pedido às pessoas que dissessem como se posicionam. A maior parte dos que souberam responder, 49%, identificou-se como de direita ou centro-direita.
Um levantamento de três pesquisas (1989, 2000 e 2003) apresenta uma relativa estabilidade nas proporções de pessoas que se classificam como de esquerda, de centro e de direita. "Isso é prova de que há coerência [ideológica]", diz o sociólogo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
Essa sofisticação do eleitor, diz Guilhon, aparece na avaliação de Lula. "O programa do atual governo não se destaca muito do programa anterior, que era de centro-direita."
Apesar de prevalecer Lula na direita, o desequilíbrio entre as posições não é grande. Essa aparente indefinição do eleitor, diz Guilhon, reflete a confusão da coligação de governo, que abriga as três orientações ideológicas.
Desconhecimento
O cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), vai na direção contrária: "Há uma enorme confusão provocada pela desinformação".
Segundo ele, para muitos eleitores, afirmar que uma pessoa é de direita significa dizer que ela é correta, honesta e direita.
A pesquisa mostra que Lula é tido como direitista principalmente por quem estudou menos. A situação é parecida quando se considera a renda. Por mostrar um eleitorado que se diz direitista, o cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz que a pesquisa reforça a idéia de que Lula tem forte apoio popular:
"O presidente exerce uma atração que pouco tem a ver com o ideário do partido. Não há como negar que há uma identificação dos brasileiros com Lula, mesmo que apoiada em bases equívocas."
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A provação a Lula sobe de 42% para 45%
Governo Lula é de direita, diz eleitor
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RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta ao pretender descolar de si o rótulo de esquerdista, se considerada uma pesquisa inédita do Datafolha, feita nos dias 31 de março e 1º de abril. Para a maioria dos eleitores, o governo Lula é de direita.
Dos entrevistados, 38% classificam a gestão de Lula como sendo de direita ou centro-direita --número superior aos 33% que a consideram como de esquerda ou centro-esquerda e aos 12% que a têm como de centro. Não souberam responder 16%. A pergunta não voltou a ser feita em outros levantamentos.
Na última terça-feira, o presidente Lula disse na Venezuela: "Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda".
"O eleitor sabe se localizar no espectro político e identificar as diferentes posições", diz o cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, professor do departamento de economia da USP.
A afirmação é relevante pois boa parte dos cientistas políticos afirma que os conceitos de esquerda e direita não são usados de maneira precisa pelos eleitores.
Guilhon foi o orientador do cientista político André Singer, o atual porta-voz da Presidência da República, em uma tese de doutorado em que Singer defende que os eleitores "captam intuitivamente" as orientações dos partidos e dos candidatos.
"O eleitor identifica a esquerda como uma opção por mudanças e a direita como uma opção pela estabilidade", explica Guilhon.
Esse reconhecimento ideológico, ainda que difuso, foi usado por Singer para explicar o comportamento eleitoral nas campanhas presidenciais de 1989 e 1994. A tese virou livro, pela Edusp, intitulado "Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro".
Singer usou uma pesquisa feita pelo Datafolha em 1989 em que os entrevistados indicaram o posicionamento num cartão com sete números, sendo o número um o máximo à esquerda e o sete o máximo à direita. A mesma técnica foi usada na pesquisa deste ano.
No último levantamento, também foi pedido às pessoas que dissessem como se posicionam. A maior parte dos que souberam responder, 49%, identificou-se como de direita ou centro-direita.
Um levantamento de três pesquisas (1989, 2000 e 2003) apresenta uma relativa estabilidade nas proporções de pessoas que se classificam como de esquerda, de centro e de direita. "Isso é prova de que há coerência [ideológica]", diz o sociólogo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
Essa sofisticação do eleitor, diz Guilhon, aparece na avaliação de Lula. "O programa do atual governo não se destaca muito do programa anterior, que era de centro-direita."
Apesar de prevalecer Lula na direita, o desequilíbrio entre as posições não é grande. Essa aparente indefinição do eleitor, diz Guilhon, reflete a confusão da coligação de governo, que abriga as três orientações ideológicas.
Desconhecimento
O cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), vai na direção contrária: "Há uma enorme confusão provocada pela desinformação".
Segundo ele, para muitos eleitores, afirmar que uma pessoa é de direita significa dizer que ela é correta, honesta e direita.
A pesquisa mostra que Lula é tido como direitista principalmente por quem estudou menos. A situação é parecida quando se considera a renda. Por mostrar um eleitorado que se diz direitista, o cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz que a pesquisa reforça a idéia de que Lula tem forte apoio popular:
"O presidente exerce uma atração que pouco tem a ver com o ideário do partido. Não há como negar que há uma identificação dos brasileiros com Lula, mesmo que apoiada em bases equívocas."
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