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26/07/2004 - 06h13

Agora PF está no encalço de espião inglês no caso Kroll

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ANDRÉA MICHAEL
FERNANDO RODRIGUES

da Folha de S.Paulo, em Brasília

Um espião inglês contratado pela Kroll estava na mira da Polícia Federal. O nome de Wiliam, que é um agente do serviço secreto britânico aposentado conhecido pelo apelido Bill, surgiu de diálogos monitorados --em telefonemas e e-mails-- pela PF com autorização judicial, em meio às investigações relacionadas à atuação da Kroll no segmento de telecomunicações.

A idéia da PF era prender Bill juntamente com Tiago Verdial, detido no sábado no Rio de Janeiro e levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Há alguns dias há mandado de prisão expedido para ambos.

Mas a divulgação do caso na última quinta-feira, em reportagem exclusiva da Folha, precipitou a decisão de executar o mandado judicial somente para Verdial, sem esperar um novo retorno de Bill ao Brasil.

O espião inglês, ex-integrante do famoso MI6 (área externa da inteligência britânica), é o coordenador mundial do chamado Projeto Tóquio, um esquema de investigação internacional de negócios na área de telecomunicações. Em seu âmbito a Kroll, contratada por Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, tinha como alvo investigar a Telecom Italia. As empresas travam batalhas judiciais.

A Brasil Telecom é controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Sua liderança, no entanto, é questionada pela Telecom Italia.

Conforme dados reunidos pela PF, Dantas havia contratado a Kroll há mais de cinco anos para levantar informações relacionadas ao setor de telecomunicações. O banqueiro estava disposto a romper o contrato, mas a Kroll conseguiu manter o negócio usando profissionais estrangeiros, como Verdial, que é português, e o inglês Bill.

O Projeto Tóquio, cujo foco atual de apuração estava no Brasil e na Itália, resvalou em espionagem de autoridades do governo brasileiro, como o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb.

Objetivos

Na investigação em curso, iniciada em março como desdobramento de um inquérito relacionado à falência da Parmalat, a PF tem três objetivos: 1) provar eventuais ilegalidades praticadas pela Kroll; 2) provar o grau de conhecimento e conivência que os seus contratantes tinham sobre os ilícitos que podem ter sido praticados e 3) chegar às bases da disputa comercial entre Telecom Italia e Brasil Telecom, com a apuração de crimes de ordem econômica/comercial.

Segundo a Folha apurou, a direção da PF considera já ter em mãos provas documentais de que a Kroll fez monitoramento ilegal de autoridades e corrompeu servidores para obter informações privilegiadas. Haveria também evidências de grampo ilegal de e-mails e de telefones.

No caso dos outros dois objetivos --saber se o contratante da Kroll, a Brasil Telecom, compactuou com ilícitos e se há mais crimes de ordem econômica a serem investigados--, ainda não há na PF certeza sobre o rumo a seguir.

Pelas informações que recebeu até o momento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, autoridade escalada para acompanhar os interesses de Estado no caso, diz estar convicto de que o governo não foi espionado.

"É claramente uma disputa de empresas. Cabe ao Estado, e isso estamos fazendo, investigar que tipo de crime eventualmente foi cometido", diz Bastos.

A diretoria da Kroll no Brasil se reunirá hoje para discutir o caso.

Prisão de Verdial

No sábado, quando prendeu Verdial no Rio de Janeiro, a PF executou mandados de busca e apreensão de documentos e equipamentos (computadores, por exemplo), que estão sendo periciados em Brasília.

Documentos em poder da PF revelam que Verdial informou à Kroll que pagava por "provas". Em um de seus e-mails, o agente disse ter guardado algumas dessas "provas" e o local onde estariam "caixas" com elas. Seguindo a pista, a PF apreendeu o material.

Não está claro, entretanto, se Verdial teve tempo, nos últimos dias, para limpar também esse material de alguma evidência contra si. Verdial prestou depoimento entre as 20h30 do sábado e às 3h30 da madrugada de domingo. Ontem à tarde, novamente foi ouvido pela PF.

Acompanhado de três advogados, o colaborador da Kroll confirmou as bases do contrato em que a empresa tinha como alvo a Italia Telecom. Procurados, nem ele nem os advogados falaram à reportagem.

A colaboração de Verdial foi limitada, segundo a Folha apurou. Ele é acusado de formação de quadrilha, corrupção ativa, quebra de sigilo constitucional, exploração de prestígio e obtenção ilegal de documentos confidenciais.

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