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22/10/2004
-
19h42
JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio
O Ministério de Ciência e Tecnologia reagiu às acusações veiculadas na revista "Science" sobre uma suposta capacidade de produção de ogivas nucleares na usina de enriquecimento de urânio em Resende, dizendo-se "perplexo".
Segundo o presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Gonçalves, o país está agora diante de um "novo tipo de ruído" nas negociações com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Embora o artigo tenha sido publicado pela "Science", o que lhe confere um status de artigo científico, o material não foi submetido a uma comissão especializada. Ele foi publicado no Forum, um espaço reservado para debate e discussão.
Apesar disso, em nota o Ministério de Ciência e Tecnologia afirmou que a reprodução do artigo causou "estranheza e perplexidade".
Uma das principais acusações dos autores Liz Palmer e Gary Milhollin, pesquisadores de uma organização não-governamental em Washington, o Projeto Winscosin de Controle de Armas Nucleares, é que o governo brasileiro teria impedido a visão das centrífugas aos inspetores da AIEA por ter copiado de equipamentos da empresa européia Urenco.
O governo alega que o sigilo sobre as dimensões e as quantidades de centrífugas tem por objetivo proteger a tecnologia nacional. "Eu não consigo saber o que sejam esses interesses escusos [que motivaram a publicação do artigo], mas só pode ser para provocar algum tipo de reação da agência ou da nossa parte", disse Gonçalves.
A cópia das centrífugas teria sido fruto de uma suposta parceria entre Karl-Heinz Schaab, um empregado da alemã Man Technologie AG, que desenvolveu centrífugas para a Urenco, empresa européia de enriquecimento de urânio, e o Brasil.
Schaab foi preso no Brasil em 1996 e extraditado em 1999 para a Alemanha sob a acusação de vender projetos de centrífugas para o Iraque.
Segundo a Cnen, enquanto Schaab esteve preso no Brasil, a AIEA recebeu a permissão do governo brasileiro para entrevistá-lo na Polícia Federal sobre a venda de tecnologia para o Iraque.
O presidente da Cnen não descartou a hipótese de compra de material de Schaab. "Tudo que nós sabemos é que ele fazia parte de uma empresa que comercializava material, não tenho certeza nem sobre a natureza dessa empresa", disse. Segundo Gonçalves, no entanto, caso se tratasse de uma atividade escusa, Schaab não teria sido preso e colocado à disposição da AIEA. "Isso mostra a postura do Brasil de concordância com todos os procedimentos", afirmou.
Diplomacia
A publicação do artigo na "Science" abre um novo capítulo nas negociações com a AIEA. A imprensa internacional já havia levantado suspeitas sobre o programa nuclear brasileiro, mas o porte e a respeitabilidade da publicação levaram o ministério a pedir o auxílio do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur.
Segundo Gonçalves, ainda não foi possível conversar com Abdenur, mas o ministério vai pedir a ele que encaminhe a nota oficial à revista com uma resposta do embaixador. Esta será a primeira vez que um representante da diplomacia irá intervir nas negociações da fábrica de Resende com a agência. Até então, as conversas foram realizadas em nível técnico.
Tecnologia
Os cálculos apresentados pelos pesquisadores no artigo foram refutados pela CNEN e por especialistas. Gonçalves afirmou que a fábrica não tem condições de enriquecer urânio a 90%, percentual mínimo de concentração para abastecer uma bomba nuclear. A fábrica foi desenvolvida para abastecer o reator de Angra 1 e Angra 2.
Segundo o professor do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe, Aquilino Senra, a forma como a fábrica foi projetada não permite o enriquecimento de urânio acima de 5% sem provocar uma reação em cadeia. "O percentual não é definido ao acaso, ele representa a quantidade necessária para manter uma produção constante de energia ao longo do tempo no reator", disse.
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da Folha Online, no Rio
O Ministério de Ciência e Tecnologia reagiu às acusações veiculadas na revista "Science" sobre uma suposta capacidade de produção de ogivas nucleares na usina de enriquecimento de urânio em Resende, dizendo-se "perplexo".
Segundo o presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Gonçalves, o país está agora diante de um "novo tipo de ruído" nas negociações com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Embora o artigo tenha sido publicado pela "Science", o que lhe confere um status de artigo científico, o material não foi submetido a uma comissão especializada. Ele foi publicado no Forum, um espaço reservado para debate e discussão.
Apesar disso, em nota o Ministério de Ciência e Tecnologia afirmou que a reprodução do artigo causou "estranheza e perplexidade".
Uma das principais acusações dos autores Liz Palmer e Gary Milhollin, pesquisadores de uma organização não-governamental em Washington, o Projeto Winscosin de Controle de Armas Nucleares, é que o governo brasileiro teria impedido a visão das centrífugas aos inspetores da AIEA por ter copiado de equipamentos da empresa européia Urenco.
O governo alega que o sigilo sobre as dimensões e as quantidades de centrífugas tem por objetivo proteger a tecnologia nacional. "Eu não consigo saber o que sejam esses interesses escusos [que motivaram a publicação do artigo], mas só pode ser para provocar algum tipo de reação da agência ou da nossa parte", disse Gonçalves.
A cópia das centrífugas teria sido fruto de uma suposta parceria entre Karl-Heinz Schaab, um empregado da alemã Man Technologie AG, que desenvolveu centrífugas para a Urenco, empresa européia de enriquecimento de urânio, e o Brasil.
Schaab foi preso no Brasil em 1996 e extraditado em 1999 para a Alemanha sob a acusação de vender projetos de centrífugas para o Iraque.
Segundo a Cnen, enquanto Schaab esteve preso no Brasil, a AIEA recebeu a permissão do governo brasileiro para entrevistá-lo na Polícia Federal sobre a venda de tecnologia para o Iraque.
O presidente da Cnen não descartou a hipótese de compra de material de Schaab. "Tudo que nós sabemos é que ele fazia parte de uma empresa que comercializava material, não tenho certeza nem sobre a natureza dessa empresa", disse. Segundo Gonçalves, no entanto, caso se tratasse de uma atividade escusa, Schaab não teria sido preso e colocado à disposição da AIEA. "Isso mostra a postura do Brasil de concordância com todos os procedimentos", afirmou.
Diplomacia
A publicação do artigo na "Science" abre um novo capítulo nas negociações com a AIEA. A imprensa internacional já havia levantado suspeitas sobre o programa nuclear brasileiro, mas o porte e a respeitabilidade da publicação levaram o ministério a pedir o auxílio do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur.
Segundo Gonçalves, ainda não foi possível conversar com Abdenur, mas o ministério vai pedir a ele que encaminhe a nota oficial à revista com uma resposta do embaixador. Esta será a primeira vez que um representante da diplomacia irá intervir nas negociações da fábrica de Resende com a agência. Até então, as conversas foram realizadas em nível técnico.
Tecnologia
Os cálculos apresentados pelos pesquisadores no artigo foram refutados pela CNEN e por especialistas. Gonçalves afirmou que a fábrica não tem condições de enriquecer urânio a 90%, percentual mínimo de concentração para abastecer uma bomba nuclear. A fábrica foi desenvolvida para abastecer o reator de Angra 1 e Angra 2.
Segundo o professor do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe, Aquilino Senra, a forma como a fábrica foi projetada não permite o enriquecimento de urânio acima de 5% sem provocar uma reação em cadeia. "O percentual não é definido ao acaso, ele representa a quantidade necessária para manter uma produção constante de energia ao longo do tempo no reator", disse.
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