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15/12/2004 - 09h00

Brigadeiro suspeita de ação de militar da reserva em Salvador

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ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro-do-ar Luiz Carlos Bueno, disse ontem que militares da reserva podem estar por trás do mal explicado episódio dos arquivos da ditadura militar (1964-1985) parcialmente queimados na Base Aérea de Salvador: "Deve ter gente da reserva que tenha documento, não da ativa", disse Bueno à Folha, frisando que isso é crime.

Na sua opinião, quem queimou parte dos documentos, filmou tudo, deixou um saco com outros intactos e passou para a imprensa "só pode ser maluco, irresponsável, não é uma pessoa normal".

"Antes [da divulgação dos documentos queimados, no domingo], eu tinha dúvidas. Agora, eu não posso afirmar mais nada, não posso afirmar que não haja documentos. Está claro que muita gente guardou documentos e é preciso ficar claro que isso é crime."

Para reforçar que apenas pessoas da reserva devem ter documentos, o comandante argumentou que a maioria dos oficiais na ativa eram muito jovens em 1964 para terem tido participação ativa no movimento militar. Ele próprio, hoje com 64 anos, era segundo-tenente, em início de carreira.

Ele contou que "não dormiu um minuto" de domingo para a segunda, tem reunido oficiais-generais e conversado com autoridades do governo e não consegue respostas para as dúvidas no episódio. "A quem interessa causar esse tumulto todo? Por que chamuscaram só uns pedacinhos e deixaram o resto intacto? E por que [os papéis] aparecem só agora?", questionou, para dizer que, por mais que pense, sente-se "girando em círculos, num labirinto, sem respostas".

"Luta política"

Para o Palácio do Planalto e setores políticos do governo, toda a história dos papéis queimados em Salvador faz parte de uma "luta política" e a questão "é grave", com a observação de que os papéis que sobraram são considerados acessórios. "Um despiste", como ouviu a Folha no governo.

O comandante concorda que todo o episódio "é muito grave" e tem "um alto grau de simbolismo" num momento em que o governo e a sociedade discutem a abertura de arquivos da ditadura.

Bueno disse que considera "legítimo" o direito de as famílias dos desaparecidos conhecerem o destino de seus parentes: "Entendo a angústia dos familiares das vítimas e acho que temos de ajudar essas pessoas a obter toda a informação possível. Deve ser terrível perder um familiar e nunca mais ter notícias dele".

Ele leu trechos de um ofício que encaminhou em 30 de novembro para o Centro de Inteligência da Aeronáutica, solicitando um "reexame do disposto nos arquivos do sistema de inteligência no que se refere ao período de 1964 a 1985".

No mesmo ofício, ele especifica que "o intuito é identificar a documentação de cunho histórico que favoreça o atendimento a legítimas demandas da sociedade".

Ao mesmo tempo, Bueno disse que acionou os comandos da Aeronáutica para enviarem diretamente a Brasília todo o material que tenham sobre o período da ditadura e pretende concentrar tudo o que for enviado na parte térrea da sede do comando.

Curiosamente, porém, o discurso da Aeronáutica ao longo de toda a discussão sobre a abertura dos arquivos, neste ano, foi o de que 30 toneladas de papéis foram queimados num incêndio do aeroporto Santos Dumont, do Rio de Janeiro, em 1998. Não haveria, portanto, arquivos disponíveis.

Ontem, o brigadeiro solicitou ao Ministério Público que destaque um procurador para atuar diretamente das investigações em Salvador. Segundo ele, Exército, Marinha e Aeronáutica "querem descobrir tudo". Depois, acrescentou: "O ministro da Defesa [vice-presidente José Alencar] e o presidente da República [Luiz Inácio Lula da Silva] têm o maior interesse em descobrir tudo. E nós vamos fundo para descobrir".

Ao encerrar a conversa, perguntou: "Será que [os que queimaram papéis na Bahia] querem denegrir o comando da Aeronáutica?".

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