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25/02/2005
-
09h25
LAURA CAPRIGLIONE
da enviada especial da Folha de S.Paulo a Anapu
De volta a Anapu, aonde foram levados para participar da reconstituição do assassinato da irmã Dorothy Stang, dois dos principais acusados confirmaram suas participações no crime. Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, mostrou como disparou os seis tiros que mataram a freira.
Eduardo, codinome de Clodoaldo Carlos Batista, confirmou que acompanhava Rayfran na hora do crime.
Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que Rayfran e Eduardo acusam de ter sido quem os contratou como pistoleiros, seguiu negando qualquer envolvimento com a morte.
Foi a primeira vez, desde o dia da morte de Dorothy (12 de fevereiro) que os três puseram os pés na área do conflito. Foram levados de helicóptero de Altamira, onde estão presos. Com coletes à prova de balas, eles entraram na arena da reconstituição às 12h10. A área, do tamanho de uma quadra de futebol de salão, fora previamente isolada pela polícia.
Em volta dela, numa pilha de galhos de madeira, 53 assentados que eram liderados pela irmã assistiram à encenação, enquanto 15 homens do Exército, com uniformes de camuflagem e embrenhados na floresta, montavam guarda. No cercado, 20 policiais militares, três delegados da Polícia Civil, 23 investigadores, além de cinegrafistas da polícia técnica e agentes da polícia federal.
Primeiro entrou Rayfran e os dublês da freira e de Eduardo, recrutados na hora entre os espectadores. Calmo, voz firme, ele contou como a irmã perguntou a ele por que o pessoal da fazenda de Bida (Vitalmiro Bastos de Moura, acusado de ser o mandante do crime) estava jogando semente de capim sobre as lavouras dos assentados --ao germinar, o capim, como uma praga, mata outras espécies vegetais que estejam no mesmo terreno.
Rayfran disse ter respondido à irmã com outra pergunta: "A senhora não come carne?", alusão ao fato de o capim servir para alimentar o gado. A freira respondeu que sim, que comia carne. E começou a ler-lhe a Bíblia, Evangelho de Mateus, na parte do sermão da Montanha, versículos 5, 6 e 9, que dizem: "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!".
Rayfran contou como encerrou a conversa: "Bom, irmã, assim não dá".
Olhou para Eduardo, deu-lhe uma piscadela, tirou a arma que estava enfiada na calça, segurou-a com as duas mãos e disparou o primeiro tiro --na região do abdome. Caída, a irmã ainda foi alvejada nas costas (duas vezes) e na cabeça (três vezes).
O delegado da Divisão de Investigações e Operações Especiais da Polícia Civil paraense, Waldir Freire Cardoso, comandava a gravação do vídeo da reconstituição: "Na hora da piscada, corta para a outra câmera, para pegar o rosto do Eduardo".
Na arquibancada improvisada dos assentados, Luiz Araújo Barbosa, 37 anos, maranhense que há três meses está instalado na área do crime, impacientava-se. "É cruel um bandido desses ter proteção desse tamanho", disse, a respeito do aparato de segurança.
A reconstituição seguinte foi feita com Eduardo e dublês da freira e de Rayfran. Eduardo, também aparentando calma, contou pausadamente a mesma versão do cúmplice, divergindo apenas em um detalhe fundamental para a sua defesa. Disse que, quando Rayfran piscou, fez com a cabeça um leve sinal de "não", tentando dissuadir o colega.
"Gente morta"
Tato participou da reconstituição de uma reunião na véspera do crime, que contou com a participação de irmã Dorothy, Rayfran, Eduardo e de assentados.
Segundo Rayfran e Eduardo, foi uma conversa tensa, em que a irmã reclamou das sementes de capim lançadas sobre a plantação e convidou todos a se unirem à causa da construção de um Projeto de Desenvolvimento Sustentável na área. Ao convite, Tato, segundo Rayfran e Eduardo, teria respondido: "Se você puser gente na minha terra, não vai dar conta de carregar gente morta nas costas".
Diferentemente de Rayfran e Eduardo, que chegavam a sorrir durante entrevista a jornalistas, parecendo não entender o que acontecia, Tato tinha a fronte franzida pela tensão. Ele disse ter respondido ao convite da irmã apenas com a frase: "Eu não tenho interesse nisso". E prosseguiu negando envolvimento no crime.
O teatro foi desmontado às 16h30, quando jornalistas, Exército, polícias Civil, Militar e Federal saíram do local a bordo de suas L-200 Mitsubishi e dos helicópteros Cougar e Blackhawk. Bem nessa hora, os assentados, de novo sozinhos na mata, reuniram-se no local em que Dorothy foi morta. Ajoelhados, velas acesas, rezaram o terço em intenção da alma dela.
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De volta a Anapu, aonde foram levados para participar da reconstituição do assassinato da irmã Dorothy Stang, dois dos principais acusados confirmaram suas participações no crime. Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, mostrou como disparou os seis tiros que mataram a freira.
Eduardo, codinome de Clodoaldo Carlos Batista, confirmou que acompanhava Rayfran na hora do crime.
Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que Rayfran e Eduardo acusam de ter sido quem os contratou como pistoleiros, seguiu negando qualquer envolvimento com a morte.
Foi a primeira vez, desde o dia da morte de Dorothy (12 de fevereiro) que os três puseram os pés na área do conflito. Foram levados de helicóptero de Altamira, onde estão presos. Com coletes à prova de balas, eles entraram na arena da reconstituição às 12h10. A área, do tamanho de uma quadra de futebol de salão, fora previamente isolada pela polícia.
Em volta dela, numa pilha de galhos de madeira, 53 assentados que eram liderados pela irmã assistiram à encenação, enquanto 15 homens do Exército, com uniformes de camuflagem e embrenhados na floresta, montavam guarda. No cercado, 20 policiais militares, três delegados da Polícia Civil, 23 investigadores, além de cinegrafistas da polícia técnica e agentes da polícia federal.
Primeiro entrou Rayfran e os dublês da freira e de Eduardo, recrutados na hora entre os espectadores. Calmo, voz firme, ele contou como a irmã perguntou a ele por que o pessoal da fazenda de Bida (Vitalmiro Bastos de Moura, acusado de ser o mandante do crime) estava jogando semente de capim sobre as lavouras dos assentados --ao germinar, o capim, como uma praga, mata outras espécies vegetais que estejam no mesmo terreno.
Rayfran disse ter respondido à irmã com outra pergunta: "A senhora não come carne?", alusão ao fato de o capim servir para alimentar o gado. A freira respondeu que sim, que comia carne. E começou a ler-lhe a Bíblia, Evangelho de Mateus, na parte do sermão da Montanha, versículos 5, 6 e 9, que dizem: "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!".
Rayfran contou como encerrou a conversa: "Bom, irmã, assim não dá".
Olhou para Eduardo, deu-lhe uma piscadela, tirou a arma que estava enfiada na calça, segurou-a com as duas mãos e disparou o primeiro tiro --na região do abdome. Caída, a irmã ainda foi alvejada nas costas (duas vezes) e na cabeça (três vezes).
O delegado da Divisão de Investigações e Operações Especiais da Polícia Civil paraense, Waldir Freire Cardoso, comandava a gravação do vídeo da reconstituição: "Na hora da piscada, corta para a outra câmera, para pegar o rosto do Eduardo".
Na arquibancada improvisada dos assentados, Luiz Araújo Barbosa, 37 anos, maranhense que há três meses está instalado na área do crime, impacientava-se. "É cruel um bandido desses ter proteção desse tamanho", disse, a respeito do aparato de segurança.
A reconstituição seguinte foi feita com Eduardo e dublês da freira e de Rayfran. Eduardo, também aparentando calma, contou pausadamente a mesma versão do cúmplice, divergindo apenas em um detalhe fundamental para a sua defesa. Disse que, quando Rayfran piscou, fez com a cabeça um leve sinal de "não", tentando dissuadir o colega.
"Gente morta"
Tato participou da reconstituição de uma reunião na véspera do crime, que contou com a participação de irmã Dorothy, Rayfran, Eduardo e de assentados.
Segundo Rayfran e Eduardo, foi uma conversa tensa, em que a irmã reclamou das sementes de capim lançadas sobre a plantação e convidou todos a se unirem à causa da construção de um Projeto de Desenvolvimento Sustentável na área. Ao convite, Tato, segundo Rayfran e Eduardo, teria respondido: "Se você puser gente na minha terra, não vai dar conta de carregar gente morta nas costas".
Diferentemente de Rayfran e Eduardo, que chegavam a sorrir durante entrevista a jornalistas, parecendo não entender o que acontecia, Tato tinha a fronte franzida pela tensão. Ele disse ter respondido ao convite da irmã apenas com a frase: "Eu não tenho interesse nisso". E prosseguiu negando envolvimento no crime.
O teatro foi desmontado às 16h30, quando jornalistas, Exército, polícias Civil, Militar e Federal saíram do local a bordo de suas L-200 Mitsubishi e dos helicópteros Cougar e Blackhawk. Bem nessa hora, os assentados, de novo sozinhos na mata, reuniram-se no local em que Dorothy foi morta. Ajoelhados, velas acesas, rezaram o terço em intenção da alma dela.
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