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27/04/2005
-
09h37
JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Uiramutã
Os índios ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) que mantêm quatro policiais federais reféns na comunidade Flechal, desde a última sexta-feira, decidiram radicalizar. Eles condicionam a libertação dos policiais à revogação, pelo governo federal, da portaria que homologou a reserva Raposa/Serra do Sol em área contínua.
Os índios querem a homologação em ilhas, deixando de fora da reserva áreas urbanas e propriedades rurais e comunidades de não-índios, especialmente de produtores de arroz. Antes, eles condicionavam a libertação dos reféns à visita do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na área. Ontem, os tuxauas (líderes) que receberam a reportagem da Folha mudaram o discurso.
"A liberação vai acontecer só com a revogação da portaria. Não aceitamos ser isolados. O índio quer se desenvolver, melhorar de vida, e o governo quer a gente isolado. Isso não vamos aceitar", disse o tuxaua Jonas Marcolino, líder da maloca Contão. Estudante de direito, Marcolino disse que os índios querem as escolas nas comunidades --mantidas hoje pelo governo estadual-- e não "voltar à idade da pedra lascada".
O líder da maloca Nova Vida, tuxaua Amazonas, quer mais. Além de exigir a revogação da portaria, ele defende "um movimento nacional para o impeachment de Lula, que não defende os interesses nacionais, mas governa sob pressão internacional".
O líder da comunidade Flechal, tuxaua Altevir de Souza, candidato derrotado a vereador pelo PT nas últimas eleições em Uiramutã, não permitiu que a Folha entrevistasse os policiais federais mantidos reféns. Segundo ele, os policiais estavam bem e "fora da comunidade, se refrescando".
Os quatro reféns, no entanto, foram mantidos em uma casa, próximo à uma cozinha comunitária, durante praticamente todo o tempo em que a reportagem da Folha esteve no local.
Os índios fizeram um acordo com o delegado Alexander Biegas e os três agentes para que eles mantivessem suas armas. Eles, porém, não podem caminhar armados pela aldeia.
O avião que levou a imprensa até a comunidade Flechal foi recepcionado por um grupo de cerca de 60 guerreiros, armados de flechas e pintados, comandados pelo tuxaua Abel Barbosa. Na comunidade vivem 750 macuxis.
Depois das entrevistas, os jornalistas foram levados à cozinha comunitária e convidados "a merendar" por Altevir de Souza. O tuxaua fez questão que se experimentasse o pajuaru --uma bebida fermentada à base de mandioca, de sabor agridoce. É costume macuxi beber o pajuaru antes e depois das refeições.
Somente depois que os convidados e as lideranças almoçaram, um macuxi anunciou, gritando na sua língua materna, o horário do almoço. Em menos de cinco minutos uma multidão de crianças, mulheres e homens formaram fila em torno da cozinha comunitária.
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da Agência Folha, em Uiramutã
Os índios ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) que mantêm quatro policiais federais reféns na comunidade Flechal, desde a última sexta-feira, decidiram radicalizar. Eles condicionam a libertação dos policiais à revogação, pelo governo federal, da portaria que homologou a reserva Raposa/Serra do Sol em área contínua.
Os índios querem a homologação em ilhas, deixando de fora da reserva áreas urbanas e propriedades rurais e comunidades de não-índios, especialmente de produtores de arroz. Antes, eles condicionavam a libertação dos reféns à visita do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na área. Ontem, os tuxauas (líderes) que receberam a reportagem da Folha mudaram o discurso.
"A liberação vai acontecer só com a revogação da portaria. Não aceitamos ser isolados. O índio quer se desenvolver, melhorar de vida, e o governo quer a gente isolado. Isso não vamos aceitar", disse o tuxaua Jonas Marcolino, líder da maloca Contão. Estudante de direito, Marcolino disse que os índios querem as escolas nas comunidades --mantidas hoje pelo governo estadual-- e não "voltar à idade da pedra lascada".
O líder da maloca Nova Vida, tuxaua Amazonas, quer mais. Além de exigir a revogação da portaria, ele defende "um movimento nacional para o impeachment de Lula, que não defende os interesses nacionais, mas governa sob pressão internacional".
O líder da comunidade Flechal, tuxaua Altevir de Souza, candidato derrotado a vereador pelo PT nas últimas eleições em Uiramutã, não permitiu que a Folha entrevistasse os policiais federais mantidos reféns. Segundo ele, os policiais estavam bem e "fora da comunidade, se refrescando".
Os quatro reféns, no entanto, foram mantidos em uma casa, próximo à uma cozinha comunitária, durante praticamente todo o tempo em que a reportagem da Folha esteve no local.
Os índios fizeram um acordo com o delegado Alexander Biegas e os três agentes para que eles mantivessem suas armas. Eles, porém, não podem caminhar armados pela aldeia.
O avião que levou a imprensa até a comunidade Flechal foi recepcionado por um grupo de cerca de 60 guerreiros, armados de flechas e pintados, comandados pelo tuxaua Abel Barbosa. Na comunidade vivem 750 macuxis.
Depois das entrevistas, os jornalistas foram levados à cozinha comunitária e convidados "a merendar" por Altevir de Souza. O tuxaua fez questão que se experimentasse o pajuaru --uma bebida fermentada à base de mandioca, de sabor agridoce. É costume macuxi beber o pajuaru antes e depois das refeições.
Somente depois que os convidados e as lideranças almoçaram, um macuxi anunciou, gritando na sua língua materna, o horário do almoço. Em menos de cinco minutos uma multidão de crianças, mulheres e homens formaram fila em torno da cozinha comunitária.
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