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06/06/2005 - 09h18

"Sim, eu preciso da CPI, eu errei", diz Jefferson

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RENATA LO PRETE
da Folha de S.Paulo

Depois de assinar e dias depois retirar seu nome da lista de parlamentares a favor da CPI dos Correios no Congresso, Roberto Jefferson disse ontem que a instalação da comissão é "fundamental" para a sua imagem e de seu partido. "Sim. Eu preciso [da CPI]. Eu errei. Eu não deveria ter recuado, não deveria ter recuado."

Na entrevista de ontem, o petebista também atacou o PT e o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, o partido do presidente "não tem coração". E mais: "Ele [o PT] nos usa como uma amante e tem vergonha de aparecer conosco à luz do dia".

Sobre o Palácio do Planalto, se declarou abandonado após as recentes denúncias de corrupção envolvendo seu nome. "O governo se afastou, correu. Não são parceiros, não são solidários."

Na entrevista com a Folha, Jefferson relatou sua relação com os personagens citados nas últimas denúncias. Se disse distante de Maurício Marinho (ex-servidor dos Correios que aparece em fita negociando propina) e sugeriu que o ex-presidente do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) Lídio Duarte estava bêbado quando tratou de propina em entrevista.

E confessou: "[O momento] é difícil, mas eu vou enfrentar, vou enfrentar de peito aberto".

Folha - Como presidente do PTB, há alguma coisa que hoje o sr. faria diferente em relação ao PT e ao governo Lula?

Roberto Jefferson -
O PT não tem coração.

Folha - Mas, à luz de sua mágoa...

Jefferson -
Eu não tenho mágoa, não.

Folha - Se o senhor voltasse atrás, o senhor conduziria o partido de alguma outra maneira?

Jefferson -
Não faria, não faria, não faria, não faria o acordo com o governo. Não faria. Eu sempre disse aos meus companheiros, e eles são testemunhas desde o início, o PT não tem coração, só tem cabeça. Ele nos usa como uma amante e tem vergonha de aparecer conosco à luz do dia. Nós somos para o PT gente de segunda, eu sempre me senti assim. A relação sempre foi a pior possível. O [José Carlos] Martinez [então presidente do PTB] morreu [em 2003] dizendo que ele queria carinho do presidente Lula, que jamais o recebeu. Essa política mudou recentemente. O presidente passou a fazer política há algum tempo atrás e a nos receber. A nossa relação com o PT não é boa, não é boa. Você não pode confiar --o que está fechado não está fechado. Tudo o que é dito não é cumprido. Toda a palavra que é empenhada não é honrada. O PT esgarçou, esgarçou, esgarçou a minha autoridade como presidente do PTB, porque prometeu e não cumpriu. O pior foi na eleição, o que o Genoino [presidente do PT] fez comigo. Ele e o seu Delúbio [Soares, secretário de Finanças do PT].
Prometeram e não cumpriram, e eu avalizei diante dos companheiros o que eles fariam, lá na sede do PT. Então esgarça a autoridade, esgarça o limite, a relação. Quando atende, já não vale mais, porque você já sofreu tanto, já passou tanta privação, já ficou um negócio tão ruim.

Folha - A impressão é que a relação entre PT, governo e PTB caminhava para um entendimento mais orgânico.

Jefferson -
Essa fita da revista ["Veja"] sobre a empresa de Correios. O governo se afastou, correu. Porque entendeu que a relação ao nosso lado... o próprio discurso do Genoino desqualificava a relação. Eu entendi claramente o discurso do deputado Genoino de que seria preciso requalificar a base --o PTB é uma base desqualificada. Foi isso que afetou. Não segurou ninguém. Não são parceiros, não são solidários.

Folha - E a relação do sr. com os citados nos casos dos Correios e do IRB [Instituto Brasileiro de Resseguros]?

Jefferson -
Não tratei de nenhum assunto com o doutor [Maurício] Marinho [ex-funcionário dos Correios que aparece em fita negociando propina]. Com a CPI, com a quebra de sigilos telefônico e fiscal, vai ficar claro que ele não tem nenhuma relação comigo. Tenho relação com o doutor Antonio Osório [ex-diretor de Administração dos Correios]. É meu velho amigo, amigo querido, deputado federal comigo em 1982. Vinha sempre terminar as noites aqui no PTB, batendo papo comigo. Um homem sério, um homem honrado, correto. Podem investigar a vida dele que não vão encontrar nada, porque não tem. Pobrezinho. Vive do salário do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], onde ele é funcionário há 35 anos.

Folha - O senhor quer a CPI?

Jefferson -
Sim. Eu preciso. Eu errei. Eu não deveria ter recuado, não deveria ter recuado. Porque vão circunscrever a desonra ao PTB. E o PTB só pode recuperar sua auto-estima e sua honra falando de público ao povo, para ser julgado. Quero olhar nos olhos do povo, porque eu não tenho dúvida de que a CPI será transmitida por todo mundo, pelas redes de TV e de rádio. Então, eu vou falar olhando dentro dos olhos das pessoas que estão em casa.
Para a honra do PTB, para a nossa imagem e a do PTB, é fundamental que haja CPI.

Folha - Por que o sr. mudou de opinião sobre a CPI?

Jefferson -
Eu vi que o governo agiu para isolar o PTB. Vai ter que sangrar a cabeça de alguém na guilhotina, tem que haver carne e sangue aos chacais. A "Veja" falou que sou o homem-bomba. E o que você faz com a bomba? Ou desativa ou faz explodir. Estou percebendo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido.

Folha - E o Lídio Duarte?

Jefferson -
A minha relação com o doutor Lídio [Duarte, ex-presidente do IRB] foi a mais elevada e a mais correta. Se você me disser: "Roberto, você ficou com alguma chateação com o doutor Lídio?" Eu respondo: fiquei. Achei que, por ódio, por eu tê-lo afastado da presidência do partido. Conheço o doutor Lídio por ter conversado com ele umas três ou quatro vezes pessoalmente. Achei que na entrevista à "Veja" ele estava um pouquinho alterado, bebida.
Tanto que ele procurou se redimir nas cartas e no depoimento à PF. Eu tenho dele a melhor impressão, um homem honrado, honrou o PTB à frente do IRB, não é? Ajudou, dentro da lei, ao PTB quando nós pedimos ajuda a ele. Quando eu pedi a ele que ajudasse através das segurados e corretoras, que ele influísse para que elas fizessem doações ao PTB, ele não conseguiu, porque ninguém queria dar por dentro [de maneira legal], temendo isso que está aí, isso de que o Henrique Brandão é hoje vítima. Doou R$ 70 mil para a campanha de Cristiane, filha de Roberto Jefferson, esse bandido. É a leitura que fazem. Ninguém quer correr riscos. Isso é ruim. Nós vamos ter de discutir esse processo. Aqui, doação é sinônimo de crime, quando não é.
Eu não temo o enfrentamento público. Nunca temi. Talvez por isso eu tenha construído essa fama de truculento, de homem violento. Não sou um homem agressivo, não tenho na minha vida registro de uma lesão corporal contra uma pessoa, não fiz nenhum mal a uma pessoa. Só cara de bravo, pinta de bravo, jeito de bravo.

Folha - Como têm sido seus últimos dias?

Jefferson -
Antes eu temia no olhar das pessoas a rejeição da obesidade mórbida que eu ostentava [pesava 175 kg antes de operação de redução do estômago. Hoje está com 96 kg]. Era uma coisa meio patológica, que graças a Deus eu superei. Agora vou enfrentar mais essa.
Já passei já por duas CPIs, a do Collor e a do Orçamento. Quando o senador [Eduardo] Suplicy me denunciou, ou o PT me denunciou, disse que eu houvera recebido US$ 1 milhão, a minha vida virou um inferno. Já fui investigado, minha ex-mulher foi investigada, meus filhos, meu pai.
É um sofrimento. E eu estou vendo que esse processo está voltando. Eu não posso mais sair na rua. Eu estou cativo das denúncias que são feitas contra mim. Hoje eu sou prisioneiro, aqui do apartamento funcional. Se eu sair na rua, você verá: "Olha lá o ladrão dos Correios, o ladrão do IRB". Nem ao dentista eu estou conseguindo ir mais. É difícil, mas eu vou enfrentar, vou enfrentar de peito aberto.

Folha - Nesta semana a revista "Época" traz reportagem na qual um sorveteiro é acusado de atuar como laranja do sr. em duas rádios.

Jefferson -
O [empresário de Três Rios] Edson [Elias Bastos] Jorge, que já possuía uma rádio, a Rádio Três Rios, pediu duas concessões de rádio, e eu ofereci. E disse: "Você vai colocar lá o Durval [da Silva Monteiro, dono de uma sorveteria em Cabo Frio e ex-funcionário do petebista], que é meu irmão preto, esse guerreiro, meu amigo do peito. Você vai ajudar dando a ele a participação acionária no contrato social da rádio. Então você vai dar na rádio AM que vai sair em Paraíba do Sul e nessa FM de Três Rios, a participação do Durval". É uma maldade, é uma perversidade da revista tratar o Durval como laranja.

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