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20/07/2005 - 09h14

Valério pagou deputados do PT, PP e PL

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MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

A análise preliminar dos dados bancários das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza revelou ontem na CPI dos Correios pagamentos em dinheiro entre os anos 2003 e 2004 que beneficiaram direta ou indiretamente, segundo os parlamentares da comissão, pelo menos três deputados federais do PT, um do PP e um do PL, dos quais dois são líderes partidários na Câmara.

Os registros do Banco Rural indicam que o publicitário autorizava saques das contas da SMPB Comunicação nas agências do Banco Rural de Brasília e de Belo Horizonte (MG) para pessoas ligadas aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara dos Deputados, Josias Gomes (PT-BA), Paulo Rocha (PT-PA), líder do PT na Câmara, José Janene (PP-PR), líder do partido na Casa, e Bispo Rodrigues (PL-RJ), vice-líder da sigla.

O único parlamentar que pessoalmente sacou o dinheiro foi Josias. Num espaço de sete dias, entre agosto e setembro de 2003, o deputado compareceu à agência do Rural no Shopping Brasília e fez duas retiradas de R$ 50 mil. Ele deixou na agência, como identificação, cópia da própria carteira de parlamentar.

De acordo com os integrantes da CPI, a mulher de João Paulo Cunha, Márcia Milanésio Cunha, recebeu R$ 50 mil da empresa. Em sua gestão na Câmara, João Paulo contratou em dezembro de 2003 a mesma SMPB para os serviços de propaganda da Casa.

A assessora do líder do PT na Câmara, Anita Leocádia Pereira Costa, fez saques no valor total de R$ 320 mil.

O chefe-de-gabinete do deputado Janene, João Cláudio de Carvalho Genu, sacou das contas da empresa pelo menos R$ 1,1 milhão. Há três saques, no valor total de R$ 300 mil, que teriam beneficiado o deputado Bispo Rodrigues (em um deles, o nome do deputado está riscado, segundo os parlamentares que tiveram acesso à documentação).

Também o ex-tesoureiro nacional do PL, Jacinto Lamas, aparece sacando R$ 200 mil.

Uma lista com 38 sacadores, divulgada por parlamentares ontem à noite, ainda é parcial. Até as 22h30, cerca de 80% do material havia sido analisado pela equipe técnica da comissão. O total de saques passava de R$ 25 milhões, a maioria da empresa SMPB.

Além de pessoas ligadas a parlamentares, a análise indicou um grande sacador ainda desconhecido da CPI, David Rodrigues Alves, que retirou das contas da SMP&B perto de R$ 5 milhões. Segundo os primeiros levantamentos da CPI, Alves é policial civil de Belo Horizonte (MG), tem seis armas registradas em seu nome, com salário pago pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.

A pessoa responsável pelo maior volume de saques é a funcionária de Marcos Valério da área financeira Simone Vasconcelos. Ela aparece como responsável pelo saque de mais de R$ 6 milhões.

A CPI e a Polícia Federal ainda não sabem o destino real do dinheiro retirado por David e Simone, cerca de R$ 11 milhões --ambos eram considerados, até ontem, meros canais de passagem para outros beneficiários ainda não identificados.

O esquema de repasse de dinheiro funcionava da seguinte forma: a SMPB emitia o cheque em Belo Horizonte e, por fax, autorizava o gerente da agência em Brasília a fazer o pagamento para determinadas pessoas que compareciam ao caixa do banco. Para comprovar sua identidade, o beneficiário deixava no banco cópias de documentos pessoais. Todo esse material, até então arquivado no banco, chegou no início da tarde de ontem à CPI em cinco caixas.

A reação dos parlamentares às primeiras revelações do sigilo bancário das contas empresariais de Valério oscilou entre a perplexidade e o silêncio. "Hoje estou como aquele macaquinho", disse o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), fazendo sinal de que não ouve, não fala nem vê.

"Os documentos confirmam integralmente as denúncias do deputado Roberto Jefferson [PTB-RJ]", disse o deputado Ônix Lorenzoni (PFL-RS). "Vamos ouvir uma a uma essas pessoas. O Delúbio vai ter de dizer para onde ia o dinheiro", afirmou o senador César Borges (PFL-BA).

Houve deputados mais empolgados. "Está comprovado o mensalão", disse Pompeo de Mattos (PDT-RS).

Seguido por repórteres nos corredores, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), não conseguia explicações, só balançava a cabeça e dizia que deveria "aguardar as respostas" dos colegas de bancada. "Os dados são impressionantes", chegou a admitir. Mais tarde, Cardozo reconheceu: "Há indícios muito fortes de que possa ter existido o mensalão ou contribuições de campanha que ocorreram de forma estranha".

Subrelator das movimentações financeiras, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), no entra-e-sai da sala que guarda os documentos sigilosos, resumiu: "Não tem volta. Está ficando de um tamanho que não dá mais para abafar".

Outro líder

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Rocha (PA), não foi localizado pela Folha. Segundo sua assessoria, ele estava em trânsito de São Paulo para Brasília. Na semana passada, Rocha confirmou que sua assessora Anita Leocádia foi ao prédio em que há a agência do Banco Rural, mas apenas para consultar-se numa clínica situada no local.

O deputado Josias Gomes (PT-BA) também não foi localizado ontem. Um assessor de nome Fábio atendeu o telefone celular do deputado e afirmou que não estava com Gomes nem sabia onde ele estava.

Já João Cláudio Genu, assessor da liderança do PP na Câmara, foi procurado em sua casa, em Brasília, mas ninguém atendeu aos telefonemas. Segundo a assessoria do partido, ele e o líder na Câmara, José Janene não iriam falar.

A assessoria do PL declarou que o partido não conhece os documentos sigilosos em poder da CPI. "O PL pronunciará uma posição depois de conhecer os documentos."

O PL reafirmou que teve uma relação comercial com a agência SMPB para confecção da nova logomarca do partido, trabalho pelo qual pagou R$ 47 mil em 2003. Jacinto Lamas não atendeu às ligações.

O deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) não foi localizado. Ninguém atendeu as ligações.

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