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24/07/2005 - 09h32

"Estou convencido de que o Lula sabia", afirma Peres

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FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Por discrição, e não por espalhafato --este uma das marcas da CPI dos Correios--, por lucidez e mordacidade, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) se transformou num dos personagens da crise política que assola o governo.

Alegando ser "inútil", recusou-se a interrogar um Delúbio Soares munido de habeas corpus. Na mesma ocasião, insinuou que a CPI era uma "ópera bufa" e terminou citando uma canção portuguesa: "Tudo isso existe, tudo isso é triste, tudo isso é fado".

A atuação na comissão tem-lhe rendido elogios de analistas de todos os matizes. Na última semana, propôs um pacto entre os grandes partidos do país (PT, PMDB, PSDB e PFL), inspirado num modelo chileno, pelo qual se garantiria a governabilidade independentemente do desfecho da crise, de forma a permitir também a estabilidade econômica e mudanças graduais no modelo macroeconômico.

Em entrevista à Folha, José Jefferson Carpinteiro Peres, advogado e professor universitário, afirma não ter dúvida da existência do "mensalão" nem de que Lula sabia da corrupção. Prevê a possibilidade de impeachment e avalia que o saldo da crise será positivamente revolucionário para o país.

Folha - Como caminha a proposta do sr. de um pacto à chilena?
Jefferson Peres -
Conversei com o Arthur Virgílio [líder do PSDB no Senado] e com o José Agripino [líder do PFL], e fui procurado por um senador do PT, que me pediu reserva e disse que iria instar o Planalto a considerar a hipótese de uma negociação. Tanto o Virgílio quanto o Agripino acham que não é impossível, mas que precisa vir um sinal do lado de lá. O senador petista não voltou a me procurar. Eu me sinto muito à vontade para agir, porque não falo em nome do meu partido, sou um free-lancer nesse caso.

Folha - O sr. acha que o PT está mesmo aberto para negociar isso?
Peres -
Acho que ainda resta arrogância, que era grande no passado e já diminuiu um pouco, ao governo e à direção do PT. E o presidente, desculpe a dureza da expressão, parece que está sofrendo uma certa alienação da realidade, continua com um discurso panglossiano, ultraotimista, vê tudo cor-de-rosa. Como ele é um homem experiente e inteligente, das duas, uma: ou está fazendo teatro puro para ver se influencia a sociedade ou está alienado.

Folha - Com o que a CPI analisou até aqui, é possível afirmar se havia o "mensalão"?
Peres -
Talvez não na forma de uma mesada, mas acho que eram pagamentos pontuais. Sempre que precisavam, os parlamentares subornados, para aderir ou permanecer no governo, recorriam ao caixa dois do Delúbio. Pouco importa que tenha sido mensal, semestral ou esporádico, configura suborno, corrupção.

Folha - Onde a CPI pode chegar?
Peres -
Creio que, quando chegarem todos os documentos, sobretudo esses que estão no Supremo, com mais de cem nomes, e quando vierem as acareações do Roberto Jefferson com o Delúbio e com o Dirceu, a crise pode chegar até onde nem se imaginava.

Folha - A um impeachment?
Peres -
Acho que sim. Estou convencido de que o Lula sabia de tudo, menos detalhes. Mas não posso cassar o presidente pelo meu convencimento. Precisa de provas ou de evidências fortes. E elas podem surgir nesses dois fatos.

Folha - Que lições ou contribuição a crise pode trazer ao país?
Peres -
Nunca esses subterrâneos da política vieram à superfície de forma tão chocante. No caso PC Farias, haviam vindo, mas o mais chocante ainda é que agora é com um partido como o PT, que parecia ter tanto compromisso ético. Foi tão impactante que acho que vai servir para começar a mudar os costumes políticos do país, tanto do ponto de vista institucional como do repúdio geral da sociedade, a desmoralização da classe política, a ojeriza do povo, a mobilização dos meios de comunicação. Daqui por diante, será muito mais difícil fazer isso.

Folha - Mas também se dizia isso após o Collorgate...
Peres -
Mas, aos olhos da população, aquilo parecia uma coisa pessoal do Collor, que foi demonizado. Agora não, está provado que ninguém escapa, nem o PT, ninguém. Todos faziam ou tentavam fazer isso de uma forma ou de outra. É mais grave, mas talvez tenha mais conseqüências positivas que o do Collor.

Folha - O que esperar dos próximos depoimentos à CPI, já que os últimos pouco acrescentaram?
Peres -
Acho que os depoimentos da Renilda [Santiago, mulher de Valério] e da Simone [Vasconcelos, funcionária do publicitário] serão muito úteis. Espero que elas não tenham o mesmo sangue frio dos outros, que sejam mais frágeis, possam desmoronar. Presumivelmente são mais frágeis. Não por serem mulheres, mas por serem mais vítimas do que autoras.

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