Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/10/2005 - 20h27

2.500 participam da missa celebrada por bispo que está em greve de fome

Publicidade

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Cabrobó

Cerca de 2.500 pessoas, segundo a Polícia Militar, acompanharam hoje, em Cabrobó (a 600 km de Recife, PE), a missa celebrada na caatinga pelo bispo de Barra (BA), Luiz Flávio Cappio, 59, em greve de fome há dez dias contra o projeto de transposição do rio São Francisco.

Em um altar improvisado sobre um palco montado ao lado da capela onde se isolou em jejum, Cappio recebeu o apoio de quatro integrantes do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) que aderiram à greve de fome.

José Santana Monte, 58, José Hélio Ferreira da Silva, 21, Maria Isabel da Silva, 24, e Romualdo Pessoa, 21, se apresentaram como voluntários, após decisão coletiva tomada pelo movimento, de participar do jejum.

"Precisamos defender a vida do rio até a morte", disse Pessoa. Os voluntários foram recrutados tanto em Estados afetados pela transposição (Ceará e Paraíba) quanto em não-afetados (Sergipe e Alagoas).

Durante a missa, o frei reiterou sua disposição de manter o protesto até a morte. Ele voltou a pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a revogação do projeto e, no final, pediu também mobilização popular: "Vamos lutar pela vida do rio e por esse pobre servo de Deus", declarou.

Magro, amparado por auxiliares, mas ainda lúcido, o bispo participou do evento até o fim. Rezou, emocionou-se com os discursos e até pediu a um sanfoneiro um "dó maior" para cantar o hino religioso "Que todos tenham a vida eterna".

Sob o sol forte do sertão e castigados pelo vento e a poeira, os fiéis rezavam e aplaudiam, muitos com as cabeças cobertas por panos e até galhos de árvores.

Alguns fiéis chegaram a ensaiar frases com críticas a Lula, mas foram repreendidos pelos organizadores que estavam no altar. Os religiosos disseram que nada tinham contra o presidente e que apenas esperavam dele a revogação imediata do projeto de transposição.

Cappio não comentou a reação contra Lula, mas, pouco antes da missa, pediu aos jornalistas que não centralizassem as atenções nele --o bispo --, prevendo atitudes de mitificação da população.

"Devemos focar as atenções sobre o objetivo do gesto, não sobre o gesto em si, que é a luta pelo rio São Francisco", afirmou. "A comoção não vai levar a nada."

Para os fiéis, entretanto, Cappio era o herói da causa. "Ele está dando a sua vida para salvar o nosso rio e ajudar o povo", disse a lavradora Maria Ferreira, 48.

Ela foi uma das participantes da romaria rumo à capela, que começou pela manhã, com rezas e uma procissão de quatro quilômetros, da zona urbana de Cabrobó até o local da missa.

Portando faixas e cartazes de apoio ao religioso e críticas à transposição, o romeiros caminharam em seguida até as margens do rio São Francisco, localizado a 200 metros da capela.

No local, alguns se banharam, enquanto outros batiam na água com folhas de coqueiro. Ao lado da capela, índios xucurus com trajes típicos dançaram e cantaram andando em círculos.

Cappio, que aniversariou hoje, dia de São Francisco, acordou antes do nascer do sol, como de costume. Banhou-se no rio e, às 7h, começou a distribuir as bênçãos aos fiéis que, em fila, aguardavam do lado de fora, no calor, sem reclamar.

Todos queriam tocar e beijar as suas mãos. Bebês foram colocados em seu colo. Para os romeiros deficientes físicos, o bispo reservava atitude especial. Levantava-se da cadeira e caminhava até eles para abraçá-los.

A rotina, que só terminou duas horas depois, com o início da missa, foi retomada à tarde, com a chegada de novos romeiros. Havia no local representantes dos nove Estados nordestinos.

No meio da tarde, cerca de 300 pessoas ligadas ao MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e ASA (Articulação Semi-Árido) invadiram e bloquearam com galhos a rodovia BR-428, na entrada do acesso à capela.

Portando faixas contra a transposição, os manifestantes só deixaram o local uma hora depois, após intervenção do juiz de Cabrobó, Fábio Lima. A Polícia Militar esteve no local, mas não houve confronto.

Leia mais
  • Lula atrasa obra de transposição do S. Francisco para negociar com bispo
  • Estátua de São Francisco é inaugurada em Canindé
  • Presidente da CPT sugere invasão em obra de transposição
  • Lula mantém projeto de transposição por razões eleitorais, diz Gabeira

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a transposição do rio São Francisco
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página