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05/10/2005
-
21h02
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Cabrobó
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 59, que completou hoje nove dias em greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco, disse que o governo federal sinalizou com a possibilidade de atrasar o início da obra por medo da repercussão internacional do caso.
"Sempre soube que o governo está mais com medo da repercussão internacional do que de mim", afirmou. "Isso desgasta muito o governo, as pressões políticas, as repercussões. É isso o que eu tenho dito", declarou.
Cappio leu ontem a reportagem da Folha sobre a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de suspender o projeto para negociar o fim do jejum. Depois, reafirmou que só aceitará discutir o encerramento da greve de fome após receber "um documento do presidente, em mãos, assinado por ele, direitinho".
"Quero saber os termos do documento. Nada vai me demover, enquanto não recebê-lo", disse. No sábado passado, o bispo recusou uma proposta de diálogo com Lula, feita a ele por um emissário do presidente.
Sobre as críticas a sua conduta, classificada de irresponsável e autoritária por Lula e alguns ministros em reunião anteontem em Brasília, o religioso foi diplomático. "Estamos numa nação democrática. Eles têm direito de lançar o seu ponto de vista."
Dores e falta de ar
Pela primeira vez desde o início da greve de fome, Cappio reclamou de dores no corpo e dificuldades para respirar.
Ele foi atendido por uma equipe médica da Secretaria da Saúde de Cabrobó, que não constatou problemas graves. Segundo o médico que o atendeu, Francisco Bruno Matias Figueiredo, 27, o bispo perdeu quatro quilos desde que iniciou o protesto. Passou de 65 kg para 61 kg.
"É a perda de peso esperada para quem ingere muito líquido, como ele", disse Figueiredo. "É uma pessoa preparada, que ainda vai agüentar bem", declarou.
Cappio sente dores nos braços e no abdome. Quando está com amigos e parentes, massageia os ombros com as mãos. Ele também sente cólicas devido à falta de alimentação, disse o médico.
Para poupar o bispo, as paróquias da região estão recomendando aos fiéis a suspensão das romarias. O tempo de atendimento e distribuição de bênçãos pelo frei também foi reduzido.
O bispo, entretanto, não reclama de nada."Estou firme e lúcido", declarou. Ontem, sob o sol forte da caatinga, ele saiu da capela para assistir uma apresentação dos índios tumbalalá.
De pé, o religioso acompanhou a cerimônia, que durou 20 minutos. Depois, distribuiu bênçãos aos índios e às cerca de 20 pessoas que estava no local. Um amigo tentou colocar um chapéu na sua cabeça e ele reagiu: "Não sou palhaço de circo", disse.
A 50 metros da capela, os quatro integrantes do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) que aderiram à greve de fome ontem descansavam sob uma árvore. Os médicos da prefeitura também os examinaram e não constataram problemas.
Cappio disse que respeitava a decisão deles. "Assim como eu gostaria que todos respeitassem a minha decisão, não tenho outra coisa a fazer, a não ser respeitar a deles. Todos são adultos, maiores de idade, senhores de si."
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da Agência Folha, em Cabrobó
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 59, que completou hoje nove dias em greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco, disse que o governo federal sinalizou com a possibilidade de atrasar o início da obra por medo da repercussão internacional do caso.
"Sempre soube que o governo está mais com medo da repercussão internacional do que de mim", afirmou. "Isso desgasta muito o governo, as pressões políticas, as repercussões. É isso o que eu tenho dito", declarou.
Cappio leu ontem a reportagem da Folha sobre a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de suspender o projeto para negociar o fim do jejum. Depois, reafirmou que só aceitará discutir o encerramento da greve de fome após receber "um documento do presidente, em mãos, assinado por ele, direitinho".
"Quero saber os termos do documento. Nada vai me demover, enquanto não recebê-lo", disse. No sábado passado, o bispo recusou uma proposta de diálogo com Lula, feita a ele por um emissário do presidente.
Sobre as críticas a sua conduta, classificada de irresponsável e autoritária por Lula e alguns ministros em reunião anteontem em Brasília, o religioso foi diplomático. "Estamos numa nação democrática. Eles têm direito de lançar o seu ponto de vista."
Dores e falta de ar
Pela primeira vez desde o início da greve de fome, Cappio reclamou de dores no corpo e dificuldades para respirar.
Ele foi atendido por uma equipe médica da Secretaria da Saúde de Cabrobó, que não constatou problemas graves. Segundo o médico que o atendeu, Francisco Bruno Matias Figueiredo, 27, o bispo perdeu quatro quilos desde que iniciou o protesto. Passou de 65 kg para 61 kg.
"É a perda de peso esperada para quem ingere muito líquido, como ele", disse Figueiredo. "É uma pessoa preparada, que ainda vai agüentar bem", declarou.
Cappio sente dores nos braços e no abdome. Quando está com amigos e parentes, massageia os ombros com as mãos. Ele também sente cólicas devido à falta de alimentação, disse o médico.
Para poupar o bispo, as paróquias da região estão recomendando aos fiéis a suspensão das romarias. O tempo de atendimento e distribuição de bênçãos pelo frei também foi reduzido.
O bispo, entretanto, não reclama de nada."Estou firme e lúcido", declarou. Ontem, sob o sol forte da caatinga, ele saiu da capela para assistir uma apresentação dos índios tumbalalá.
De pé, o religioso acompanhou a cerimônia, que durou 20 minutos. Depois, distribuiu bênçãos aos índios e às cerca de 20 pessoas que estava no local. Um amigo tentou colocar um chapéu na sua cabeça e ele reagiu: "Não sou palhaço de circo", disse.
A 50 metros da capela, os quatro integrantes do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) que aderiram à greve de fome ontem descansavam sob uma árvore. Os médicos da prefeitura também os examinaram e não constataram problemas.
Cappio disse que respeitava a decisão deles. "Assim como eu gostaria que todos respeitassem a minha decisão, não tenho outra coisa a fazer, a não ser respeitar a deles. Todos são adultos, maiores de idade, senhores de si."
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