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07/10/2005
-
22h55
FÁBIO AMATO
da Agência Folha, em Guaratinguetá
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 59, avisou seus familiares que faria greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco dois meses antes de iniciar o jejum.
De acordo com um sobrinho de Cappio em Guaratinguetá (176 km a nordeste de São Paulo), o advogado Luís Flávio Godoy Cappio, no início de agosto o bispo esteve na cidade --onde nasceu --e se reuniu com os três irmãos para comunicar a eles sua decisão de realizar o protesto.
"Meu tio exigiu que eles não tornassem pública a decisão. Obrigou meu pai e minhas duas tias a jurar, com as mãos sobre a Bíblia, que não comentariam o assunto com ninguém", disse o advogado.
Segundo ele, os irmãos chegaram a implorar para que Cappio desistisse da idéia. "Mas não adiantou. No domingo, dia 25 de setembro, meu tio ligou para o meu pai e finalmente avisou que começaria no dia seguinte a greve de fome."
O advogado disse que seu pai, João Franco Cappio, embarcou no dia seguinte em direção a Cabrobó (PE), onde o religioso realizou a greve de fome. As duas irmãs do bispo, Rosa Maria e Rita, que estavam no exterior, cancelaram as viagens e também seguiram direto para o município pernambucano, onde acompanhariam o sacrifício do irmão caçula durante dez dias.
Trajetória
Cappio até hoje é chamado de frei Luiz Flávio em Guaratinguetá, onde viveu até os 21 anos. Saiu da cidade em 1966 e passou por seminários em Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, até que em 1971 foi ordenado sacerdote.
Seguiu para São Paulo, onde atuou pela Pastoral Operária. Em meados da década de 1970, porém, abandonou a fraternidade e desapareceu apenas com a roupa do corpo. Foi localizado meses depois, já em Barra, quando começaram a surgir na região notícias dos atos de um certo "frei Luiz", que já chamava a atenção dos fiéis locais por seu trabalho de caridade.
O frei Walter Hugo de Almeida, 69, que foi colega de seminário de Cappio e hoje é o responsável pelo seminário Frei Galvão, de Guaratinguetá, conta que no seu último encontro com o bispo, no final da década de 1970, perguntou a ele por que tinha fugido.
"Ele me disse que teve uma inspiração que o mandava ir para o Nordeste", afirmou. "Disse ainda que não concordava com a distribuição do clero, que para ele era desigual, e que simplesmente seguiu para Barra sem pedir autorização porque tinha medo de que lhe negassem a transferência."
Almeida relata que o "radicalismo" sempre foi uma das marcas de Cappio. "Ele sempre foi muito determinado e, até certo ponto, teimoso. Tanto que, quando fiquei sabendo que ele tinha começado a greve de fome, pensei que era realmente até a morte. Fiquei surpreso quando soube que ele tinha desistido do jejum."
O frei também criticou a atitude do colega, que chamou de "jejum político". "Sou pela vida e acho que o que ele fez foi ilícito. Os fins não justificam os meios. Concordo com a atitude dele de amor pelo rio, mas não concordo com a maneira como foi feito [o protesto]."
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da Agência Folha, em Guaratinguetá
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 59, avisou seus familiares que faria greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco dois meses antes de iniciar o jejum.
De acordo com um sobrinho de Cappio em Guaratinguetá (176 km a nordeste de São Paulo), o advogado Luís Flávio Godoy Cappio, no início de agosto o bispo esteve na cidade --onde nasceu --e se reuniu com os três irmãos para comunicar a eles sua decisão de realizar o protesto.
"Meu tio exigiu que eles não tornassem pública a decisão. Obrigou meu pai e minhas duas tias a jurar, com as mãos sobre a Bíblia, que não comentariam o assunto com ninguém", disse o advogado.
Segundo ele, os irmãos chegaram a implorar para que Cappio desistisse da idéia. "Mas não adiantou. No domingo, dia 25 de setembro, meu tio ligou para o meu pai e finalmente avisou que começaria no dia seguinte a greve de fome."
O advogado disse que seu pai, João Franco Cappio, embarcou no dia seguinte em direção a Cabrobó (PE), onde o religioso realizou a greve de fome. As duas irmãs do bispo, Rosa Maria e Rita, que estavam no exterior, cancelaram as viagens e também seguiram direto para o município pernambucano, onde acompanhariam o sacrifício do irmão caçula durante dez dias.
Trajetória
Cappio até hoje é chamado de frei Luiz Flávio em Guaratinguetá, onde viveu até os 21 anos. Saiu da cidade em 1966 e passou por seminários em Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, até que em 1971 foi ordenado sacerdote.
Seguiu para São Paulo, onde atuou pela Pastoral Operária. Em meados da década de 1970, porém, abandonou a fraternidade e desapareceu apenas com a roupa do corpo. Foi localizado meses depois, já em Barra, quando começaram a surgir na região notícias dos atos de um certo "frei Luiz", que já chamava a atenção dos fiéis locais por seu trabalho de caridade.
O frei Walter Hugo de Almeida, 69, que foi colega de seminário de Cappio e hoje é o responsável pelo seminário Frei Galvão, de Guaratinguetá, conta que no seu último encontro com o bispo, no final da década de 1970, perguntou a ele por que tinha fugido.
"Ele me disse que teve uma inspiração que o mandava ir para o Nordeste", afirmou. "Disse ainda que não concordava com a distribuição do clero, que para ele era desigual, e que simplesmente seguiu para Barra sem pedir autorização porque tinha medo de que lhe negassem a transferência."
Almeida relata que o "radicalismo" sempre foi uma das marcas de Cappio. "Ele sempre foi muito determinado e, até certo ponto, teimoso. Tanto que, quando fiquei sabendo que ele tinha começado a greve de fome, pensei que era realmente até a morte. Fiquei surpreso quando soube que ele tinha desistido do jejum."
O frei também criticou a atitude do colega, que chamou de "jejum político". "Sou pela vida e acho que o que ele fez foi ilícito. Os fins não justificam os meios. Concordo com a atitude dele de amor pelo rio, mas não concordo com a maneira como foi feito [o protesto]."
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