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11/10/2005
-
18h44
EPAMINONDAS NETO
LÚCIA BAKOS
da Folha Online
Depois de negar que seja candidato a qualquer cargo nas eleições de 2006, o vice-presidente da República, José Alencar, sinalizou, em entrevista, a possibilidade de participar de uma disputa eleitoral pelo seu novo partido, o PMR (Partido Municipalista Renovador). Alencar participou hoje da oitava Sabatina da Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo.
"Meu mandato [de vice-presidente] acaba dia 31 de dezembro. A candidatura só vai ser falada em julho de 2006. Está muito longe. Falar agora é raciocinar em cima de conjecturas", disse Alencar aos jornalistas no término da sabatina.
No entanto, cerca de duas horas antes, no início do evento, ele foi questionado sobre suas pretensões políticas e afirmou que não iria concorrer a disputa de nenhum cargo nas eleições de 2006. "Eu não sou candidato a nada", disse duas vezes.
"Quando saí do partido a que pertencia [PL], saí sem nenhum acordo com outro partido. Eu saí para voltar para casa, mas aí começaram a me chamar de egoísta e resolvi entrar em um partido novo, sem fundo partidário e praticamente sem horário político", disse.
Ainda para justificar que não sairá candidato nas próximas eleições, Alencar afirmou: "Poderia ter ido para partidos grandes, como o PMDB, onde tenho grandes amigos, ou para o PSB, mas não fui".
Ao ser questionado sobre o potencial midiático e financeiro do PMR --que é ligado à Igreja Universal--, Alencar respondeu que, em Minas Gerais, muitos candidatos tinham televisão em suas cidades e não venceram eleições. "Tenho mania de começar da estaca zero. Tudo em minha vida foi assim. Mas tenho certeza que o PMR será um grande partido no futuro".
Origem empresarial
O vice-presidente chegou à sabatina cerca de 11 minutos atrasados e depois de se desculpar com a platéia, dizendo que "gostaria de ter chego muito antes do horário marcado", ele fez questão de se apresentar ao público, apesar do diretor-executivo da Sucursal de Brasília, Valdo Cruz já o ter feito.
"Minha origem é empresarial", informou ele depois de ressaltar que o primeiro orçamento que fez foi aos 14 anos, quando saiu de casa para trabalhar e morar sozinho, e precisou negociar um quarto em uma pensão.
Ao iniciar de fato a sua participação na sabatina da Folha, Alencar criticou a política monetária do governo federal. Ele citou estatísticas para afirmar que a taxa real de juros do país representa dez vezes a taxa de juros real média de 40 países.
Segundo Alencar, esta prática era criticada por ele desde a época do governo Fernando Henrique Cardoso. "Nós condenávamos a política monetária todo o tempo."
Críticas e lealdade
O vice-presidente falou sobre a questão orçamentária do país com críticas, porém, cautelosas. Afirmou que concorda com uma política econômica "austera", mas que isso demanda um equilíbrio orçamentário, que seria "perdulário" com o tamanho dos gastos e da dívida devido à dimensão da taxa Selic.
Ele também procurou evitar críticas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e afirmou que continua fiel ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem agradeceu por ter composto chapa com ele.
"Ninguém vota em vice. Sou grato ao Lula, mas isso não me impede de ser fiel aos meus ideais. Minha lealdade é absoluta tanto ao governo quanto aos meus ideais", disse ele.
Questionado se essa "dupla lealdade" era incompatível, Alencar respondeu que sim usando a frase: 'a democracia é um péssimo regime, só que não tem outro melhor'. "Assim, a melhor alternativa é o diálogo", afirmou.
Ele também afirmou acreditar que o presidente Lula não sabia do suposto esquema do "mensalão". "Toda a história do 'mensalão' saiu de partido. O governo Lula não sabia de nada. Quem conhece a agenda do presidente tem certeza de que ele não participou, nem sabia de nada", disse ele ao responder a uma das perguntas da platéia.
Deputados cassáveis
Indagado sobre a saída de José Dirceu do cargo de ministro da Casa Civil, em razão das denúncias de suposta participação no "mensalão", Alencar considerou correta a decisão do deputado.
"Um homem público, que faz parte do governo, quando tem sua atuação levada em dúvida, acho que é aceitável que ele saia. Mas também acho que na Câmara ele tem que ter o direito de se defender".
Sobre a possibilidade de renúncia dos 13 deputados citados em relatório parcial das CPIs dos Correios e do Mensalão, que correm o risco de terem o mandato cassado, Alencar considerou que a decisão é de "foro íntimo".
"O que defendemos é que toda denúncia deve ser investigada profundamente. Não defendemos pena branca, nem exagerada, mas uma pena justa", afirmou.
O vice-presidente também considerou que, "às vezes, a renúncia de um deputado pode ser adotada não apenas visando candidaturas às eleições de 2006".
Sabatina
Para sabatinar o vice-presidente da República foram convidados a colunista da Folha Eliane Cantanhêde, o editor do "Mercado Aberto", Guilherme Barros, o repórter especial Fernando Canzian e o diretor-executivo da Sucursal da Brasília, Valdo Cruz.
Durante as duas horas da sabatina, Alencar respondeu a perguntas feitas pelos sabatinadores e pela platéia.
Cargos acumulados
Alencar, 73, filiou-se em 29 de setembro ao PMR (Partido Municipalista Renovador), partido recém-criado com forte presença da Igreja Universal. Pouco antes, saiu do PL, uma das legendas envolvidas no escândalo do "mensalão" e pela qual se elegeu vice-presidente, em 2002, na chapa encabeçada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar das divergências com o presidente, sobretudo com relação à política de juros, desde novembro do ano passado Alencar acumula o cargo de ministro da Defesa, em substituição ao diplomata José Viegas. Crítico da política econômica do governo Lula, Alencar entrou na nova legenda dizendo não ser candidato a presidente em 2006 --desejo manifestado pelos integrantes do PMR.
Durante entrevista à Folha em setembro, Alencar disse que está pronto para assumir a Presidência caso seja necessário, mas se disse fiel a Lula e contrário ao impeachment. Afirmou que não moverá "uma palha" para prejudicar o presidente, chamado de "vítima do despreparo da administração do PT".
Outros sabatinados
Antes de Alencar, já participaram das sabatinas realizadas pela Folha o médico Drauzio Varella, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o físico Marcelo Gleiser, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, o presidente interino do PT, Tarso Genro, e o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
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Alencar nega que seja candidato às eleições de 2006 e depois volta atrás
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LÚCIA BAKOS
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Depois de negar que seja candidato a qualquer cargo nas eleições de 2006, o vice-presidente da República, José Alencar, sinalizou, em entrevista, a possibilidade de participar de uma disputa eleitoral pelo seu novo partido, o PMR (Partido Municipalista Renovador). Alencar participou hoje da oitava Sabatina da Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo.
A.Machado/Folha Imagem |
O vice-presidente José Alencar |
No entanto, cerca de duas horas antes, no início do evento, ele foi questionado sobre suas pretensões políticas e afirmou que não iria concorrer a disputa de nenhum cargo nas eleições de 2006. "Eu não sou candidato a nada", disse duas vezes.
"Quando saí do partido a que pertencia [PL], saí sem nenhum acordo com outro partido. Eu saí para voltar para casa, mas aí começaram a me chamar de egoísta e resolvi entrar em um partido novo, sem fundo partidário e praticamente sem horário político", disse.
Ainda para justificar que não sairá candidato nas próximas eleições, Alencar afirmou: "Poderia ter ido para partidos grandes, como o PMDB, onde tenho grandes amigos, ou para o PSB, mas não fui".
Ao ser questionado sobre o potencial midiático e financeiro do PMR --que é ligado à Igreja Universal--, Alencar respondeu que, em Minas Gerais, muitos candidatos tinham televisão em suas cidades e não venceram eleições. "Tenho mania de começar da estaca zero. Tudo em minha vida foi assim. Mas tenho certeza que o PMR será um grande partido no futuro".
Origem empresarial
O vice-presidente chegou à sabatina cerca de 11 minutos atrasados e depois de se desculpar com a platéia, dizendo que "gostaria de ter chego muito antes do horário marcado", ele fez questão de se apresentar ao público, apesar do diretor-executivo da Sucursal de Brasília, Valdo Cruz já o ter feito.
"Minha origem é empresarial", informou ele depois de ressaltar que o primeiro orçamento que fez foi aos 14 anos, quando saiu de casa para trabalhar e morar sozinho, e precisou negociar um quarto em uma pensão.
Ao iniciar de fato a sua participação na sabatina da Folha, Alencar criticou a política monetária do governo federal. Ele citou estatísticas para afirmar que a taxa real de juros do país representa dez vezes a taxa de juros real média de 40 países.
Segundo Alencar, esta prática era criticada por ele desde a época do governo Fernando Henrique Cardoso. "Nós condenávamos a política monetária todo o tempo."
Críticas e lealdade
O vice-presidente falou sobre a questão orçamentária do país com críticas, porém, cautelosas. Afirmou que concorda com uma política econômica "austera", mas que isso demanda um equilíbrio orçamentário, que seria "perdulário" com o tamanho dos gastos e da dívida devido à dimensão da taxa Selic.
Ele também procurou evitar críticas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e afirmou que continua fiel ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem agradeceu por ter composto chapa com ele.
"Ninguém vota em vice. Sou grato ao Lula, mas isso não me impede de ser fiel aos meus ideais. Minha lealdade é absoluta tanto ao governo quanto aos meus ideais", disse ele.
Questionado se essa "dupla lealdade" era incompatível, Alencar respondeu que sim usando a frase: 'a democracia é um péssimo regime, só que não tem outro melhor'. "Assim, a melhor alternativa é o diálogo", afirmou.
Ele também afirmou acreditar que o presidente Lula não sabia do suposto esquema do "mensalão". "Toda a história do 'mensalão' saiu de partido. O governo Lula não sabia de nada. Quem conhece a agenda do presidente tem certeza de que ele não participou, nem sabia de nada", disse ele ao responder a uma das perguntas da platéia.
Deputados cassáveis
Indagado sobre a saída de José Dirceu do cargo de ministro da Casa Civil, em razão das denúncias de suposta participação no "mensalão", Alencar considerou correta a decisão do deputado.
"Um homem público, que faz parte do governo, quando tem sua atuação levada em dúvida, acho que é aceitável que ele saia. Mas também acho que na Câmara ele tem que ter o direito de se defender".
Sobre a possibilidade de renúncia dos 13 deputados citados em relatório parcial das CPIs dos Correios e do Mensalão, que correm o risco de terem o mandato cassado, Alencar considerou que a decisão é de "foro íntimo".
"O que defendemos é que toda denúncia deve ser investigada profundamente. Não defendemos pena branca, nem exagerada, mas uma pena justa", afirmou.
O vice-presidente também considerou que, "às vezes, a renúncia de um deputado pode ser adotada não apenas visando candidaturas às eleições de 2006".
Sabatina
Para sabatinar o vice-presidente da República foram convidados a colunista da Folha Eliane Cantanhêde, o editor do "Mercado Aberto", Guilherme Barros, o repórter especial Fernando Canzian e o diretor-executivo da Sucursal da Brasília, Valdo Cruz.
Durante as duas horas da sabatina, Alencar respondeu a perguntas feitas pelos sabatinadores e pela platéia.
Cargos acumulados
Alencar, 73, filiou-se em 29 de setembro ao PMR (Partido Municipalista Renovador), partido recém-criado com forte presença da Igreja Universal. Pouco antes, saiu do PL, uma das legendas envolvidas no escândalo do "mensalão" e pela qual se elegeu vice-presidente, em 2002, na chapa encabeçada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar das divergências com o presidente, sobretudo com relação à política de juros, desde novembro do ano passado Alencar acumula o cargo de ministro da Defesa, em substituição ao diplomata José Viegas. Crítico da política econômica do governo Lula, Alencar entrou na nova legenda dizendo não ser candidato a presidente em 2006 --desejo manifestado pelos integrantes do PMR.
Durante entrevista à Folha em setembro, Alencar disse que está pronto para assumir a Presidência caso seja necessário, mas se disse fiel a Lula e contrário ao impeachment. Afirmou que não moverá "uma palha" para prejudicar o presidente, chamado de "vítima do despreparo da administração do PT".
Outros sabatinados
Antes de Alencar, já participaram das sabatinas realizadas pela Folha o médico Drauzio Varella, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o físico Marcelo Gleiser, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, o presidente interino do PT, Tarso Genro, e o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
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