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10/03/2007 - 02h44

Leia as íntegras das declarações dos presidentes Lula e Bush

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da Folha Online

Leia abaixo a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após visitar a Transpetro ao lado do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush:

"É um prazer poder receber o presidente George Bush em São Paulo, a nossa maior metrópole brasileira, uma cidade que simboliza a pujança da nossa economia e o espírito empreendedor da nossa gente.

Viemos ao terminal da Transpetro, aqui em Guarulhos, para celebrar uma parceria verdadeiramente estratégica entre Estados Unidos e Brasil. O Memorando de Entendimento sobre a Cooperação na Área de Biocombustíveis assinado hoje é, sem dúvida, a nossa resposta ao grande desafio energético do século 21.

O mundo está observando, com muita atenção, o evento de hoje. Estamos lançando uma parceria para o futuro, um empreendimento amplo e renovado que transcende o plano bilateral e cria oportunidades em escala mundial. A parceria que vamos inaugurar é ambiciosa e voltada para todos os aspectos ligados à incorporação definitiva do etanol na matriz energética de nossos países.

Foi com grande satisfação que soube da determinação do presidente Bush de valorizar os biocombustíveis dentro da matriz energética dos Estados Unidos. Esse acordo torna realidade uma idéia que nasceu por ocasião do nosso encontro em Brasília, em 2005, quando o presidente Bush conheceu a história de sucesso brasileira dos biocombustíveis. É importante lembrar que quando o presidente Bush foi a Brasília eu tinha uma obsessão pelos biocombustíveis, e quase que ele não consegue almoçar de tanto que eu falei de biocombustível. Eu penso que foi importante, porque nem sempre o mundo está preparado e apto para mudanças importantes, se não houver incansáveis debates até as pessoas se convencerem de que o planeta Terra precisa ser despoluído. E está nas nossas mãos, que o poluímos, despoluirmos.

No campo do etanol, temos um programa extremamente bem-sucedido, fruto de mais de 30 anos de muito trabalho e de inovação tecnológica. Estamos fazendo igual aposta com o biodiesel: até 2010, o diesel brasileiro já será, em 5%, extraído de plantas nativas e abundantes no País, como o dendê, o caroço do algodão, o girassol, a mamona, a soja e tantas outras oleaginosas.

Por isso mesmo, nosso programa de biodiesel tem grande impacto social. É voltado para o pequeno agricultor, para a agricultura familiar, ajudará a criar emprego e renda nos lugares mais pobres deste País, sobretudo nas regiões do semi-árido nordestino, onde muitos desses cultivos são nativos.

Hoje, a sociedade toda colhe o fruto desse esforço, e outros países querem compartilhar a experiência brasileira na produção de biocombustíveis. O Memorando é importante passo nessa direção, mas não é apenas uma parceria econômica entre Brasil e Estados Unidos. A estreita associação e cooperação entre os dois líderes da produção de etanol possibilitará a democratização do acesso à energia.

O uso crescente de biocombustíveis será uma contribuição inestimável para a geração de renda, inclusão social e redução da pobreza em muitos países pobres do mundo. Queremos ver as biomassas gerarem desenvolvimento sustentável, sobretudo na América do Sul, na América Central, no Caribe e na África.

O Brasil e os Estados Unidos devem formar alianças com terceiros países para diversificar globalmente a produção de biocombustíveis. Para isso é preciso criar as bases para um mercado mundial de biocombustíveis. Temos uma responsabilidade e um desafio muito especial.

Mas nossa parceria estratégica também está sendo reforçada com a criação do Fórum Internacional de Biocombustíveis, com a participação dos Estados Unidos, Brasil, Índia, China, África do Sul e União Européia. Somente assim teremos a escala de produção necessária para potencializar os benefícios do etanol e do biodiesel.

Tenho sido, como todo mundo sabe --quase de uma forma doentia-- defensor das fontes renováveis de combustíveis. Vejo, portanto, com enorme satisfação, uma crescente consciência na comunidade internacional de que é preciso superar a dependência dos combustíveis fósseis. No momento em que somos chamados a agir com urgência para enfrentar o aquecimento global, tudo que fizermos para reduzir as emissões de gases poluentes será um ganho.

Os biocombustíveis oferecem uma alternativa mais limpa e economicamente viável. A tecnologia é nossa grande aliada nessa empreitada. Os ganhos com o emprego dos biocombustíveis no Brasil já se refletem no desenvolvimento de novas tecnologias e na criação de uma matriz energética mais limpa.

Presidente Bush,
Mais do que triplicamos a produtividade da cana-de-açúcar, principal fonte do etanol, e demonstramos ser possível aumentar a produção de biocombustíveis sem prejuízos para a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que estamos reduzindo o desmatamento na Amazônia.

A maioria dos carros hoje vendidos no Brasil é flex fuel, uma tecnologia que desenvolvemos aqui e que tornou o etanol um combustível seguro e confiável. E estou convocando a indústria brasileira a fazer o mesmo com o biodiesel. Os nossos construtores de ônibus e de caminhões que se preparem, porque nós precisamos avançar na questão do biodiesel.

Eu estou convencido, presidente Bush, de que os Estados Unidos, com sua grande capacidade tecnológica e empresarial, serão um sócio, um parceiro extraordinário nesse empreendimento.

Esta sua vinda ao Brasil no dia de hoje, esta visita que fizemos à Petrobras e a conversa que vamos ter, ainda, na hora do almoço, podem significar, definitivamente, uma aliança estratégica que permita o convencimento ao mundo de mudar a sua matriz energética. Afinal de contas, como eu disse agora há pouco, nós poluímos tanto o Planeta durante o século 20, e temos agora que dar a nossa contribuição para despoluí-lo no século 21. Afinal de contas, somos responsáveis e queremos que os nossos filhos e que os nossos netos possam viver num mundo menos poluído que o mundo em que estamos vivendo hoje.

Além desse bem à Humanidade que faremos, com a introdução dos biocombustíveis, nós estaremos permitindo que pela primeira vez a gente possa utilizar os combustíveis como uma fonte de distribuição de renda e geração de empregos sem precedentes na história da Humanidade, sobretudo se nós analisarmos o que fazer com os países do continente africano, se nós analisarmos o que fazer com os países mais pobres da América do Sul, se nós analisarmos o que fazer com os países do Caribe e da América Central, onde os Estados Unidos mantêm parceria com todos esses países. Eu penso que essa parceria entre Estados Unidos e Brasil pode significar, definitivamente, a partir do dia de hoje, um novo momento da indústria automobilística no mundo, um novo momento dos combustíveis no mundo e, eu diria, possivelmente um novo momento para a Humanidade.

Por isso, muito obrigado pela sua visita."

Leia abaixo a íntegra do primeiro discurso de Bush no Brasil:

"Bom dia. Obrigado por sua hospitalidade, senhor presidente. É bom estar de volta a seu belo país. Laura e eu estávamos antevendo com prazer a viagem a São Paulo. Esta é uma das grandes cidades. E eu estava ansioso por nossas conversas. O senhor sabe, o Brasil e os EUA são as duas maiores democracias de nosso hemisfério; temos muito em comum e temos muito a fazer juntos para melhorar as vidas de milhões de pessoas em nossos respectivos países, e, esperamos, nos países vizinhos também.

Acho realmente interessante que boa parte de nossas conversas nesta visita vai girar em torno da energia. É um novo tipo de energia. Acho que 20 anos atrás um presidente americano ou um presidente brasileiro não teriam pensado "vamos ver se encontramos terreno comum na produção energética". E no entanto, como o presidente observou, tivemos uma longa discussão em Brasília sobre combustíveis alternativos. E agora estamos numa usina que está de fato produzindo combustíveis alternativos numa base econômica que possui a capacidade de mudar nossos respectivos países no mundo. E eu, assim como o presidente, estou muito otimista em relação ao potencial do etanol e do biodiesel. E é por isso que estamos aqui.

Quero agradecer o presidente da Petrobras, Sergio Gabrieli, por sua hospitalidade. Aprecio muito seu "briefing". E quero agradecer a todos os trabalhadores aqui presentes por nos receberem. Quero agradecer ao pessoal da Ford e da General Motors que estão aqui. É muito simpático de sua parte comparecer para receber o presidente americano. E aprecio sua disposição em serem inovadores e em atender às demandas do mercado com produtos que realmente são importantes, e, no caso em pauta, veículos flex.

As pessoas andam perguntando por que o presidente dos Estados Unidos estaria tão interessado na diversificação de nosso suprimento energético, e eis duas razões. Uma: se você é dependente de petróleo do exterior, você tem um problema de segurança nacional. Em outras palavras, a dependência da energia de outro país significa que você é dependente das decisões de outro país. Assim, quando diversificamos do uso de gasolina, usando o álcool, na realidade estamos diversificando do petróleo.

Em segundo lugar, a dependência do petróleo cria um problema econômico não apenas para os Estados Unidos, mas também para todos os outros países que importam petróleo. Num mundo globalizado, se a demanda de petróleo cresce na China ou na Índia, isso leva o preço da gasolina a subir em nossos respectivos países. Assim, a diversificação em relação ao produto petrolífero atende aos interesses econômicos de nossos respectivos países.

E, finalmente, como observou o presidente, todos nós nos sentimos na obrigação de sermos bons cuidadores do meio ambiente. Acontece que o etanol e biodiesel vão ajudar a melhorar a qualidade do meio ambiente em nossos respectivos países.

Assim, sou muito a favor da promoção de tecnologias que vão possibilitar que o etanol e o biodiesel continuem a ser competitivos, e, com isso, a estar ao alcance dos bolsos das pessoas de nossos respectivos países e suas vizinhanças.

Uma das coisas que gosto, como o presidente observou, é que uma boa política do etanol e uma boa política de combustíveis alternativos na realidade conduzem a mais empregos, e não menos. Em outras palavras, nesta usina existem empregos. Mas, como o presidente observou, quando você está cultivando um produto para afastá-lo da dependência do petróleo, você se torna dependente das pessoas que cultivam a terra, e a distribuição da riqueza, a distribuição de oportunidades para os agricultores, especialmente os agricultores menores em nossos respectivos países, vai possibilitar que a economia se fundamente em bases mais firmes.

Assim, senhor presidente, sua visão é absolutamente correta. Aprecio muito o fato de que boa parte de sua energia é derivada da cana de açúcar. Isso, francamente, confere ao Brasil uma vantagem tremenda nos mercados mundiais. A cana de açúcar é de longe a matéria-prima mais eficiente para a produção de etanol. O presidente investiu sabiamente em tecnologias que vão aumentar sua produção por acre, e isso faz muito sentido. Nos Estados Unidos temos um problema um pouco diferente: não temos muita cana de açúcar. Assim, nosso material de base para a produção do etanol tem sido, até agora, o milho.

Aprecio muito as inovações que estão sendo feitas aqui no Brasil. Quero dizer, se vocês são os líderes no etanol, acredito que continuarão a criar tecnologias que devem estar disponíveis a outros. Seu processo H-bio de refino do biodiesel a partir da soja e outros produtos agrícolas é um exemplo disso. Em outras palavras, vocês poderão usar o refinamento regular como fruto dos avanços tecnológicos que têm aqui. Isso faz muito sentido, e eu o parabenizo, senhor presidente, e parabenizo a Petrobras por permanecer na vanguarda das transformações tecnológicas.

Muitas pessoas se perguntam se faz sentido ou não desenvolver uma infra-estrutura de combustível alternativo se o automóvel não se mantiver a par dele. Bem, a maioria das pessoas nos EUA não sabe que existem milhões de veículos de bicombustível em nossas ruas hoje. As pessoas simplesmente não sabem disso. Em outras palavras, hoje temos a capacidade de fabricar automóveis de uma maneira que atende à demanda por etanol. O bicombustível significa que você ou pode usar gasolina ou combustíveis alternativos --a escolha é sua. E nós, nos EUA, estamos --essa tecnologia está disponível. Então meus concidadãos não devem temer o desenvolvimento de uma indústria de fonte de energia alternativa, porque o consumidor tem a capacidade de comprar um automóvel que vai de encontro a essas novas produções.

Vejo com muito otimismo a possibilidade de os EUA beneficiar-se de fontes de energia alternativas --tanto otimismo que fixei uma meta ambiciosa para nosso país, a meta de reduzir o consumo de gasolina em 20% ao longo de dez anos. Em outras palavras, temos uma meta fixada de 35 bilhões de galões de combustíveis alternativos a serem usados até 2017. Isso é sete vezes mais que a quantidade de combustíveis alternativos que estamos consumindo hoje. Neste momento estamos consumindo cerca de 5 bilhões de galões de etanol. Acredito que as tecnologias serão tais que os EUA vão estar consumindo 35 bilhões de galões de combustíveis alternativos.

E isso é importante para nosso país. É um compromisso de reduzir nossa dependência do petróleo, e é um compromisso de cuidarmos melhor do meio ambiente.

Em meu orçamento, senhor presidente, propus ao Congresso que investíssemos US$ 1,6 bilhão ao longo de dez anos em pesquisas adicionais para assegurar que tenhamos as matérias-primas alternativas para a produção do etanol. Só para que o sr. saiba, no último ano --desde que sou presidente, já gastamos cerca de US$ 12 bilhões com novas tecnologias que nos capacitarão a alcançar a independência econômica, a sermos melhores cuidadores do meio amiente.

Há muita coisa que podemos fazer juntos. Aprecio muito a idéia de o Brasil e os EUA compartilharem oportunidades de pesquisas e desenvolvimento. Vocês têm ótimos cientistas, nós temos ótimos cientistas; faz sentido que colaboremos para o bem da humanidade. E nossa parte da iniciativa é que vamos trabalhar juntos com eficiência e cooperar com as pesquisas e o desenvolvimento.

Acho também que a idéia do presidente de ajudar outros a compreender os benefícios dos combustíveis alternativos faz muito sentido. Por isso aplaudimos o Banco Interamericano de Desenvolvimento e seus esforços para levar empréstimos e capital para países que poderiam beneficiar-se de fontes de energia alternativas. Estou especialmente ansioso para trabalhar com o presidente para ajudar a América Central a tornar-se menos dependente do petróleo, tornar-se auto-suficiente em termos de energia. É do interesse dos Estados Unidos que exista uma vizinhança próxima. E uma maneira de ajudar a fazer a prosperidade se espalhar na América Central é que esses países se tornem produtores de energia, e que não continuem dependentes de outros para suas fontes de energia.

Finalmente, o presidente mencionou o fato de que houve nas Nações Unidas um Fórum Internacional de Biocombustíveis. O que ele não disse a vocês foi que o fórum foi idéia dele. E eu aplaudo o fato, sr. presidente, de o sr. ter proposto essa idéia. Faz muito sentido que países como China e Índia compreendam os potenciais das fontes alternativas de energia. E acredito que o Brasil e os Estados Unidos têm a capacidade de ajudar a liderar o caminho rumo a esse dia melhor.

Assim, senhor presidente, este foi um ótimo primeiro encontro aqui. Aprecio o fato de que o sr. está prestes a me pagar um almoço. Estou com fome (risos). Estou ansioso por comer um pouco daquela boa comida brasileira.

Enquanto isso, porém, espero que os cidadãos do Brasil, assim como os dos EUA, estejam tão otimistas em relação ao futuro quanto estamos estes dois presidentes. E uma razão pela qual estamos otimistas é que enxergamos o potencial brilhante e real de nossos cidadãos serem capazes de usar fontes de energia alternativas que irão promover o bem comum.

Então, senhor presidente, obrigado por me receber."

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