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31/03/2007
-
12h28
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília
No comando da principal entidade sindical de trabalhadores rurais, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Manoel José dos Santos disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu amigo pessoal, errou ao efetivar Guilherme Cassel (PT-RS) no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Em entrevista ontem à Folha, Mané de Serra [Talhada], como é conhecido, disse que Lula, ao escolher Cassel, privilegiou os interesses partidários em detrimento de temas como a reforma agrária e a agricultura familiar. "Deveria ter sido outro ministro", disse.
Ele também criticou a gestão da tendência petista DS (Democracia Socialista) na pasta, entre 2003 e março de 2006 com Miguel Rossetto e, a partir disso, com Cassel. Criada em 1963, espalhada em todos os Estados e filiada à CUT, a Contag representa cerca de 15 milhões de trabalhadores rurais, em pouco mais de 3.500 sindicatos.
Folha - O que o sr. achou da permanência de Guilherme Cassel?
Manoel José dos Santos - Não nos agradou o tratamento que foi dado pelo presidente ao ministério. Nesses quatro anos que convivemos com a DS [Democracia Socialista] no ministério, achamos que muita coisa poderia ter sido diferente. Por exemplo, deveria haver muito mais articulação entre as secretarias [do ministério] e o Incra.
Folha - Qual é a crítica em relação à DS no ministério?
Santos - O gestor público tem que ser alguém com o máximo de imparcialidade, que coloque o serviço público em primeiro lugar. Tivemos muitos encaminhamentos dados no gabinete do ministério em que eram mais priorizados os interesses da força política [no caso, a DS] do que os dos trabalhadores.
Folha - O governo colocou o ministério em segundo plano?
Santos - Acabou sendo o último ministério a ser definido. As contribuições que foram apresentadas pela Contag [ao Planalto] não foram levadas em conta. Ficamos sabendo da definição pela imprensa. O problema não é o nome, e sim a continuidade de uma política. Ao continuar o mesmo grupo político [DS], acho muito difícil que haja uma alteração significativa que responda à expectativa dos trabalhadores.
Folha - E o presidente Lula?
Santos - Ele não precisava ter demorado tanto tempo para simplesmente anunciar a continuidade do que já vinha sendo o ministério. Se ele tivesse decidido em janeiro, a gente teria ganhado três meses em discussões e encaminhamentos. Demorou. E também o critério que prevaleceu foi apenas o de arranjo interno do partido, o que não resolve os problemas do ministério. Deveria ter sido outro ministro.
FOLHA - Essa confirmação do Cassel, sem o apoio de movimentos como a Contag e o MST pode acirrar o clima de tensão no campo?
Santos- Pode causar, sim [um acirramento], se efetivamente as ações que precisam ser feitas não avançarem. Se isso acontecer, o conjunto dos movimentos vai ter que reagir.
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No comando da principal entidade sindical de trabalhadores rurais, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Manoel José dos Santos disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu amigo pessoal, errou ao efetivar Guilherme Cassel (PT-RS) no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Em entrevista ontem à Folha, Mané de Serra [Talhada], como é conhecido, disse que Lula, ao escolher Cassel, privilegiou os interesses partidários em detrimento de temas como a reforma agrária e a agricultura familiar. "Deveria ter sido outro ministro", disse.
Ele também criticou a gestão da tendência petista DS (Democracia Socialista) na pasta, entre 2003 e março de 2006 com Miguel Rossetto e, a partir disso, com Cassel. Criada em 1963, espalhada em todos os Estados e filiada à CUT, a Contag representa cerca de 15 milhões de trabalhadores rurais, em pouco mais de 3.500 sindicatos.
Folha - O que o sr. achou da permanência de Guilherme Cassel?
Manoel José dos Santos - Não nos agradou o tratamento que foi dado pelo presidente ao ministério. Nesses quatro anos que convivemos com a DS [Democracia Socialista] no ministério, achamos que muita coisa poderia ter sido diferente. Por exemplo, deveria haver muito mais articulação entre as secretarias [do ministério] e o Incra.
Folha - Qual é a crítica em relação à DS no ministério?
Santos - O gestor público tem que ser alguém com o máximo de imparcialidade, que coloque o serviço público em primeiro lugar. Tivemos muitos encaminhamentos dados no gabinete do ministério em que eram mais priorizados os interesses da força política [no caso, a DS] do que os dos trabalhadores.
Folha - O governo colocou o ministério em segundo plano?
Santos - Acabou sendo o último ministério a ser definido. As contribuições que foram apresentadas pela Contag [ao Planalto] não foram levadas em conta. Ficamos sabendo da definição pela imprensa. O problema não é o nome, e sim a continuidade de uma política. Ao continuar o mesmo grupo político [DS], acho muito difícil que haja uma alteração significativa que responda à expectativa dos trabalhadores.
Folha - E o presidente Lula?
Santos - Ele não precisava ter demorado tanto tempo para simplesmente anunciar a continuidade do que já vinha sendo o ministério. Se ele tivesse decidido em janeiro, a gente teria ganhado três meses em discussões e encaminhamentos. Demorou. E também o critério que prevaleceu foi apenas o de arranjo interno do partido, o que não resolve os problemas do ministério. Deveria ter sido outro ministro.
FOLHA - Essa confirmação do Cassel, sem o apoio de movimentos como a Contag e o MST pode acirrar o clima de tensão no campo?
Santos- Pode causar, sim [um acirramento], se efetivamente as ações que precisam ser feitas não avançarem. Se isso acontecer, o conjunto dos movimentos vai ter que reagir.
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