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16/11/2000
-
07h43
Franqueza de James Watson é lendária
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
de San Francisco
As pessoas bronzeadas têm mais desejo sexual. Os gordos são naturalmente felizes, por isso não têm ambição. E injeções de melanina, a substância que dá cor escura à pele, "são melhores que Viagra", porque provocam ereções prolongadas e involuntárias.
Os comentários, feitos numa palestra por James Watson, um dos maiores cientistas do século, provocaram a ira de alunos e professores de uma das principais universidades americanas, a da Califórnia em Berkeley.
Watson, Nobel de Medicina em 1962, é um dos descobridores da estrutura do DNA, a molécula que carrega toda a informação genética. A cidade de Berkeley foi o berço do movimento hippie nos anos 60 e hoje é um pilar do pensamento politicamente correto.
A professora Susan Marqusee, do Departamento de Biologia Molecular, retirou-se no meio da conferência, assistida por cerca de 200 pessoas. "Ele pegou alguns estereótipos sexistas e racistas e tentou dizer que eles têm base biológica, tudo isso sem mostrar nenhum dado", disse à Folha. "Também não acho adequado, numa palestra científica, mostrar imagens de mulheres de biquíni."
Watson, 72, usou as fotos de jovens em roupa de banho para ilustrar sua teoria de que a exposição ao sol aumenta o desejo sexual. Como contraponto, segundo testemunhas, apresentou imagens de mulheres em trajes muçulmanos tradicionais, cobertas dos pés à cabeça.
A palestra aconteceu no mês passado, mas seu conteúdo só agora veio a público, depois que estudantes contaram a história ao "San Francisco Chronicle", principal jornal da região.
"Watson é conhecido por falar o que pensa, de um jeito honesto, e não diria nada para intencionalmente ofender alguém", disse à Folha Jeffrey Picarello, diretor de relações públicas do Laboratório de Cold Spring Harbor, um renomado centro de pesquisas, do qual James Watson é presidente.
"Ele já deu essa mesma conferência em vários lugares. E só em Berkeley houve reação negativa."
A franqueza de Watson já lhe valeu o apelido de "Honest Jim".
"Até que foi bastante divertido, mas não era o tipo de diversão que eu considero apropriado", criticou a professora Marqusee.
Watson não comenta o caso.
A palestra se chamava "A Busca da Felicidade: Lições da Pom-C". A proteína pom-C participa da produção de vários hormônios, como melanina (cor da pele), beta-endorfinas (bem-estar) e leptina (metabolismo de gorduras).
Dessa origem comum, Watson extrai várias teorias. A principal é que o comportamento humano buscaria sempre situações em que o corpo produz mais endorfinas _como depois de um boa refeição ou tomando banho de sol. Ainda segundo cientistas presentes à conferência, as conclusões de Watson nem sempre são claras.
Na opinião do pesquisador, por exemplo, as pessoas gordas já teriam um nível de endorfinas que as satisfaz, por isso seriam menos ambiciosas. E os magros, com menos endorfinas, seriam mais insatisfeitos, o que lhes daria mais ambição e melhor perspectiva de sucesso profissional.
"Sempre que entrevisto um gordo em busca de emprego me sinto mal, porque sei que não vou contratá-lo", afirmou Watson.
Latino X Paciente Inglês
Ele começou sua exposição fazendo referência a uma pesquisa da Universidade do Arizona, que injetou melanina em homens saudáveis. O objetivo era escurecer a pele deles, como proteção contra câncer, mas o efeito obtido foi outro: ereções prolongadas, independente de estímulo.
"É melhor do que Viagra, porque nem é preciso pensar em sexo", teria dito Watson, segundo a estudante Sarah Tegen relatou ao "Chronicle". Tegen contou também que Watson disse que por isso se ouve falar em "amantes latinos", de pele bronzeada, enquanto a imagem dos britânicos, vitimados pelo tempo ruim, é a do "paciente inglês".
No fim da palestra, de cerca de uma hora, foram feitas só duas ou três perguntas. "O público ficou tão chocado que nem chegou a contestar Watson", disse a professora Susan Marqusee, que saiu antes do fim, mas conversou com várias pessoas que ficaram.
"Pai do DNA" gera polêmica em palestra sobre comportamento
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
de San Francisco
As pessoas bronzeadas têm mais desejo sexual. Os gordos são naturalmente felizes, por isso não têm ambição. E injeções de melanina, a substância que dá cor escura à pele, "são melhores que Viagra", porque provocam ereções prolongadas e involuntárias.
Os comentários, feitos numa palestra por James Watson, um dos maiores cientistas do século, provocaram a ira de alunos e professores de uma das principais universidades americanas, a da Califórnia em Berkeley.
Watson, Nobel de Medicina em 1962, é um dos descobridores da estrutura do DNA, a molécula que carrega toda a informação genética. A cidade de Berkeley foi o berço do movimento hippie nos anos 60 e hoje é um pilar do pensamento politicamente correto.
A professora Susan Marqusee, do Departamento de Biologia Molecular, retirou-se no meio da conferência, assistida por cerca de 200 pessoas. "Ele pegou alguns estereótipos sexistas e racistas e tentou dizer que eles têm base biológica, tudo isso sem mostrar nenhum dado", disse à Folha. "Também não acho adequado, numa palestra científica, mostrar imagens de mulheres de biquíni."
Watson, 72, usou as fotos de jovens em roupa de banho para ilustrar sua teoria de que a exposição ao sol aumenta o desejo sexual. Como contraponto, segundo testemunhas, apresentou imagens de mulheres em trajes muçulmanos tradicionais, cobertas dos pés à cabeça.
A palestra aconteceu no mês passado, mas seu conteúdo só agora veio a público, depois que estudantes contaram a história ao "San Francisco Chronicle", principal jornal da região.
"Watson é conhecido por falar o que pensa, de um jeito honesto, e não diria nada para intencionalmente ofender alguém", disse à Folha Jeffrey Picarello, diretor de relações públicas do Laboratório de Cold Spring Harbor, um renomado centro de pesquisas, do qual James Watson é presidente.
"Ele já deu essa mesma conferência em vários lugares. E só em Berkeley houve reação negativa."
A franqueza de Watson já lhe valeu o apelido de "Honest Jim".
"Até que foi bastante divertido, mas não era o tipo de diversão que eu considero apropriado", criticou a professora Marqusee.
Watson não comenta o caso.
A palestra se chamava "A Busca da Felicidade: Lições da Pom-C". A proteína pom-C participa da produção de vários hormônios, como melanina (cor da pele), beta-endorfinas (bem-estar) e leptina (metabolismo de gorduras).
Dessa origem comum, Watson extrai várias teorias. A principal é que o comportamento humano buscaria sempre situações em que o corpo produz mais endorfinas _como depois de um boa refeição ou tomando banho de sol. Ainda segundo cientistas presentes à conferência, as conclusões de Watson nem sempre são claras.
Na opinião do pesquisador, por exemplo, as pessoas gordas já teriam um nível de endorfinas que as satisfaz, por isso seriam menos ambiciosas. E os magros, com menos endorfinas, seriam mais insatisfeitos, o que lhes daria mais ambição e melhor perspectiva de sucesso profissional.
"Sempre que entrevisto um gordo em busca de emprego me sinto mal, porque sei que não vou contratá-lo", afirmou Watson.
Latino X Paciente Inglês
Ele começou sua exposição fazendo referência a uma pesquisa da Universidade do Arizona, que injetou melanina em homens saudáveis. O objetivo era escurecer a pele deles, como proteção contra câncer, mas o efeito obtido foi outro: ereções prolongadas, independente de estímulo.
"É melhor do que Viagra, porque nem é preciso pensar em sexo", teria dito Watson, segundo a estudante Sarah Tegen relatou ao "Chronicle". Tegen contou também que Watson disse que por isso se ouve falar em "amantes latinos", de pele bronzeada, enquanto a imagem dos britânicos, vitimados pelo tempo ruim, é a do "paciente inglês".
No fim da palestra, de cerca de uma hora, foram feitas só duas ou três perguntas. "O público ficou tão chocado que nem chegou a contestar Watson", disse a professora Susan Marqusee, que saiu antes do fim, mas conversou com várias pessoas que ficaram.
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