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09/08/2005 - 10h23

Ação humana destrói ciclo natural do Pantanal, diz Embrapa

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EDUARDO DE OLIVEIRA
HUDSON CORRÊA
da Agência Folha

A ação humana destruiu o ciclo natural de cheias e secas numa parte do Pantanal em Mato Grosso do Sul, aponta um relatório feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A área total do impacto ambiental, somada, equivale a três cidades de São Paulo.

A conclusão está no Projeto Pantanal-Taquari, finalizado em março passado depois de três anos de estudo. O trabalho foi produzido pela Embrapa Pantanal em conjunto com o Instituto Alterra e a Universidade de Wageningen, na Holanda.

"O problema não é novo, mas a compreensão dele é nova", disse a chefe-geral da Embrapa Pantanal, Emiko Kawakami de Resende.

Uma área total de 5.000 km2 foi transformada em trechos de alagamento permanente, devido ao assoreamento do rio Taquari. Isso representa 3,6% da área de cerca de 140 mil km2 do Pantanal, que se espalha pelos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O trecho afetado, onde o curso natural do rio desapareceu por causa do desmatamento, fica perto do encontro das águas do Taquari com o rio Paraguai, no chamado baixo Taquari.

"Essa inundação permanente transformou aqueles 5.000 km2 num ambiente que funciona como um lago oligotrófico [pobre em nutrientes]", diz Resende.

Apesar de a imagem do Pantanal estar normalmente associada às imensas áreas verdes cobertas por água, há também as épocas da vazante e da seca, que são essenciais para a manutenção desse ecossistema.

O processo sazonal que vai da seca à inundação é denominado pulso de inundação.

Círculo fechado

O pulso de inundação determina a riqueza das comunidades de peixes e outros organismos aquáticos, bem como a fertilidade da terra. "O sistema tem de encher e secar a cada ano. Esse processo, no caso dos peixes, faz com que haja uma oferta muito maior de alimento. Com a cheia, toda a vegetação terrestre mais sensível morre. Ela se decompõe e se transforma em detrito, comida preferencial de peixes como os curimbatás", explica Resende.

Ao longo do período de inundação há também o desenvolvimento de plantas aquáticas que filtram esses detritos e os retêm em suas raízes, o que propicia o desenvolvimento de insetos, os quais também servem de alimento a peixes.

Quando o sistema seca novamente, restam os detritos, que são aproveitados pela vegetação terrestre para crescer durante o período de seca.

O relatório registrou o impacto do alagamento permanente sobre a oferta de peixe. Nas décadas de 1970 e 1980 a quantidade capturada na bacia variava de 300 a 620 toneladas por ano. Mas a partir de 1994 a pesca tem sido menor do que cem toneladas ao ano.

Além de propiciar menor quantidade de alimento aos habitantes da região, a redução mexeu com a cadeia alimentar de animais aquáticos e semi-aquáticos, como jacarés, lontras e diversas aves.

A inundação permanente também teve impacto sobre a criação de gado no Pantanal, devido à redução das áreas de pastagem. Também prejudicou culturas de subsistência, como milho e feijão.

Migração

Esse problema foi tratado em trabalho produzido pelo pesquisador Fernando Fleury Curado, da Embrapa Pantanal. Ele identificou 153 famílias remanescentes no baixo Taquari, em localidades que já chegaram a abrigar 550 famílias. A redução das áreas de pastagens obrigou uma parte da população a deslocar-se para as cidades de Ladário e Corumbá.

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