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13/09/2005 - 09h23

Grupo de cientistas vê explosão mais velha do Universo

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Cientistas de várias partes do mundo anunciaram nesta segunda-feira a descoberta da explosão mais antiga --e portanto mais distante-- já observada no Universo. É o grito de morte de uma estrela, lançado uns 12,8 bilhões de anos atrás.

Isso é "apenas" 900 milhões de anos depois do nascimento do próprio Universo. Tudo bem, muita água pode rolar em 900 milhões de anos. Mas não no cosmos primitivo --demorou até que coisas tão simples quanto a própria água pudessem existir. Na verdade, essa observação inaugura uma nova fase nos estudos cosmológicos, em que os cientistas pretendem destrinchar a formação das primeiras estrelas.

No olho do furacão estão os enigmáticos GRBs (disparos de raios gama, na sigla em inglês).

O processo pelo qual essas rajadas de radiação são geradas Universo afora ainda não é totalmente esclarecido, mas "que eles estão associados ao colapso de uma estrela, eu não tenho muita dúvida", diz João Steiner, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo) e presidente do consórcio responsável pelo Soar --telescópio construído por brasileiros e americanos em La Serena, no Chile.

Mais um desses disparos, vindo de um ponto na constelação de Peixes, havia sido detectado no domingo retrasado pelo satélite Swift, da Nasa (agência espacial americana). Não foi uma detecção típica. "Tivemos dúvidas de que fosse mesmo um sinal", contou Neil Gehrels, astrofísico do Centro de Vôo Espacial Goddard, da Nasa, em entrevista coletiva.

Imediatamente, e como é de costume, um alerta foi disparado para cerca de 900 astrônomos espalhados pelo mundo, para que eles pudessem apontar seus telescópios para as mesmas coordenadas e observar o brilho posterior ao disparo de raios gama. Um dos que receberam a mensagem foi o grupo de Daniel Reichart, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Ele pediu que o pessoal do Soar fizesse a observação. Dois telescópios haviam tentado ver alguma coisa antes deles, mas não acharam nada.

No Soar, estavam de plantão dois brasileiros: Elysandra Figuerêdo e Eduardo Cypriano, ambos do IAG da USP. "De fato, o Soar foi o terceiro telescópio a apontar na direção de GRB050904 [nome técnico para designar o disparo de raio gama, GRB, detectado em 4 de setembro de 2005], mas foi o primeiro que conseguiu detectá-lo", diz Figuerêdo. "Isso foi emocionante, porque o Soar é um telescópio que está apenas começando suas operações. Certamente dele sairão muitas surpresas."

Além de participar da observação, a dupla brasileira também trabalhou em parceria com o pessoal da Universidade da Carolina do Norte na análise dos dados. "Como a descoberta foi feita há pouco tempo, ainda não se pôde analisar os dados com a profundidade devida, mas algo já pode ser visto", complementa Cypriano.

A primeira informação relevante foi a de que o disparo havia se originado a uma distância enorme da Terra. A estimativa original do pessoal do Soar era que a fonte estava a cerca de 13 bilhões de anos-luz de distância. Em outras palavras, havia sido produzida uns 13 bilhões de anos atrás.

A análise preliminar do Soar gerou um enorme interesse na comunidade astronômica, e vários outros passaram a caçar --e detectar-- o GRB050904. No final das contas, o Subaru, telescópio japonês, fez a medição mais precisa da idade: 12,8 bilhões de anos.

Há objetos já observados com idade comparável ou até maior. Um quasar --um embrião de galáxia, por assim dizer-- é sabidamente mais velho, assim como algumas galáxias muito distantes. "Mas essa é a primeira vez que se detecta a emissão proveniente de uma só estrela no limite observável do Universo", diz Cypriano.

A observação de raios gama pode abrir uma nova janela de estudo do Universo primitivo, segundo Don Lamb, da Universidade de Chicago, que participou do anúncio da descoberta na entrevista coletiva realizada pela Nasa.

"Agora que sabemos que eles podem ser detectados, esperamos ver outros ainda mais distantes. E não teremos de esperar muito. Achamos que centenas deles aparecerão nos próximos anos", disse. Com isso, será possível decifrar como funcionavam essas primeiras estrelas do cosmos, feitas apenas de hidrogênio, hélio e lítio, os únicos elementos produzidos durante a formação do Universo.

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