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15/09/2005 - 09h48

Pesquisadores belgas revelam buraco negro "sem-teto"

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Nos confins do Universo, a velha questão permanece: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galáxia? A resposta ao enigma agora finalmente parece estar a caminho, com uma descoberta surpreendente: um buraco negro sem-teto. O achado é do grupo liderado por Pierre Magain, da Universidade de Liège, na Bélgica.

É consenso que a maioria das galáxias tem um buraco negro supermaciço em seu núcleo. Até a Via Láctea exibe o seu. Esses objetos, com milhões de vezes a massa do Sol, são tão densos que nem a luz consegue escapar deles --daí o nome. Apenas o material girando ao seu redor, prestes a ser engolido, denuncia sua presença. Ao ser arrastado violentamente em torno do buraco, esse material emite radiação --em especial em ondas de rádio, que podem ser detectadas por radiotelescópios. Aos objetos dedurados pelas ondas de rádio os cientistas dão o nome de quasares (sigla para "fonte de rádio quase estelar").

Magain e seus colegas decidiram estudar um desses quasares, denominado HE0450-2958. Usando o Telescópio Espacial Hubble, eles tentaram observar as imediações do astro, à procura da galáxia que o abrigava. O que viram --ou melhor, o que não viram-- foi surpreendente.

O tal quasar parecia estar "nu", sem uma galáxia que o envolvesse. Pode não parecer mais que um detalhe, mas a revelação da nudez do quasar pode indicar a solução para um velho mistério.

Desde a constatação de que buracos negros supermaciços ocupam o centro das galáxias, os astrônomos ficaram na dúvida: seriam eles os embriões em torno dos quais as galáxias mais tarde se aglutinavam ou seria a formação de galáxias a responsável pelo nascimento posterior de um buraco negro em seu núcleo? A nova descoberta faz pender a balança para o lado dos que acreditam que os quasares são os "ovos" dos quais nascem as galáxias.

"Sim, nosso resultado de fato sugere que o buraco negro vem primeiro, e que esse quasar é muito provavelmente um aspirante a galáxia no começo de sua evolução", disse à Folha Pierre Magain. No artigo sobre a descoberta, publicado na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), os autores estranhamente não comentam essa possibilidade. "Ela não foi discutida no artigo porque alguns dos co-autores do estudo acharam que não podemos tirar conclusões de um único caso."

De toda maneira, as imagens do Hubble não excluem a possibilidade de que haja uma galáxia em torno do quasar --mas garantem que, se ela estiver lá, ela é muito menor que as costumeiras para quasares desse tamanho.

Galáxia escura

Magain e seus colegas também acalentam uma possibilidade interessante: a de que seja uma "galáxia escura". A matéria escura é outro mistério da astronomia. Os astrônomos sabem que ela está lá, em razão do efeito gravitacional que ela provoca em objetos circundantes, mas não conseguem vê-la. Se esse quasar for o centro de uma "galáxia escura", será um objeto ainda mais atípico. "Entre as hipóteses que vieram à nossa mente, essa é a que melhor permite explicar as observações", diz Magain. "Deve haver meio de confirmar a possível existência de galáxias assim, mas, em todo caso, nós provavelmente precisaremos encontrar mais exemplos dessas hipotéticas galáxias escuras. Nós vamos tentar."

A situação estranha no HE0450-2958 não vai durar muito tempo, ao menos em termos cosmológicos. As imagens do Hubble revelam que ele está interagindo fortemente com uma galáxia vizinha, despedaçando-a. Em alguns bilhões de anos, os objetos vão provavelmente colidir e se fundir, acabando com todo o exotismo ora observado. "Sim, eu concordo: em algum momento, o sistema irá provavelmente se parecer com um quasar dentro de uma galáxia", diz Magain. Azar o de civilizações alienígenas do futuro que precisarem de algum objeto como ele para decifrar o mistério do nascimento das galáxias.

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