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21/10/2005 - 09h45

Dano na Amazônia é maior que o contabilizado, diz estudo

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

O primeiro mapa feito por imagens de satélite do tamanho do estrago causado pela atividade madeireira na Amazônia acaba de ser publicado por um grupo dos EUA e do Brasil. A má notícia é que, se os cientistas estiverem certos, o dano provocado pelo homem à floresta é o dobro do que se contabilizava até agora.

A boa é que o governo brasileiro pode ter à mão, finalmente, um sistema para detectar pressões que até agora eram "invisíveis" aos olhos dos satélites --de novo, se os cientistas estiverem certos.

O estudo, coordenado por Greg Asner, da Universidade Stanford (EUA), revela que a exploração de madeira entre 1999 e 2002 subtraiu de 12 mil a 19,8 mil quilômetros quadrados de cobertura florestal por ano em cinco Estados: Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia e Roraima. Essa cifra é uma espécie de "caixa dois" da devastação, não-contabilizado pelas estatísticas oficiais de desmatamento. Segundo os autores, ela representaria de 60% a 123% do que se desmatou anualmente nesse período.

"Nós mostramos que há uma fonte enorme de perturbação para a qual os cientistas não estavam atentando", disse Asner à Folha.

No entanto, antes mesmo de sair publicado, na edição de hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org), o estudo já provocou reação no Brasil. Duas instituições que até então viviam às turras em torno da interpretação de dados de satélite do desmatamento, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), divulgaram ontem uma nota técnica conjunta apontando "várias inconsistências" no trabalho.

Segundo Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon que desenvolveu uma metodologia própria para detectar via satélite o corte seletivo, o grupo de Asner provavelmente superestimou a área de exploração. Souza Jr. e o grupo do Inpe, liderado por Gilberto Câmara, também dizem acreditar que o estudo da "Science" tenha confundido afloramentos de rocha em reservas indígenas do sul do Pará com a "assinatura" da exploração de madeira nas imagens.

Embora admita que haja incertezas, Asner afirma que a metodologia foi avaliada por um grupo independente e se mostrou sólida.

Visão aguçada

O que o americano fez foi desenvolver um sistema computacional que refina imagens do satélite Landsat, principal fonte de informação sobre desmatamento.

É com base no Landsat que funciona o Prodes, sistema do Inpe que fornece todos os anos a taxa de desmatamento oficial. No biênio 2001-02, por exemplo, a estimativa do Prodes foi de que 23 mil quilômetros quadrados de floresta sumiram na região.

Acontece que o Prodes foi feito para detectar mudanças na cobertura florestal --de mata para pasto, por exemplo. Portanto, não capta a atividade madeireira. Além disso, o sistema é "míope" para impactos em áreas pequenas, como clareiras abertas no mato para empilhar toras.

A tecnologia de processamento de imagens desenvolvida por Asner e batizada de Clas (Sistema Carnegie de Análise de Landsat) usa informações de outros satélites como "óculos" para a miopia do Landsat. Além disso, ela permite ao computador reconhecer as "assinaturas" da exploração de madeira, como marcas de trator.

Cruzando os dados do satélite com levantamentos de campo, o grupo estimou que 27 milhões de metros cúbicos de madeira tenham sido extraídos nos cinco Estados só em 2002 --algo próximo de estimativa anterior do Imazon. "Isso mostra que a avaliação do alto pode ser eficiente", diz José Natalino Silva, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), co-autor do estudo.

Souza Jr. pede calma. "Eles estimaram 50 milhões de metros cúbicos de madeira extraída em 1999. A impressão é que há uma superestimativa. Talvez a exploração de anos anteriores esteja contaminando o resultado." O cientista do Imazon deve publicar em breve no periódico "Remote Sensing of the Environment" um estudo que estima a área da exploração de madeira também usando dados de satélite. Ele não diz quanto, mas afirma que seus resultados indicam uma "devastação oculta" mais modesta.

Outro ponto polêmico é o total de emissões de carbono pela exploração de madeira. Asner e colegas estimam que ela seja de 100 milhões de toneladas ao ano --metade de tudo o que o Brasil emite por queimadas e desflorestamento. "Esse valor se baseia em extrapolações irrealistas", dizem Inpe e Imazon na nota, ressaltando que a extração seletiva, embora emita carbono num primeiro momento, absorve-o depois, quando a floresta se regenera.

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