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26/10/2005 - 12h08

Molécula de vegetal poderá atacar pragas da lavoura

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Com um pouco de sorte, o nome "jaburetox" talvez se torne tão familiar para os agricultores do Brasil quanto o dos principais agrotóxicos de hoje. Foi esse apelido que pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) deram a um fragmento de proteína vegetal que tem mostrado ser capaz de enfrentar diversos tipos de praga.

"Até agora, verificamos que percevejos e alguns besouros, como os carunchos de feijão, são sensíveis às ureases [família de substâncias à qual pertence o jaburetox]. Ainda não testamos, mas acreditamos que elas também sejam ativas contra os pulgões. E também observamos efeitos em algumas lagartas, baratas e cupins", contou à Folha a pesquisadora Célia R. Carlini, coordenadora do Laprotox (Laboratório de Proteínas Tóxicas) da UFRGS, onde a molécula é estudada.

A aplicação do jaburetox (na verdade um conjunto de vários fragmentos de proteína, todos desenvolvidos a partir de ureases) poderá ser dupla. De um lado, os pesquisadores já estão modificando geneticamente plantas de interesse comercial, para que elas se tornem capazes de fabricar sua própria defesa química contra as pragas. De outro, a própria substância poderia ser usada como inseticida doméstico, matando baratas ou cupins.

Função misteriosa

Segundo Carlini, a verdadeira função das ureases nas plantas que as produzem (como melão, melancia, abóbora e pepino) ainda é misteriosa. A pesquisadora explica que elas são capazes de "quebrar" moléculas de uréia, um tipo de dejeto orgânico, transformando-as em duas de amônia e uma de gás carbônico. "Mas a uréia não é uma substância abundante na natureza a ponto de justificar que as plantas sintetizem grandes quantidades de urease", afirma a pesquisadora.

Seja como for, o mistério logo foi sobrepujado pela descoberta da canatoxina, uma urease do feijão-de-porco (um tipo de feijão que, como sugere o nome, não é usado na alimentação humana).

Acontece que a substância, ao ser ingerida por insetos, mostrou-se letal para eles. Foi investigando o processo mais a fundo que Carlini e seus colegas perceberam que quem realmente despachava as pragas era um fragmento da proteína. Eles, então, dominaram o procedimento de criar esse pedaço a partir dos trechos de DNA que contêm a "receita" para sua fabricação. Bastaria inseri-lo numa bactéria ou nas células de uma planta para que elas se pusessem a produzi-lo. O procedimento (que também inclui fragmentos de outras ureases do feijão-de-porco) rendeu duas patentes ao grupo.

Ampla ação

Caso o jaburetox chegue mesmo às plantações, ele deve se mostrar mais vantajoso que a principal estratégia parecida usada hoje: a das toxinas BT, oriundas de uma bactéria. "Elas são específicas demais. Uma toxina às vezes só é ativa para um pequeno número de espécies", conta Carlini. Ou seja, uma praga pode ser eliminada, enquanto outras ficam ilesas. Já o jaburetox poderia ter amplo espectro de ação.

Claro que isso poderia causar outro tipo de problema: um impacto sério na biodiversidade de insetos da plantação, com efeitos ecológicos complicados. Mas isso pode ser contornado. "Usar a urease intacta pode ser uma estratégia para dirigir o efeito, porque só o inseto com as enzimas digestivas apropriadas quebrará a proteína nos fragmentos certos."

Finalmente, há a vantagem de que as ureases já são comidas normalmente por seres humanos, sem danos conhecidos.

O trabalho foi divulgado na edição deste mês da revista "Pesquisa Fapesp" (revistapesquisa.fapesp.br), publicada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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