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08/11/2005
-
09h12
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo
Craig Venter, cientista acusado de ter tentado monopolizar os dados guardados no DNA de todas as pessoas, está agora acusando certos governos --entre eles o brasileiro-- de tentar clamar posse sobre organismos da natureza.
O pesquisador, que ficou famoso ao constituir uma companhia, a Celera Genomics, para competir com o consórcio público internacional numa corrida para decifrar o genoma humano, teceu suas críticas ontem, durante sua participação na ExpoManagement 2005, feira voltada para administradores realizada na capital paulista.
Venter atualmente trabalha num grande projeto de bioprospecção oceânica. A bordo do barco Sorcerer-2, o cientista americano está fazendo um tour pelo mundo, com o objetivo de coletar amostras biológicas de seres vivos nas águas e seqüenciar seu DNA (www.sorcerer2expedition.org).
Na rota planejada originalmente, Venter faria coletas no rio Amazonas. No entanto, o cientista, que é financiado por duas fundações --uma dele mesmo-- e pelo governo americano, fracassou em obter autorização do governo brasileiro para realizar seu trabalho em águas nacionais.
O cientista não tinha palavras particularmente gentis para descrever o caso. "Em todos os lugares aonde decidimos ir, tivemos de pedir autorização para os governos, e nosso acordo era o de que as descobertas que fizéssemos não poderiam ser patenteadas, nem por nós, nem por esses países; seriam divulgadas publicamente", disse Venter. "Então não é uma questão de eu achar que tenho direito de possuir os genes de qualquer coisa. É o contrário, alguns países é que acham que são donos dos organismos."
A crítica vem no momento em que o Ministério do Meio Ambiente prepara um projeto de lei justamente para regulamentar o acesso aos recursos genéticos. Venter jura que é contra o patenteamento de genes em si --ele defende apenas a propriedade intelectual sobre processos que envolvam os genes, mas não sobre os próprios dados genéticos.
Ele também defende que não se deva criar amarras demasiadas ao trabalho dos cientistas. E arremata suas conclusões sobre barreiras internacionais com um exemplo histórico. "Se fosse hoje, Charles Darwin teria sido impedido de fazer sua pesquisa", diz. O naturalista britânico Darwin desenvolveu sua teoria da evolução das espécies pela seleção natural em meados do século 19 com base em observações que fez numa longa viagem pelos quatro cantos do mundo a bordo do navio Beagle, que teve passagem pelo Brasil.
Prometeu
Para Venter, a decifração de genomas pelo mundo afora é o que dará o conhecimento para que a civilização siga avançando, seja aprimorando a medicina, seja tornando a produção de energia ecologicamente sustentável. Com sua pesquisa oceânica, ainda em andamento, Venter comunica, orgulhoso, que já decifrou mais genes do que todos os outros trabalhos na área juntos. Ele cumpre assim o papel de Prometeu, o último dos titãs, que segundo a mitologia grega deu o segredo do fogo à humanidade. E prometer é mesmo uma especialidade dele.
Como de costume, Venter aproveitou sua palestra para desfilar promessas. Uma delas é a de que em dez anos, com mil dólares na mão, qualquer um poderá ter o seu próprio genoma seqüenciado. Para ele, isso poderá revolucionar os tratamentos médicos.
Outra promessa é a de que o futuro energético da civilização está na biotecnologia. Ele acredita que a melhor forma de produzir energia sem destruir o ambiente é conceber organismos "engenheirados" de forma a produzir biocombustível a partir de, por exemplo, gás carbônico --hoje o maior gás causador de efeito estufa emitido pela queima dos famigerados combustíveis fósseis.
Ainda na linha da pesquisa do amanhã, Venter diz que seu grupo já está trabalhando para começar a criar organismos do nada, "redigindo" seu DNA. "Vamos passar de leitores do código genético a escritores", ele diz.
É esperar para ver.
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da Folha de S.Paulo
Craig Venter, cientista acusado de ter tentado monopolizar os dados guardados no DNA de todas as pessoas, está agora acusando certos governos --entre eles o brasileiro-- de tentar clamar posse sobre organismos da natureza.
O pesquisador, que ficou famoso ao constituir uma companhia, a Celera Genomics, para competir com o consórcio público internacional numa corrida para decifrar o genoma humano, teceu suas críticas ontem, durante sua participação na ExpoManagement 2005, feira voltada para administradores realizada na capital paulista.
Venter atualmente trabalha num grande projeto de bioprospecção oceânica. A bordo do barco Sorcerer-2, o cientista americano está fazendo um tour pelo mundo, com o objetivo de coletar amostras biológicas de seres vivos nas águas e seqüenciar seu DNA (www.sorcerer2expedition.org).
Na rota planejada originalmente, Venter faria coletas no rio Amazonas. No entanto, o cientista, que é financiado por duas fundações --uma dele mesmo-- e pelo governo americano, fracassou em obter autorização do governo brasileiro para realizar seu trabalho em águas nacionais.
O cientista não tinha palavras particularmente gentis para descrever o caso. "Em todos os lugares aonde decidimos ir, tivemos de pedir autorização para os governos, e nosso acordo era o de que as descobertas que fizéssemos não poderiam ser patenteadas, nem por nós, nem por esses países; seriam divulgadas publicamente", disse Venter. "Então não é uma questão de eu achar que tenho direito de possuir os genes de qualquer coisa. É o contrário, alguns países é que acham que são donos dos organismos."
A crítica vem no momento em que o Ministério do Meio Ambiente prepara um projeto de lei justamente para regulamentar o acesso aos recursos genéticos. Venter jura que é contra o patenteamento de genes em si --ele defende apenas a propriedade intelectual sobre processos que envolvam os genes, mas não sobre os próprios dados genéticos.
Ele também defende que não se deva criar amarras demasiadas ao trabalho dos cientistas. E arremata suas conclusões sobre barreiras internacionais com um exemplo histórico. "Se fosse hoje, Charles Darwin teria sido impedido de fazer sua pesquisa", diz. O naturalista britânico Darwin desenvolveu sua teoria da evolução das espécies pela seleção natural em meados do século 19 com base em observações que fez numa longa viagem pelos quatro cantos do mundo a bordo do navio Beagle, que teve passagem pelo Brasil.
Prometeu
Para Venter, a decifração de genomas pelo mundo afora é o que dará o conhecimento para que a civilização siga avançando, seja aprimorando a medicina, seja tornando a produção de energia ecologicamente sustentável. Com sua pesquisa oceânica, ainda em andamento, Venter comunica, orgulhoso, que já decifrou mais genes do que todos os outros trabalhos na área juntos. Ele cumpre assim o papel de Prometeu, o último dos titãs, que segundo a mitologia grega deu o segredo do fogo à humanidade. E prometer é mesmo uma especialidade dele.
Como de costume, Venter aproveitou sua palestra para desfilar promessas. Uma delas é a de que em dez anos, com mil dólares na mão, qualquer um poderá ter o seu próprio genoma seqüenciado. Para ele, isso poderá revolucionar os tratamentos médicos.
Outra promessa é a de que o futuro energético da civilização está na biotecnologia. Ele acredita que a melhor forma de produzir energia sem destruir o ambiente é conceber organismos "engenheirados" de forma a produzir biocombustível a partir de, por exemplo, gás carbônico --hoje o maior gás causador de efeito estufa emitido pela queima dos famigerados combustíveis fósseis.
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