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25/11/2005 - 09h42

Cientista coreano admite falhas éticas e deixa cargo

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

O cientista da Coréia do Sul que assombrou seus colegas ocidentais ao criar os primeiros embriões humanos clonados para fins terapêuticos se humilhou ontem diante das câmeras. Woo-Suk Hwang pediu perdão por atitudes eticamente questionáveis, como o uso de óvulos de subordinadas em suas pesquisas, e deixou seu cargo de chefe do Centro Mundial de Células-Tronco, criado pelo governo sul-coreano.

"Sinto ter de dizer ao público palavras que são vergonhosas e horríveis demais. A responsabilidade de toda a controvérsia é minha", disse Hwang, que é pesquisador da Universidade Nacional de Seul. "Ao ficar excessivamente preocupado com o desenvolvimento científico, posso não ter percebido todas as questões éticas ligadas à minha pesquisa." Hwang também afirmou que a demissão "é a minha maneira de buscar o arrependimento".

O pesquisador admitiu que sabia da procedência dos óvulos desde 2004. Ele teria ocultado o fato a pedido das cientistas-doadoras que chefiava.

A revelação é a gota d'água de um processo de desgaste que se desenrola nas últimas duas semanas. Primeiro, o americano Gerald Schatten, da Universidade de Pittsburgh, que colaborou com Hwang em pesquisas de impacto como a clonagem do primeiro cão, disse estar desistindo da parceria por causa de problemas éticos. Depois, outro colega, o também coreano Sung-Il Roh, disse ter comprado óvulos de 16 doadoras, pagando a cada uma delas cerca de R$ 3.000. Hwang não comentou a confissão de Roh.

Apesar de ter se demitido, Hwang recebeu apoio do governo de seu país, para o qual as doações não foram antiéticas, já que teriam sido "voluntárias".

Para o bioeticista Marco Segre, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, a parte mais delicada do dilema é justamente essa. "Se houve coação [para doar os óvulos], aí se trata de uma forma de opressão do ser humano como outra qualquer", afirma ele, ressaltando que não se pode descartar a possibilidade de que as pesquisadoras realmente tenham colaborado por livre vontade.

Quanto aos pagamentos, ele avalia: "Quando se doam órgãos ou tecidos, é muito infantil imaginar que as pessoas o façam por solidariedade. Não estou endossando a atitude dele, mas para mim é moralismo [querer banir a compensação financeira]".

"Uma pessoa que se dispõe a participar desse tipo de estudo está sujeita a procedimentos dolorosos, que envolvem muito tempo. Por isso não acho nada errado pagar doadores", concorda Rosalia Otero, especialista em células-tronco da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "É uma pena que eles [os coreanos] não tenham colocado isso de cara. Tomara que eles não parem."

Lygia da Veiga Pereira, que também estuda o potencial terapêutico dessas células na USP, diz que pode haver uma boa notícia na confissão de Hwang. "Por um lado, é um passo atrás. Mas é um jeito de salvar a linha de pesquisa do país mostrando clareza. O mundo inteiro está de olho e não vai tolerar erros éticos numa pesquisa que já é tão controversa."

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