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04/12/2005 - 12h05

Doadora de rosto transplantado cometeu suicídio, diz jornal

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da Folha Online

A desempregada Isabelle Dinoire, 38, primeira paciente na história da medicina submetida a uma cirurgia de transplante parcial de rosto, passa bem e está em recuperação em um hospital em Lyon, na França. Contente com o resultado do procedimento, ela disse que ainda está se olhando no espelho. A operação inédita ocorreu no último domingo na cidade de Amiens, no norte da França.

Já a identidade da doadora do rosto para Isabelle ainda é mantida em sigilo. Sabe-se apenas que ela era francesa, tinha 38 anos (mesma idade de Isabelle) e cometeu suicídio por meio de enforcamento, segundo informou o jornal britânico "The Sunday Times", citando fontes médicas.

Reprodução
Jornal "Daily Telegraph" estampa rosto no pós-operatório
Jornal "Daily Telegraph" estampa rosto no pós-operatório
Divorciada e mãe de duas adolescentes, Isabelle recebeu tecidos, artérias e veias de outra mulher que havia tido morte cerebral. Em maio passado, a transplantada foi atacada por seu cão, um labrador (em geral, uma raça dócil), e teve seu rosto desfigurado.

Em entrevista, ela revelou que finalmente está fazendo as pazes com o espelho. Para Isabelle, é tudo muito impressionante e a equipe médica está de parabéns porque lhe deu um rosto novo.

De acordo com Isabelle, a operação de mais de 15 horas põe um ponto final em uma seqüência de eventos desastrosos em sua vida, que culminou em maio passado, quando ela tomou uma overdose de pílulas para dormir e quase morreu em seu apartamento na cidade de Valenciennes, na França.

Deprimida na época, Isabelle diz que não via outra solução a não ser cometer o suicídio. Apesar de não gostar de falar sobre os motivos da crise que teve no passado, amigos revelaram que ela ficou decepcionada após manter um relacionamento amoroso que não deu certo.

Labrador e cocker

Mordida pelo próprio cão, Isabelle conta que o animal a atacou quando ela ainda estava dormindo. Segundo ela, provavelmente ele estava apenas brincando e lambendo seu rosto. Fã de cães, Isabelle lamenta o que aconteceu e diz que fica triste quando lembra que o animal teve de ser sacrificado. Por outro lado, otimista, a francesa surpreendentemente acha que o acidente mudou a sua vida.

O motivo, segundo ela, é que mesmo com o rosto desfigurado, ela conseguiu se fortalecer e parar de pensar em suicídio. Antes do transplante, Isabelle refletiu bastante e contou com ajuda psicológica de profissionais.

Depois do ataque, seus amigos pensavam que ela jamais teria novamente um animal de estimação, mas a paixão pelos cães venceu. Isabelle adquiriu um novo cachorro, desta vez da raça cocker spaniel. Enquanto se recupera, o animal está na casa de sua mãe. Com saudades de todos, Isabelle não vê a hora de se encontrar com os parentes e de brincar com o animal.

Máscara

O cotidiano dela, claro, mudou quando teve o rosto desfigurado. Mãe de duas adolescentes, ela disse que só saía de casa com uma máscara. Ao conversar com os jornalistas, Isabelle disse que a maioria das pessoas que a viam achavam que ela tinha medo de contaminar-se, e por isso andava com o rosto coberto. Suas filhas --de 13 e 17 anos-- também sofreram muito e se preocupavam com a saúde e a aparência da mãe.

O cirurgião Jean-Michel Dubernard, 64, responsável pela cirurgia de Isabelle, disse durante uma conferência na quinta-feira que ele encarou a cirurgia como uma missão.

Além de melhorar a aparência da paciente, o objetivo era lhe dar uma nova vida. "Sem contar que não era apenas a aparência física o único problema neste caso. Por ter perdido parte do rosto, Isabelle tinha dificuldade para comer, respirar e até mesmo falar, pois teve parte dos músculos da boca e do nariz destruídas", esclarece.

Vendedora de roupas

O professor de Ética da Universidade de Amiens, Olivier Jarde, que participou de uma comissão que aprovou o procedimento, revelou que antes da cirurgia foram levantados uma série de fatores físicos e psicológicos, como compatibilidade de cor da pele, textura, assim como rugas e manchas, e o lado emocional da paciente.

Uma equipe também teve de convencer a família da doadora para que o transplante fosse viabilizado.

Um dos obstáculos vencidos pela equipe médica durante o procedimento foi fazer com que Isabelle não ficasse com um rosto inerte, sem movimento. Isabelle, cujo último emprego foi vender roupas, poderá abrir e fechar a boca com facilidade em poucos dias, disseram os médicos.

No início, ainda terá dificuldade de se expressar por meio dos músculos da face, mas, segundo a equipe de especialistas, com o tempo, Isabelle retomará os movimentos.

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