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13/12/2005
-
09h51
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
A tese de que um povo de aparência bem distinta da dos índios atuais foi o primeiro a colonizar a América ganhou novo reforço hoje, com um artigo de uma dupla brasileira publicado na prestigiosa revista científica "PNAS". Eles examinaram a maior amostra já reunida de crânios de Lagoa Santa (MG) e concluíram que suas características estão, na verdade, próximas da dos atuais australianos, melanésios e africanos.
Assinado por Walter Neves e Mark Hubbe, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP, o trabalho arremata mais de uma década de trabalho, cujo símbolo é o famoso crânio de "Luzia", a mulher mais antiga das Américas, com 11,5 mil anos. "Declarei guerra depois que os americanos disseram que a Luzia era um indivíduo isolado, e essa é a resposta", disse Neves à Folha.
Neves e Hubbe compararam 81 crânios oriundos de Lagoa Santa, espalhados por museus do Brasil e do mundo, com coleções padronizadas de povos das várias regiões do mundo. As medições usadas por eles, que incorporam parâmetros estatísticos sofisticados, mostraram que, tal como os australianos, melanésios e africanos, a gente que habitou Minas entre 12 mil e 7.500 anos atrás tinha mandíbula projetada para a frente, nariz largo e cabeça estreita e alta --ao contrário da fisionomia "mongolóide" de muitos dos índios modernos.
Para os pesquisadores, a gente de Luzia teria vindo da Ásia pelo estreito de Bering, numa época em que a fisionomia mongolóide, também asiática, ainda não teria surgido. Resta, no entanto, uma lacuna irritante: saber o que aconteceu entre essa época e a formação dos atuais povos indígenas. "Ao menos na América do Sul, a transição é brusca", conta Neves --há só cinco crânios da mesma época na América do Norte. "Mas é possível que o fluxo contínuo de asiáticos tenha mudado essa morfologia", diz, com reservas.
David Meltzer, especialista em arqueologia americana da Universidade Metodista do Sul (Texas, EUA), diz considerar o trabalho "interessante e analiticamente confiável", mas vê como ponto fraco justamente o fato de que os dados vêm só de Lagoa Santa.
Neves diz que, agora, deve analisar crânios da Colômbia. "Só com muito financiamento é possível fazer um trabalho como esse, de longa duração", diz Neves, que tem apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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da Folha de S.Paulo
A tese de que um povo de aparência bem distinta da dos índios atuais foi o primeiro a colonizar a América ganhou novo reforço hoje, com um artigo de uma dupla brasileira publicado na prestigiosa revista científica "PNAS". Eles examinaram a maior amostra já reunida de crânios de Lagoa Santa (MG) e concluíram que suas características estão, na verdade, próximas da dos atuais australianos, melanésios e africanos.
Assinado por Walter Neves e Mark Hubbe, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP, o trabalho arremata mais de uma década de trabalho, cujo símbolo é o famoso crânio de "Luzia", a mulher mais antiga das Américas, com 11,5 mil anos. "Declarei guerra depois que os americanos disseram que a Luzia era um indivíduo isolado, e essa é a resposta", disse Neves à Folha.
Neves e Hubbe compararam 81 crânios oriundos de Lagoa Santa, espalhados por museus do Brasil e do mundo, com coleções padronizadas de povos das várias regiões do mundo. As medições usadas por eles, que incorporam parâmetros estatísticos sofisticados, mostraram que, tal como os australianos, melanésios e africanos, a gente que habitou Minas entre 12 mil e 7.500 anos atrás tinha mandíbula projetada para a frente, nariz largo e cabeça estreita e alta --ao contrário da fisionomia "mongolóide" de muitos dos índios modernos.
Para os pesquisadores, a gente de Luzia teria vindo da Ásia pelo estreito de Bering, numa época em que a fisionomia mongolóide, também asiática, ainda não teria surgido. Resta, no entanto, uma lacuna irritante: saber o que aconteceu entre essa época e a formação dos atuais povos indígenas. "Ao menos na América do Sul, a transição é brusca", conta Neves --há só cinco crânios da mesma época na América do Norte. "Mas é possível que o fluxo contínuo de asiáticos tenha mudado essa morfologia", diz, com reservas.
David Meltzer, especialista em arqueologia americana da Universidade Metodista do Sul (Texas, EUA), diz considerar o trabalho "interessante e analiticamente confiável", mas vê como ponto fraco justamente o fato de que os dados vêm só de Lagoa Santa.
Neves diz que, agora, deve analisar crânios da Colômbia. "Só com muito financiamento é possível fazer um trabalho como esse, de longa duração", diz Neves, que tem apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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