Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/02/2006 - 09h28

Opinião alheia define sucesso de músicas

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Futuros candidatos a astro da música pop têm uma coisinha ou duas a aprender com um artigo científico publicado hoje na prestigiosa revista americana "Science" (www.sciencemag.org). A pesquisa, bolada por sociólogos americanos, sugere que, embora a qualidade das canções tenha lá sua importância, uma banda ganha o estrelato quando novos fãs sabem que muitas outras pessoas preferem o som dela.

O resultado é fruto de um experimento feito pela internet, no qual Matt Salganik, Duncan Watts e Peter Dodds, da Universidade Columbia, montaram um site de downloads gratuitos, com um repertório de 48 músicas. Depois, recrutaram 14.341 usuários da web (a maioria numa página de internet dedicada a adolescentes) e viram como, ao longo do tempo, a popularidade de cada canção --medida pelo número de downloads-- evoluía.

A chave do trabalho está na comparação engenhosa entre dois "cenários" bem diferentes. Num deles, a única interação entre as pessoas que baixavam as músicas e o site era dar notas às canções (de uma estrela, ou "eu odeio", a cinco estrelas, ou "eu adoro"). No outro, a cada vez que uma música era baixada, isso ficava registrado e público.

Esse segundo cenário (apelidado de "situação de influência social" pelos pesquisadores) tinha, na verdade, duas situações alternativas. Numa delas, aparecia o número de downloads para cada canção, mas de forma desordenada --ou seja, a lista não estava organizada a partir das músicas mais populares. Na segunda situação, planejada para deixar a influência social no seu ponto máximo, a lista de canções aparecia em ordem decrescente de popularidade, com as mais baixadas no topo e as menos na rabeira.

Em busca dos desconhecidos

Matt Salganik explica que o grupo fez de tudo para garantir que as bandas e músicas do experimento fossem ilustres desconhecidas. "Elas foram escolhidas de forma aleatória no site www.purevolume.com, onde as bandas podem postar suas músicas para download gratuito. Tiramos da lista todas as bandas que tinham feito mais de 15 shows nos últimos 30 dias ou que tinham tocado em mais de dez Estados [americanos]. Depois, mostramos a lista para dois especialistas em música pop e nenhum nunca tinha ouvido falar delas", conta.

Os pesquisadores também tentaram dar um jeito de medir a qualidade "pura" das músicas --no caso, marcada pela quantidade de vezes que cada uma era baixada no cenário independente, sem influência social. "Essa é uma medida natural da qualidade porque se baseia apenas nas características das canções", argumenta Salganik. E é aí que vem a grande surpresa do trabalho.

Na média, conta o sociólogo, era difícil que as "melhores" músicas fossem pouco baixadas, ou que as "piores" fossem campeãs de download. Mas, no cenário com influência social, o desempenho da maioria das músicas se tornava muito mais imprevisível. "A relação entre a qualidade da música e o seu sucesso se torna menos direta conforme a influência social aumenta", conta ele.

O impacto dessa variável, aliás, cresce cerca de 25% no caso em que os participantes podiam ver o ranking decrescente das músicas. Além de tornar imprevisível quem é hit e quem é mico, a influência social também é um gerador de desigualdade, sugerem os dados. No cenário em que as pessoas sabem da opinião dos outros, a concentração de downloads é muito maior.

"Parece-me certo o argumento, embora eles talvez não saibam que o efeito é mais geral do que eles imaginam", avalia o físico Madras Viswanathan Gandhi Mohan, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), co-autor de uma análise estatística que classificou os estilos musicais por meio de sua complexidade rítmica.

"A influência social alavanca, digamos, certas canções, livros etc., que estão no topo da lista. Ou seja, o efeito aditivo dos downloads independentes torna-se quase um processo multiplicativo", diz Gandhi, como prefere ser chamado. Segundo o físico, é algo que acontece também em campos como a economia ou os relacionamentos pessoais, por exemplo.

O experimento já está concluído, mas os interessados ainda podem baixar, de graça, as músicas no site do projeto (musiclab.columbia.edu), que continua no ar.

Leia mais
  • Internautas preferem músicas piratas, diz estudo

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre download de músicas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página