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31/05/2006
-
11h23
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Os genes envolvidos na causa de tipos comuns de câncer "não existem, e se existem é improvável que tenham grande efeito sobre a incidência da doença". Com esta frase, uma dupla de cientistas resume evidências que colocam em xeque uma das promessas de aplicação do Projeto Genoma Humano.
A contestação foi publicada duas semanas atrás em um estudo assinado por Stuart Baker, bioestatístico do NCI (Instituto Nacional do Câncer dos EUA), e Jaakko Kaprio, epidemiologista da Universidade de Helsinque. Os dois expõem motivos para acreditar que a busca de causas genéticas para a maioria dos cânceres comuns é perda de tempo e dinheiro.
O estudo gerou certo mal-estar na comunidade médica americana ao contestar diretamente o CGems, projeto do NCI de busca por marcadores genéticos de suscetibilidade ao câncer, com orçamento de US$ 14 milhões. Em sua primeira etapa, o programa deve seqüenciar o genoma de 2.500 homens para buscar genes de câncer de próstata.
A crítica de Baker e Kaprio exclui aqueles tipos de câncer claramente hereditários, como os tumores de mama causados por mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Os casos da doença ligados a alterações herdadas, porém, são apenas de 8% a 14% do total de cânceres de mama registrados, e a maioria dos restantes provavelmente não tem nenhum componente hereditário, alegam os pesquisadores. Para tumores de próstata, estima-se que de 9% a 22% tenham fundo genético, e para câncer colorretal, as cifras variam de 5% a 13%.
A maior parte dos casos de câncer parece resultar de grandes rearranjos do DNA, e não de pequenas mutações. "Esses arranjos ocorrem em fases avançadas da carcinogênese --portanto não são úteis para prevenção-- e provavelmente resultam de fatores não-genéticos", disse Kaprio à Folha.
Para o pesquisador, há uma tendência a ignorar resultados negativos cientificamente relevantes e supervalorizar conclusões apressadas. "É sabido que há muitos resultados falsos-positivos que encontram ligações entre genes comuns e câncer, mas que não são confirmados depois", diz. "Estudos de confirmação com amostragens [números de pessoas testadas] bem grandes são necessários."
Para o oncologista Ricardo Brentani, um dos líderes do Projeto Genoma Câncer brasileiro, as críticas são válidas, mas o problema de programas como o CGems é o tamanho da amostra."É preciso ter pelo menos uns 100 mil genomas inteiros para começar a enxergar as diferenças e semelhanças entre as pessoas para achar genes de suscetibilidade", diz. O projeto brasileiro não procurava fazer esse tipo de ligação.
Diretores do CGems foram procurados pela Folha, mas não quiseram comentar a nova pesquisa. As críticas levantadas no trabalho estão sendo tratadas como assunto interno, já que um dos autores do estudo pertence ao NCI, a instituição que conduz o programa.
O estudo foi publicado no "British Medical Journal" (www.bmj.com).
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Os genes envolvidos na causa de tipos comuns de câncer "não existem, e se existem é improvável que tenham grande efeito sobre a incidência da doença". Com esta frase, uma dupla de cientistas resume evidências que colocam em xeque uma das promessas de aplicação do Projeto Genoma Humano.
A contestação foi publicada duas semanas atrás em um estudo assinado por Stuart Baker, bioestatístico do NCI (Instituto Nacional do Câncer dos EUA), e Jaakko Kaprio, epidemiologista da Universidade de Helsinque. Os dois expõem motivos para acreditar que a busca de causas genéticas para a maioria dos cânceres comuns é perda de tempo e dinheiro.
O estudo gerou certo mal-estar na comunidade médica americana ao contestar diretamente o CGems, projeto do NCI de busca por marcadores genéticos de suscetibilidade ao câncer, com orçamento de US$ 14 milhões. Em sua primeira etapa, o programa deve seqüenciar o genoma de 2.500 homens para buscar genes de câncer de próstata.
A crítica de Baker e Kaprio exclui aqueles tipos de câncer claramente hereditários, como os tumores de mama causados por mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Os casos da doença ligados a alterações herdadas, porém, são apenas de 8% a 14% do total de cânceres de mama registrados, e a maioria dos restantes provavelmente não tem nenhum componente hereditário, alegam os pesquisadores. Para tumores de próstata, estima-se que de 9% a 22% tenham fundo genético, e para câncer colorretal, as cifras variam de 5% a 13%.
A maior parte dos casos de câncer parece resultar de grandes rearranjos do DNA, e não de pequenas mutações. "Esses arranjos ocorrem em fases avançadas da carcinogênese --portanto não são úteis para prevenção-- e provavelmente resultam de fatores não-genéticos", disse Kaprio à Folha.
Para o pesquisador, há uma tendência a ignorar resultados negativos cientificamente relevantes e supervalorizar conclusões apressadas. "É sabido que há muitos resultados falsos-positivos que encontram ligações entre genes comuns e câncer, mas que não são confirmados depois", diz. "Estudos de confirmação com amostragens [números de pessoas testadas] bem grandes são necessários."
Para o oncologista Ricardo Brentani, um dos líderes do Projeto Genoma Câncer brasileiro, as críticas são válidas, mas o problema de programas como o CGems é o tamanho da amostra."É preciso ter pelo menos uns 100 mil genomas inteiros para começar a enxergar as diferenças e semelhanças entre as pessoas para achar genes de suscetibilidade", diz. O projeto brasileiro não procurava fazer esse tipo de ligação.
Diretores do CGems foram procurados pela Folha, mas não quiseram comentar a nova pesquisa. As críticas levantadas no trabalho estão sendo tratadas como assunto interno, já que um dos autores do estudo pertence ao NCI, a instituição que conduz o programa.
O estudo foi publicado no "British Medical Journal" (www.bmj.com).
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