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04/08/2006
-
10h19
da Folha de S.Paulo
Nas veias da humanidade moderna corre, muito provavelmente, uma quantidade pequena mas significativa de sangue neandertal. Essa é a principal e surpreendente conclusão de um estudo de biólogos nos Estados Unidos, que dá fôlego novo à velha polêmica sobre a relação entre o Homo sapiens e as formas arcaicas de seres humanos que conviveram com ele até 30 mil anos atrás.
A pesquisa, de autoria do francês Vincent Plagnol e do americano Jeffrey Wall, ambos da Universidade do Sul da Califórnia, está na última edição do periódico "PLoS Genetics" (www.plosgenetics.org), de acesso livre na internet. Os dados batem de frente com o que a genética costuma revelar sobre o parentesco entre humanos e neandertais, talvez por seguir outro caminho: enquanto as evidências de que não houve mistura entre as duas espécies costumam ser obtidas com o (pouco) DNA neandertal já estudado, a dupla vasculhou os genes de pessoas vivas hoje em busca de traços de um possível cruzamento.
A conclusão é que fica difícil explicar a variabilidade genética do Homo sapiens sem admitir que, no passado remoto, houve híbridos entre humanos modernos e neandertais na Europa (onde as duas humanidades se encontraram) e entre humanos modernos e outras formas arcaicas na África. E mais: a contribuição desses "primitivos" ao DNA humano estaria em torno dos 5%.
Linhagens sumidas
A polêmica ainda persiste, em grande parte, porque quase todo o DNA já extraído dos fósseis de neandertais (que habitaram a Europa e o Oriente Médio e se extinguiram há 30 mil anos) é de um tipo especial. Trata-se do mtDNA, o DNA das mitocôndrias, como são conhecidas as usinas de energia das células. O problema é que esse material genético só é passado de mãe para filha ou filho.
Por isso mesmo, as linhagens dele estão sujeitas a desaparecer com muita facilidade: basta que uma mulher só tenha filhos homens para que seu tipo específico de mtDNA suma da face da Terra. Há cientistas que argumentam que processos como esses teriam apagado o registro neandertal do mtDNA atual.
Plagnol e Wall, usando o DNA de americanos descendentes de europeus e de africanos da etnia iorubá (a mesma que introduziu o candomblé no Brasil), tentaram contornar essa limitação. Eles centraram sua análise em variantes do DNA que diferem numa única "letra" química da molécula (o DNA tem quatro dessas "letras", conhecidas como A, T, C e G). Essas alterações mínimas também são importantes para inferir a susceptibilidade de uma pessoa a doenças, entre outras coisas.
Foi aí que eles acharam uma coisa muito estranha: grupos dessas trocas de uma letra só parecem estar espalhados de forma associada pelo genoma inteiro (que tem nada menos que 3 bilhões de "letras"). Acontece que, em situações normais, as variantes deveriam ser separadas umas das outras por fenômenos como a recombinação, na qual pedaços de um cromossomo (a estrutura enovelada que contém o DNA) se engancham com pedaços de outro e vão parar nele.
Para que as variantes de uma "letra" só continuem tão juntas, só haveria duas opções: ou algum tipo de pressão do ambiente favoreceu os indivíduos cujo DNA as mantinha coladas, ou um evento de hibridização ocorreu --no qual genomas relativamente diferentes (como os de um H. sapiens e de um neandertal) se misturaram. Plagnol e Wall acham a primeira opção improvável --nenhuma pressão ambiental afetaria ao mesmo tempo tantas áreas do DNA, dizem eles.
Com modelos matemáticos, a dupla não só estimou o grau de mistura que produziria o padrão que encontraram como apontou, entre as variantes de uma letra só, quais seriam as candidatas a derivar de neandertais ou outros hominídeos.
A questão, por enquanto, continua em aberto --pelo menos até que se obtenham e analisem mais seqüências de DNA nuclear (ou seja, não o bom e velho mtDNA) de fósseis.
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Nas veias da humanidade moderna corre, muito provavelmente, uma quantidade pequena mas significativa de sangue neandertal. Essa é a principal e surpreendente conclusão de um estudo de biólogos nos Estados Unidos, que dá fôlego novo à velha polêmica sobre a relação entre o Homo sapiens e as formas arcaicas de seres humanos que conviveram com ele até 30 mil anos atrás.
Efe |
Imagens de esqueletos de um neandertal (à esq.) e de um ser humano moderno |
A conclusão é que fica difícil explicar a variabilidade genética do Homo sapiens sem admitir que, no passado remoto, houve híbridos entre humanos modernos e neandertais na Europa (onde as duas humanidades se encontraram) e entre humanos modernos e outras formas arcaicas na África. E mais: a contribuição desses "primitivos" ao DNA humano estaria em torno dos 5%.
Linhagens sumidas
A polêmica ainda persiste, em grande parte, porque quase todo o DNA já extraído dos fósseis de neandertais (que habitaram a Europa e o Oriente Médio e se extinguiram há 30 mil anos) é de um tipo especial. Trata-se do mtDNA, o DNA das mitocôndrias, como são conhecidas as usinas de energia das células. O problema é que esse material genético só é passado de mãe para filha ou filho.
Por isso mesmo, as linhagens dele estão sujeitas a desaparecer com muita facilidade: basta que uma mulher só tenha filhos homens para que seu tipo específico de mtDNA suma da face da Terra. Há cientistas que argumentam que processos como esses teriam apagado o registro neandertal do mtDNA atual.
Plagnol e Wall, usando o DNA de americanos descendentes de europeus e de africanos da etnia iorubá (a mesma que introduziu o candomblé no Brasil), tentaram contornar essa limitação. Eles centraram sua análise em variantes do DNA que diferem numa única "letra" química da molécula (o DNA tem quatro dessas "letras", conhecidas como A, T, C e G). Essas alterações mínimas também são importantes para inferir a susceptibilidade de uma pessoa a doenças, entre outras coisas.
Foi aí que eles acharam uma coisa muito estranha: grupos dessas trocas de uma letra só parecem estar espalhados de forma associada pelo genoma inteiro (que tem nada menos que 3 bilhões de "letras"). Acontece que, em situações normais, as variantes deveriam ser separadas umas das outras por fenômenos como a recombinação, na qual pedaços de um cromossomo (a estrutura enovelada que contém o DNA) se engancham com pedaços de outro e vão parar nele.
Para que as variantes de uma "letra" só continuem tão juntas, só haveria duas opções: ou algum tipo de pressão do ambiente favoreceu os indivíduos cujo DNA as mantinha coladas, ou um evento de hibridização ocorreu --no qual genomas relativamente diferentes (como os de um H. sapiens e de um neandertal) se misturaram. Plagnol e Wall acham a primeira opção improvável --nenhuma pressão ambiental afetaria ao mesmo tempo tantas áreas do DNA, dizem eles.
Com modelos matemáticos, a dupla não só estimou o grau de mistura que produziria o padrão que encontraram como apontou, entre as variantes de uma letra só, quais seriam as candidatas a derivar de neandertais ou outros hominídeos.
A questão, por enquanto, continua em aberto --pelo menos até que se obtenham e analisem mais seqüências de DNA nuclear (ou seja, não o bom e velho mtDNA) de fósseis.
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